Instituto do Emprego e Formação Profissional: “A educação permanente e a formação contínua são decisivas na redução do desemprego”
Se o desemprego jovem é uma realidade, a verdade é que as oportunidades estão aí para quem as souber encontrar e agarrar… Basta uma mente aberta a experienciar novas possibilidades profissionais, recolher informação de forma proativa e conhecer outros percursos viáveis!
Quem o afirma é Júlia Tomaz, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em entrevista, onde te elucida sobre as ferramentas necessárias para tomares uma decisão consciente e ajustada ao mercado de trabalho.
Com mais de 25 anos dedicados a projetos de transferência de conhecimento, e depois de um extenso percurso no IAPMEI, centrado na capacitação empresarial, a vice-presidência do Conselho Diretivo do IEFP é agora a sua nova casa. A que desafios pretende dar resposta?
Um grande desafio relaciona-se com a construção de soluções formativas flexíveis que potenciem a empregabilidade. Temos atualmente um mercado de trabalho exigente, a necessitar urgentemente de profissionais qualificados detentores de competências de alto valor, atualizadas e ajustadas às perspetivas de crescimento e de sustentabilidade das empresas. E para assegurarmos boas soluções temos que reavaliar estratégias, definir prioridades e fomentar um contínuo envolvimento de parceiros. Acompanhar a eficácia da transferência de saberes é outro foco de intervenção importante, com preocupação no ajustamento permanente dos programas formativos.
Importa igualmente contribuir para o desenho de iniciativas que proporcionem aos diferentes destinatários dos serviços do IEFP oportunidades para melhorarem as suas características individuais, tomando-os “empregáveis” em diferentes contextos profissionais, possibilitando uma integração a diferentes trajetos profissionais.
Entre a vocação do indivíduo e as necessidades do mercado de trabalho, onde está o equilíbrio?
O equilíbrio faz-se através de um processo de harmonização entre os interesses profissionais individuais e a demonstração por parte das empresas de que as suas ofertas de trabalho proporcionam oportunidades de crescimento e de flexibilidade, bem como a disponibilização de benefícios e incentivos atrativos.
É de sublinhar a importância de existir neste processo uma mente aberta a experienciar novas possibilidades profissionais, sendo que para isso é necessário recolher informação de forma proativa e de qualidade, conhecendo outros percursos viáveis e que podem constituir opções de realização pessoal e profissional. A vocação, principalmente em início de vida profissional, não está, na maioria dos casos, suficientemente amadurecida para presumirmos que apenas existe um determinado caminho possível. É essencial existir disponibilidade para a mudança e acolhimento a novos projetos, bem como recolher a informação que identifique as competências-chave das profissões, potenciando o aumento das perspetivas de emprego.
“Tanto a trajetória educativa como profissional vão ser dinâmicas ao longo do tempo, sendo fundamental a permanente atualização dos conhecimentos e a vigilância daquilo que o mercado de trabalho procura.”
Mas… Que ferramentas podem os jovens usufruir para tomar uma decisão informada na altura de escolher o seu trajeto superior?
Podem adotar diferentes estratégicas e acederem a ferramentas de diferentes serviços especializados. No entanto, gostaria de destacar que a escolha do trajeto no Ensino Superior faz parte de um caminho com muitas etapas. Caminho que vai permitir comprovar escolhas, confirmar ou não expectativas ou descobrir novos trajetos não previstos. A decisão tem de ser ponderada e informada, mas sem a considerar como definitiva. Tanto a trajetória educativa como profissional vão ser dinâmicas ao longo do tempo, sendo fundamental a permanente atualização dos conhecimentos e a vigilância daquilo que o mercado de trabalho procura.
Que dados possui o IEFP sobre as áreas e os cursos que atualmente garantem uma mais fácil colocação no seio empresarial?
O mercado de trabalho releva a formação de nível superior. As profissões atuais estão a mudar em ritmo acelerado e as empresas procuram um perfil de profissionais altamente qualificado. Não sendo à partida uma garantia de emprego, as habilitações de nível superior influenciam o interesse das empresas e a remuneração associada. Trata-se de uma equação influenciada por diferentes dimensões, como a área dos estudos superiores e o perfil de competências transversais detidas por quem procura emprego.
Tendo por base dados relativos do IEFP, verifica-se uma maior dificuldade em dar resposta a pessoas inscritas com formação nas áreas de Humanidades e Ciências Sociais. Nestes casos, por vezes, torna-se necessário promover a sua reconversão profissional para conseguir a sua colocação.
Outra escolha a considerar para uma integração eficaz no mercado de trabalho passa por apostar em cursos de nível não superior que pelo seu pendor técnico especializado respondem a necessidades prementes de muitas empresas. É necessário informar os jovens dos diferentes cenários de qualificação, considerando que existem inúmeros caminhos ajustados às suas características individuais ou vocações, e que os caminhos podem ser combinados. A educação permanente e a formação contínua são decisivas na redução do desemprego, ajudando a combater a exclusão social e a criar igualdade de oportunidades.
“Apoiamos públicos com perfis muito distintos e procuramos estabelecer o equilíbrio possível entre as características e expectativas individuais e as necessidades ou exigências do mercado de trabalho.”
A par da massiva utilização das novas tecnologias, de que forma o Instituto do Emprego e Formação Profissional potencializa formações direcionadas às necessidades crescentes de especialização?
Sendo crítica a área digital, o IEFP desenvolve programas de formação que apoiam não só o aumento da literacia digital de forma abrangente, procurando a inclusão de quem ainda não detêm o essencial, como implementa projetos de elevado pendor técnico especializado, em estreita relação com as necessidades identificadas pelas empresas. A título de exemplo, refiro o Programa UP Skills – Digital Skills and Jobs, que visa qualificar pessoas em situação de desemprego ou subemprego para a área das Tecnologias Digitais. Resulta de uma colaboração estreita entre o Estado (IEFP), Instituições de Ensino Superior e Empresas (representadas pela APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações), sendo assumido o compromisso de contratar 80% dos formandos que concluem a formação com aproveitamento. Mas existem outras áreas com necessidades crescentes de especialização técnica que procuramos dar respostas formativas adequadas, como a área da Saúde ou da Energia.
As soft skills são cada vez mais valorizadas pelas entidades empregadoras. Como podem os formandos aprimorar as suas aptidões e competências socioprofissionais?
Todo aquele que não investir na aprendizagem ao longo da vida será, com grande probabilidade, confrontado com um desajuste das suas capacidades face à exigência e à complexidade dos empregos emergentes. Ter a capacidade de aprender de forma contínua e de se adaptar à mudança são essenciais no mundo do trabalho.
De facto, cada vez mais as empresas valorizam profissionais que se distinguem pelas suas soft skills, pois são elas que permitem desempenhos diferenciados e passíveis de transferência para contextos profissionais diversos. Estas competências comportamentais, combinadas com as competências técnicas, garantem uma melhor integração no mercado de trabalho, como a capacidade crítica, a resolução de problemas, o trabalho de equipa, a tomada de decisão e o relacionamento interpessoal.
O IEFP posiciona-se como um aliado na procura de emprego. Que contributo detém o organismo no apoio e na preparação para as exigências e volatilidade do mercado de trabalho?
Apoiamos públicos com perfis muito distintos e procuramos estabelecer o equilíbrio possível entre as características e expectativas individuais e as necessidades ou exigências do mercado de trabalho, o que constitui um grande desafio.
As competências necessárias nos empregos do futuro serão seguramente distintas das requeridas no passado. Assiste-se a uma crescente automação das atividades profissionais em contextos de escassez de trabalhadores e a criação de novos postos de trabalho com tarefas de alto valor, sendo imprescindível apostar na requalificação e na atração do talento. Com as rápidas mudanças a que assistimos, muito influenciadas pela evolução tecnológica, torna-se evidente que o acesso ao trabalho exige a incorporação de diferentes saberes, apostando no constante reforço de competências. Neste sentido, o IEFP tem diferentes intervenções, sempre com o objetivo de promover o acesso sustentável ao mercado de trabalho, nomeadamente, a assistência associada à procura ativa de emprego, a prestação de informação e o apoio à criação do seu próprio negócio.