“Stop Discriminação”: O projeto que desconcerta mas constrói!
Em 2022, a Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial recebeu 491 queixas de práticas discriminatórias relacionadas com a nacionalidade, a cor da pele e a origem racial étnica, agravando, assim, a segregação, a insegurança e a exclusão social em Portugal.
O projeto pedagógico “Stop Discriminação”, com parceria do Conselho Português para os Refugiados (CPR), é a mais recente aposta do músico e vocalista dos HMB, Héber Marques, que envereda, agora, no mundo escolar e educativo, a convite da empresa Betweien, visando dotar e capacitar @s jovens de ferramentas de diagnóstico e prevenção de atitudes e comportamentos intolerantes e preconceituosos, através da leitura, da música e do teatro.
Contudo, o artista confessa, em entrevista, que mais do que oferecer respostas, é imperativo levantar questões, para que se atinja o progresso e, claro… A união!
Após uma visita atenta às tuas redes sociais, deparámo-nos com a seguinte mensagem: “Tendo em conta que o mundo tecnológico nos aproximou, devemos dar passos concretos e assertivos de cooperação e celebração das diferenças que existem entre povos e etnias”. O livro “Stop Discriminação” surge da necessidade urgente de colmatar o “fosso que nos separa”?
Haverão sempre necessidades que precisam de ser colmatadas. A urgência incomodará a consciência de quem estiver disposto a colaborar para que haja mais respeito, diálogo e ações que marquem pela positiva.
Direcionado aos alunos do 3º ciclo de escolaridade do Ensino Básico e Ensino Secundário, trabalhar para o universo pedagógico detém em si uma grande responsabilidade. Que exigências são colocadas?
São as verdadeiras mentes em construção. São uma acendalha social comportamental. Começando nas turmas, casas e núcleos de amigos. Podem incentivar à propagação de contra- -narrativas, descontração de mitos e promoção de consideração e tolerância pelo diferente. O grande desafio é ter a coragem e a paciência de executar esta tarefa de forma humilde e pacífica.
As Migrações, o Interculturalismo e o Discurso de Ódio são as temáticas exploradas nos diferentes capítulos. Qual é o ângulo empregue em cada história?
É sempre um ângulo de desconstrução, narrando histórias que visam exemplificar e desmistificar os preconceitos que muitas pessoas ainda têm sobre os imigrantes como: “os imigrantes vêm para a nossa terra roubar o trabalho dos portugueses”. Preconceitos que fazem parte do imaginário da sociedade. É preciso ajudá-las a entender que este tipo de crenças não correspondem de todo à verdade.
“Queremos pensar juntos. Queremos apresentar a narrativa que nos parece correta. Mas, mais que isso… Queremos que parta da Geração Z a responsabilidade de proporcionar, nos seus espaços comuns, ambientes mais saudáveis.“
O projeto compreende três narrativas ficcionadas e a sua adaptação ao teatro, bem como temas originais musicados. Que papel ganha a arte na educação?
Toda a boa arte não deseja carregar a incumbência de dar lições de moral. Sendo bem feita, pode levar o recetor a refletir sem que este se sinta atacado. Talvez se deva ao facto de mexer com as emoções, acabando por falar ao coração antes de falar à razão. É um veículo perfeito de educação.
A inspiração que conduziu à criação dos diversos elementos que compõem o “Stop Discriminação” nasceu do teu exercício observacional ou possui um cariz autobiográfico?
Surgiu de um desafio que me foi proposto e sobre o qual ponderei, mas que percebi que tinha toda a legitimidade para falar dos assuntos. Sendo eu um filho, neto, sobrinho e primo de imigrantes, entendi que a minha voz podia ser útil.
Consideras que a veia inclusiva e o abraço à diversidade são componentes que definem a tua identidade enquanto artista?
A minha identidade artística está impregnada de diversidade cultural. Quando me deixo expressar livremente, o que sai é uma mistura de todos os povos que compõem o meu ADN, interligada com a admiração que trago dos outros que, não sendo meus no sangue, são no coração.
Até chegares, finalmente, à versão final das canções, como foi o processo de criação e composição à guitarra?
Foi surpreendentemente rápido. Não estava à espera. Talvez por se tratarem de temáticas que nunca abordei mas que me são tão próximas e familiares. Cheguei a ser espectador de mim mesmo. É um privilégio raro conseguir criar e usufruir da criação em simultâneo. É sinal de que o que se está a elaborar, está certo.
Existindo “mais para fazer e melhor para ser”, que respostas são fornecidas para combater as adversidades do universo complexo da discriminação?
Ainda que o projeto possua um viés educativo, mais do que dar respostas, queremos levantar questões. Queremos pensar juntos. Queremos apresentar a narrativa que nos parece correta. Mas, mais que isso… Queremos que parta da Geração Z a responsabilidade de proporcionar, nos seus espaços comuns, ambientes mais saudáveis.
Os dados mais recentes do European Social Survey revelam que os portugueses apresentam elevados níveis de crenças racistas. Qual é o legado que ambicionas que o “Stop Discriminação” produza na sociedade?
Onde há humanidade existe imperfeição, podendo haver também cooperação e progresso. Se este livro conduzir pelo menos uma pessoa a querer ser positivamente mais intencional nas suas interações com os outros, já cumpriu a sua missão. Mas, francamente, espero que ajude muitas mais.