Entrevista: Como lidar com as incertezas do futuro?
De certeza que muitas vezes te deparas com inúmeras questões quanto ao teu futuro, às escolhas que tens de fazer e às indecisões que sentes quanto às tuas capacidades para decidir sobre o teu percurso. Fica sabendo, desde já, que não estás sozinh@ e que as tuas dúvidas e anseios são naturais e a melhor parte é que podem ser ultrapassadas! Como?
Para te podermos ajudar, fomos consultar a Drª. Tânia Encarnação, psicóloga clínica. Vem connosco e começa esta viagem até ao futuro de forma saudável e feliz.
Diz-se, muitas vezes, que o importante é viver o presente e não passar demasiado tempo no passado ou no futuro, mas quando somos jovens e precisamos de fazer escolhas, precisamos de viajar para o futuro. Como é que esta viagem pode ser feita de forma saudável e sem alimentar um nível de ansiedade pouco desejável?
Para iniciar essa viagem de forma saudável, os jovens necessitam de alguns pressupostos base como: a segurança nas suas capacidades e adaptabilidade às circunstâncias da vida. Isto permite que possam perseguir os seus sonhos com níveis de ansiedade normativos e sem medo de eventuais falhas ou obstáculos que possam surgir pelo caminho.
O futuro foi sempre um lugar incerto, mas no tempo dos nossos pais e avós, era mais previsível. Agora tudo muda de ano para a ano, a uma velocidade incrível e torna-se difícil fazer previsões. Como é que devemos olhar e pensar estas mudanças constantes e estas incertezas?
Não ganhamos nada em olhar para o passado com o saudosismo que tão bem conhecemos de que “naqueles tempos é que era bom”. Isso acaba por gerar sentimentos depressivos, pois não é possível voltar ao passado. É certo que a imprevisibilidade dos nossos tempos atuais pode gerar ansiedade. Contudo é urgente lembrarmo-nos de que não podemos controlar tudo e que o ser humano tem uma característica fantástica chamada resiliência. É essa resiliência que nos vai permitir adaptarmo-nos a circunstâncias difíceis ou indesejáveis e superarmo-nos.
“Nem todos os nossos jovens têm de sentir a ansiedade como algo incapacitante, alguns podem olhá-la com a excitabilidade de quem começa a preparar-se para a vida adulta com as inúmeras opções que nela se apresentam.”
Qual o impacto desta instabilidade e ausência de previsibilidade, face ao futuro, no estado emocional dos jovens?
De acordo com o que tenho observado na minha experiência clínica, muitos dos nossos jovens acabam por desenvolver quadros de ansiedade, uma vez que, como já foi referido, não podemos prever nem controlar tudo o que vai acontecer no futuro. Contudo considero importante sublinhar que este impacto não será igual para todos e depende de vários fatores. Nem todos os nossos jovens têm de sentir a ansiedade como algo incapacitante, alguns podem olhá-la com a excitabilidade de quem começa a preparar-se para a vida adulta com as inúmeras opções que nela se apresentam.
Sabendo que não controlamos o que ainda não aconteceu, como é que que os jovens no seu processo de formação e emancipação, podem preparar-se para uma realidade que desconhecem?
É importante que lhes seja permitido terem experiências diferentes, viverem. Quando as bases estão bem enraizadas e as ferramentas psicológicas são suficientes, temos jovens autónomos que vão fazendo as suas próprias experiências de vida e aprendendo com elas, o que os vai preparando para a realidade da vida adulta.
Para um jovem que se sinta perdido num leque de informação tão vasto e sem sentir que tem uma aptidão clara para uma área específica, o que é que este deve fazer para escolher a área de formação ou o curso no ensino superior?
Tenho observado essa situação frequentemente. Todos os nossos jovens têm aptidão para alguma coisa, o que acontece é que muitas vezes não acreditam nisso. A nossa realidade atual tenta forçar-nos a tomar decisões rápidas, a não perder tempo, mas o tempo que dedicamos a sentir e perceber o que queremos para a nossa vida, não é tempo perdido. Devemos orientar os nossos jovens para que eles encontrem o seu caminho ao reforçar as suas capacidades e dentro do possível permitir-lhes experiências que os ajudem a decidir qual o caminho que eles (e não nós) querem seguir.
Como é que se pode ajudar estes jovens a tomar decisões tão importantes para o seu futuro?
Sem esquecer que não são decisivas nem irreversíveis. Lembrando-os que eles podem ser tudo aquilo que eles quiserem. Reforçando as suas capacidades e incentivando-os a seguirem os seus sonhos. Ajudando-os a acreditar que com trabalho e dedicação conseguem expandir as suas capacidades e alcançar os seus objetivos. E se um dia esses mesmos objetivos deixarem de fazer sentido, haverá sempre algum outro caminho a seguir, e isso não é uma perda nem uma falha, é um enriquecimento das nossas experiências de vida enquanto seres humanos.