Há alguma coisa que te arrependas de ter dito em televisão?
Mil e nenhuma, porque já não me lembro de nada. Quando comecei, ainda não ficávamos eternizados na internet, o que foi um privilégio. Acho cruel ser crucificado durante décadas por uma coisa que disse às 4 da tarde num programa cujo tema podia ser “Praia ou Campo? Cebolas!”. Se por um lado é maravilhoso que pensemos seriamente sobre o que queremos dizer, o excesso de vigilância roça a censura, temos de ter cuidado para não virarmos o barco.
Já tiveste várias experiências profissionais todas elas muito diferentes, como vives o encerrar de cada projeto e como é que te preparas para um novo projeto profissional?
Queimo fotografias no jardim. Estou a brincar. Tento arranjar espaço para voltar ao zero. Fechar mais uma temporada da Avenida Q em pico de pandemia foi surreal, mas acho que devido ao contexto, fomos tão felizes a trabalhar que jamais será parecido. É preciso fazer um luto rápido e depois convocar energia para a nova fase. Gosto muito de ter uma vida profissional que nunca é igual.
De que forma da tua perspetiva e experiência, a rádio, a televisão e o cinema/teatro se complementam enquanto meios de comunicação e expressão?
São todas maneiras diferentes de contar histórias e de pensar no colectivo. Aquilo que a que me proponho fazer em todos esses meios é tentar ser genuíno e pouco construído. Procurar aquilo que para mim é a verdade e transmiti-la. Acho que esse é o meu propósito na vida: contar histórias ou ajudar a que outros as contem.
Sentes que o teu sucesso e popularidade foram crescendo de forma gradual, ou em algum momento sentiste que houve um ‘boom’?
Foi uma evolução sustentada. O problema não é aparecer e gerar interesse. A dificuldade é manteres-te interessado e relevante. Trabalho há 12 anos e já me cruzei com muita gente, não “chegay” à festa ontem. Falando em gay, acho que com o meu coming out, em 2016, muita gente reparou e começou a estar mais atenta. Não ficam todxs depois do fogo de artifício do social media desaparecer, mas os que ficam, acho que já sabem quem sou e o que defendo. E vão seguindo o que produzo noutros meios.