10 – O papel dos professores é agora mais valorizado pelos pais, depois destes terem assumido um papel de educadores a tempo inteiro?
Para alguns pais foi uma lição. Principalmente, para os que nunca compreenderam a nossa profissão e com a pandemia despertaram, também alguns políticos para a complexidade que é ser professor. Ser docente é uma profissão de excelência, com um grau de exigência enorme, cuja preparação vai muito além da formação científica que é realizada nas universidades.
A pandemia fez emergir igualmente a importância da docência, com maior expressividade nos dias de hoje. Penso que todos o reconhecemos e, pelo facto, deveria ter um impacto nas medidas e apoios da tutela. Esta é uma profissão com futuro, e com uma significância vital para a sociedade. Não basta dizer que se valoriza, é preciso mostrá-lo.
10 – Na sua opinião este distanciamento que agora se pratica no ensino e na sociedade em geral, pode afastar os alunos do ensino e potenciar o abandono escolar?
Pode potenciar a taxa de abandono escolar, e as escolas facilmente podem perder do radar esses alunos. Contudo, agora mais do que em março do ano passado estamos muito atentos e mais assertivos a atuar para que nenhum desista da escola e da sua formação.
Há que se ter em conta o facto de os alunos poderem possuir computador, e um saudável ambiente familiar, mas não se encontrem a assistir às aulas, não contactem ou interajam com o(s) professor(es), não façam ou entreguem os trabalhos… o que é entendível também como abandono escolar. Os profissionais do Serviço de Psicologia e Orientação, na maioria dos casos, vão a casa desse aluno para perceber o que se está a passar e avaliarem cada situação em concreto. Se se verificar necessário, far-se-á, de imediato, a devida sinalização à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.
11 – As crianças por estarem em crescimento serão particularmente afetadas por todas estas alterações à nossa forma de estar atualmente. Qual o impacto que estes anos de pandemia terão a médio longo prazo no desenvolvimento intelectual dos alunos?
Como referi anteriormente, a escola é um elevador social que agora se move muito mais devagar, e para alguns desce bastante rápido. Nos próximos tempos, precisamos de realizar, recuperar e consolidar aprendizagens, e, para isso, serão necessários mais professores nas escolas, o que implica da parte da tutela um maior investimento. Esta recuperação não é algo que deverá acontecer para o ano apenas, mas sim ao longo dos próximos anos. O ensino à distância pode deixar sequelas nas aprendizagens dos alunos, revelando-se estas deficitárias e diminutas, em resultado de um ensino muito redutor.
O trabalho ao nível das aprendizagens já estava a ser feito, e terá continuidade assim que os alunos regressarem à escola, em segurança e com saúde. É muito importante que os professores e técnicos atuem também no âmbito da saúde mental das nossas crianças e jovens, é que os acolham e se lhes explique o que se está a passar, e também o que se espera ou decorrerá dali em diante. Em setembro, muitas escolas e professores investiram tempo precisamente a clarificar as dúvidas dos seus alunos, preocupados com o que está a acontecer no mundo, e só depois avançaram para as aprendizagens. Penso que esta foi uma atitude muito positiva e inteligente. Acima da Educação está a Saúde, em todas as suas vertentes. As escolas devem acautelar junto dos seus discentes as aprendizagens transversais, na sua dimensão mais humana e social, que neste momento se modificaram, devido à necessidade de manter o distanciamento social na preservação da Vida.
… e para qd preparar a avaliação destes professores? Todo o modelo de avaliação docente está descontextualizada…. estes profissionais não podem ser prejudicados na sua carreira por razões q lhe são adversas… já nem falo em reconhecimento!!