3- O material informático e acesso à internet são a principal dificuldade e obstáculo para muitos alunos e professores. Sabemos que foi feito um investimento, mas ainda não chega. Como é que as escolas e os agrupamentos estão a lidar com esta dificuldade?
Esse é um grande problema deste sistema de ensino. As escolas, as autarquias, as associações de pais e a sociedade civil têm ajudado a colmatar esta lacuna. Há alunos que têm telemóveis com características que lhes possibilitam assistir às aulas, e os restantes podem ir para a escola ter as aulas online, utilizando os computadores aí existentes, embora o ideal seja ficar em casa. Esta é uma forma de não prejudicar estes alunos por não terem o material digital necessário. Uma outra ajuda veio das autarquias – que também é exemplo Vila Nova de Gaia, que requisitam o serviço de um estafeta, que vai às escolas levantar material e exercícios em suporte de papel, enviados pelos professores, entregando-os em casa dos alunos referenciados. Na semana seguinte, recolhe-os e estes são digitalizados na escola e enviados para os professores corrigirem. Foi uma estratégia alternativa para resolver um problema da responsabilidade do Ministério da Educação.
4- A pandemia fez emergir estas desigualdades sociais e económicas?
Com certeza que sim. Aliás os discursos, mesmo os políticos, neste momento centram-se no acesso ao computador e aos meios digitais, como se isso fosse a panaceia para os problemas causados pela pandemia nas escolas, e isso não é a realidade. O problema não se resolve dotando os alunos de computadores, esta é uma parte de um problema maior. De que vale ter o melhor computador do mundo, se os alunos nas suas casas não tiverem um ambiente adequado às suas necessidades, uma mesa ou um local de estudo apropriado, ou as refeições quentes que na escola lhes são garantidas? Este é um aluno motivado para aprender? Nestas situações, o material digital não tem qualquer impacto nas condições de estudo e de aprendizagem das crianças, não se podendo ignorar que as desigualdades vão muito além do acesso ao computador e internet. Repito, esta é só uma parte do problema.
Diz-se que a escola é um elevador social. É um facto! Contudo, com o ensino à distância, este elevador move-se de forma lenta e inconsistente para todos os alunos, sem exceção. Ascende para os alunos com um bom ambiente familiar, mas desce, e muito, para os alunos que não vivem num ambiente positivo e motivador. O ensino à distância prejudica muito estes alunos.
5- Muitas escolas e agrupamentos defenderam o ensino misto, com os alunos a irem à escola intercaladamente. Na sua opinião este poderia ter sido um caminho alternativo ao ensino à distância ou representaria um esforço adicional por parte dos professores?
No 3.º período do ano letivo transato, foi elaborado um plano que prevê o ensino presencial, mistoe não presencial. No arranque do atual ano letivo e em particular no 2.º período, alguns diretores foram contra um ensino misto, apesar de as escolas estarem preparadas para o implementar. Foi opção do governo não avançar com esse plano, elegendo o presencial ou não presencial. Ainda não esteve em ponderação o ensino misto, complexo e muito trabalhoso, tal como o atual está a ser, e certamente que, se fosse a opção escolhida, os professores fariam esse esforço. É certo que algumas escolas pediram o regime misto, e estavam preparadas para colocá-lo em prática, mas não houve essa intenção ou autorização da parte do governo.
… e para qd preparar a avaliação destes professores? Todo o modelo de avaliação docente está descontextualizada…. estes profissionais não podem ser prejudicados na sua carreira por razões q lhe são adversas… já nem falo em reconhecimento!!