4. No âmbito do Ensino Profissional em Portugal, existem oportunidades de mobilidade europeia. Em que contexto surgem essas oportunidades e quais são as mais valias para os alunos/formandos ao terem uma experiência além-fronteiras?
Mais uma vez, o Ensino Profissional surpreende. Se virmos com atenção as escolas que participam no programa Erasmus + e antigamente no Erasmus, existem muitas escolas profissionais a participar, e participam nos programas de mobilidade e programas de estágio, regra geral, participam em todas as valências. Hoje há muitas escolas profissionais no programa Ação-Chave 1 (KA1), mobilidade tradicional, e também no Ação-Chave 2 (KA2) com parcerias estratégicas, ou seja, há muita preocupação por trabalhar a questão da investigação, ter práticas pedagógicas comuns e haver esta partilha. Este, julgo eu, é o resultado a nível europeu, de existir uma associação muito forte de escolas profissionais. Nesse sentido, serão um número muito residual de escolas que não participam no programa Erasmus +, por isso sem dúvida que as mais-valias são incontáveis e reconhecidas por todos.
5. Sente que há um fosso entre os Cursos Científico-Humanísticos e os Cursos Profissionais?
Sim, e não deveria haver. Essa é uma das grandes críticas que a OCDE faz ao nosso sistema educativo. Os dois deveriam trabalhar de forma cruzada, o aluno do Científico-Humanístico deveria ir ao ensino profissional e vice-versa. Os percursos deveriam ser cruzados e não alternativos. Neste aspeto, é responsabilidade do Governo criar o quadro legal que permita este cruzamento. Está escrito na OCDE e em vários outros organismos internacionais, que esta situação deve acontecer em todos os Estados-Membros e, em Portugal isto não acontece porque ainda não está previsto na lei.
6. Durante a Formação Profissional, quais as competências humanas, sociais e profissionais, que os alunos/formandos adquirem e que tornam esta, uma experiência enriquecedora e, uma mais valia?
O facto de se trabalhar maioritariamente em projeto, promove que o aluno/formando trabalhe automaticamente em equipa desde o 1º ano, ou seja, obriga-o a estabelecer ligações interpessoais. Nos cursos Científico-Humanísticos, atualmente e depois do Processo de Bolonha, esta é uma competência que também já é trabalhada, nomeadamente depois da criação de projetos de Autonomia e Flexibilidade Curricular, contudo era algo que não existia até então, mas foi consolidado.
Por outro lado, o Ensino Profissional é construído à volta do aluno, ele passa a sua formação a construir a sua PAP (Prova de Aptidão Profissional) que se realiza no final do 3º ano, sempre com o apoio do seu orientador. Nos estágios que realiza ao longo da sua formação, é acompanhado pelo orientador da empresa onde realiza o estágio, e tem ainda o apoio do orientador da escola que frequenta. Desenvolve ainda os seus estágios dentro das empresas, em contacto com um ambiente profissional e as pessoas que trabalham na empresa. O contacto que estes jovens têm, com tantas pessoas, e nos mais diferentes meios, torna-os pessoas mais enriquecidas e mais preparadas para enfrentar o mundo profissional.
É devido a todo este enriquecimento pessoal e profissional que a OCDE e a UNESCO estabeleceram que os alunos dos Cursos Científico-Humanísticos têm obrigatoriamente de ter
uma experiência nos Cursos Profissionais. O que acontece hoje em dia é que existe um enorme fosso, entre o aluno que chega ao Ensino Superior por via dos Cursos Profissionais, comparativamente aos restantes. Um aluno do Ensino Profissional está mais orientado e capacitado para apresentar um trabalho, desenvolver um projeto, elaborar um relatório, são desenvolvidas competências mais práticas e que serão úteis ao longo da sua vida.