A investigação é da Universidade de Aveiro: os desenhos, pinturas, fotos, pósteres e outras imagens e objetos expostos nas paredes das salas de aula podem perturbar a atenção e a memória dos estudantes e, consequentemente, a aprendizagem na escola.
Este estudo, dos psicólogos Pedro Rodrigues e Josefa Pandeirada (do Departamento de Educação e Psicologia do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade de Aveiro) foi publicado no Journal of Experimental Child Psychology e envolveu um grupo de 64 crianças, com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos, de várias escolas do concelho de Aveiro.
Cada criança teve de responder, individualmente, a um conjunto de quatro tarefas. Através das respostas, os investigadores avaliaram processos cognitivos básicos como a atenção e a memória, subjacentes às mais variadas atividades que os participantes enfrentam no seu dia-a-dia, nomeadamente na escola.
Cada criança participou em duas sessões experimentais, com intervalo entre elas de 14-21 dias. Numa das sessões, foram sentadas perante uma mesa onde responderam às tarefas, sendo rodeadas por um conjunto de 24 imagens que lhes eram apelativas, distribuídas numa plataforma branca. Na outra, estavam sentadas perante a mesma mesa (onde desenvolveram as mesmas tarefas), mas desta vez foram expostas à plataforma de cor branca sem qualquer elemento visual exposto.
Os resultados? Menos é mais
Segundo os resultados, o desempenho das crianças nas tarefas cognitivas foi significativamente melhor quando estas foram realizadas no ambiente de baixa carga visual (plataforma sem elementos visuais). Assim, de acordo com os investigadores, “as crianças tiveram melhor performance nas duas tarefas de memória e mais respostas corretas nas duas tarefas de atenção quando estavam expostas à plataforma livre de elementos distratores”.
16Tendo em conta estes resultados, os autores do trabalho sugerem que “este ambiente terá sido mais distrativo para as crianças em relação ao ambiente isento de elementos visuais”.
O estudo ainda não permite avançar com implicações diretas no âmbito escolar, “uma vez que os elementos visuais apresentados no ambiente de alta carga visual foram de natureza diversa e não exclusivamente sobre conteúdos escolares, como é mais típico na sala de aula”. Apesar disso, Pedro Rodrigues adianta que, “uma vez que as tarefas utilizadas avaliaram processos cognitivos subjacentes à aprendizagem, os dados sugerem que a presença de determinados elementos visuais nas salas de aula poderá constituir-se como fonte de distração e prejudicar a aprendizagem das crianças”.
“Há ainda muito trabalho a fazer até chegarmos ao ponto de podermos fazer recomendações devidamente fundamentadas sobre quais as condições ambientais que propiciam uma aprendizagem mais eficaz por parte das crianças, mas este é seguramente um primeiro passo muito importante”, esclarecem os investigadores.
Este projeto foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e teve como instituições de acolhimento o CINTESIS, o DEP da UA e o Instituto Biomédico de Investigação da Luz e da Imagem (IBILI) da Universidade de Coimbra.
[Foto: UA]