Impressoras 3D, kits de construção e robótica, mesas e painéis interativos, tablets, smartphones e óculos de realidade virtual. Um dia, todas as salas de aula vão ter estas ferramentas ao teu dispor para te ajudar a aprender, e na Madeira o futuro está prestes a acontecer. Falámos com um dos responsáveis sobre o projeto que vai transportar toda esta tecnologia para as escolas básicas e secundárias da região.
Ambientes Inovadores de Aprendizagem. O que são?
Tratam-se de laboratórios, verdadeiros espaços de inovação e tecnologia, para professores e alunos. São, por isso mesmo, propícios à utilização de novas metodologias, e têm como objetivo principal ajudar na reorganização das salas de aula para tornar o ensino menos convencional, e dar ao aluno um papel central e ativo na construção do seu processo de aprendizagem.
O coordenador da equipa dos Ambientes Inovadores de Aprendizagem na Região Autónoma da Madeira, Luís Gaspar, explicou-nos que eles têm por base a “Sala de Aula do Futuro, criada pela European Schoolnet com o apoio de 30 Ministérios da Educação e parceiros da indústria especializada”, e que desafia alunos e professores “a repensar o papel da pedagogia e da tecnologia” nas salas de aula.
Estas Salas são constituídas por seis áreas específicas de aprendizagem – Criar, Interagir, Apresentar, Investigar, Partilhar e Desenvolver – e cada uma destas áreas é composta por equipamentos e tecnologias específicas que possibilitam novas formas de ensinar e de aprender.
O que muda na aprendizagem?
A inovação da Sala de Aula do Futuro é, de acordo com Luís Gaspar, “uma excelente forma de motivação para os alunos”. E explica porquê: “Vai permitir que possam explorar, discutir e experimentar os mais variados conceitos ou conteúdos, de forma prática e acima de tudo divertida.”
Para que isso aconteça, a metodologia tradicional de ensino “terá de mudar, transformar ou adaptar”, e as salas de aula terão de ser “reorganizadas e orientadas para o trabalho prático, de discussão e de partilha”, de acordo com este especialista.
E o que muda para os professores? Luís Gaspar defende que deixarão de ter um papel “maioritariamente expositivo e tornar-se-ão guias, orientando a aquisição dos conhecimentos dos seus alunos”. Terão também de ser “extremamente participativos e centrados nas atividades dos seus alunos” e “fomentar o espírito crítico”, conclui.
O que ganham os alunos?
Na prática, o que é que os Ambientes Inovadores de Aprendizagem acrescentam à tua formação escolar? Como é que eles podem permitir que saias da sala de aula melhor preparado para o futuro?
O coordenador do projeto lembra que a principal preocupação da escola “é cada vez mais preparar os nossos jovens para enfrentarem os desafios de uma sociedade que se baseia na utilização da tecnologia e na partilha de informação – em resumo, uma sociedade digital.” A prova disso é que, de acordo com a Agência Digital para a Europa, em 2020 serão necessários mais de 900 mil profissionais nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, e cada vez mais qualquer empresa pede, como pré-requisito contratual, conhecimentos e valências nesta área.
Luís Gaspar defende que os Ambientes Inovadores de Aprendizagem “irão desenvolver nos nossos alunos o espírito crítico, o raciocínio lógico, a motivação emocional e o trabalho colaborativo e transversal a diversas áreas do currículo”. Ao mesmo tempo, prossegue, permitirá também aos alunos “desenvolver o pensamento computacional, transformando-os para que deixem de ser consumidores de tecnologia e passem a ser produtores com a tecnologia, preparando-os assim para a nova literacia digital”.
Os Ambientes Inovadores de Aprendizagem na Madeira
Enquanto coordenador do projeto na Região Autónoma da Madeira, Luís Gaspar explicou que a aposta passa por “criar uma sala num ponto estratégico e central, na cidade do Funchal, para que possa abranger de uma forma cómoda a grande maioria dos nossos professores e alunos”.
O projeto está neste momento em fase de execução, e a abertura oficial desta sala está prevista para o início do próximo ano letivo. A intenção, segundo nos contou este responsável, passa por “alargar depois o projeto para outras escolas nas zonas oeste e este da ilha”, para uma maior abrangência geográfica. Atualmente, são já 38 as escolas básicas e secundárias envolvidas.
Em simultâneo, a equipa responsável pela sua implementação vai apostar “numa forte divulgação” por forma a incentivar as escolas a, dentro da sua autonomia, transformar os seus espaços e a criar os seus Laboratórios de Ambientes Inovadores de Aprendizagem.
Quais são as ferramentas tecnológicas?
A cada uma das áreas que compõem estes Ambientes Inovadores de Aprendizagem correspondem um conjunto de ferramentas tecnológicas.
Na área Investigar, o objetivo é que os alunos sejam investigadores ativos e que desenvolvam o pensamento crítico, e para isso existirá um conjunto de kits e sensores que permitirão a recolha e a análise de dados. Haverá ainda impressoras 3D e kits de construção e robótica que vão permitir aos alunos ter a experiência de aprender fazendo.
Na área Criar, e para que os alunos possam produzir o seu próprio trabalho, existirá uma área Chroma Key e todo o material necessário para fotografia, vídeo e som.
Para as áreas Interagir, Apresentar e Partilhar, para além de um variado conjunto de software e aplicações, estarão disponíveis uma mesa interativa, um sistema de apresentação interativo e colaborativo, e um painel interativo, que permitirão aos alunos apresentar, partilhar e receber feedback de forma interativa e em grupo.
Na área Desenvolver pretende-se que os alunos trabalhem de forma independente, ao seu próprio ritmo, e para isso haverá tablets, smartphones e óculos de realidade virtual.
Finalmente, a totalidade das áreas que compõem os Ambientes Inovadores de Aprendizagem beneficiarão de um conjunto de mobiliário desenhado e construído para permitir uma maior mobilidade e conforto para o trabalho interativo em grupo.
E como é que os professores se vão adaptar?
A tecnologia está completamente instalada no nosso dia a dia, e evolui de forma tão rápida que aquilo que é hoje uma grande inovação amanhã deixará de o ser. Mas é necessário que todos nós nos consigamos adaptar a ela, e no ensino os professores têm a necessidade de conhecer estas novas ferramentas.
De acordo com Luís Gaspar, aqueles que são mais entusiastas ou que têm maior apetência para as novas tecnologias irão atualizar-se de “uma forma autodidata”, porém a grande maioria precisará de formação e de partilha de conhecimentos. É por isso que a Direção Regional de Educação, através da equipa dos Ambientes Inovadores de Aprendizagem e também do Gabinete de Modernização das Tecnologias Educativas, já começou “o trabalho de sensibilização, através de workshops, de encontros e de formação sobre estas novas ferramentas e novos conceitos”, assegura o coordenador da equipa dos Ambientes Inovadores de Aprendizagem na Região Autónoma da Madeira.
Este responsável diz mesmo que “o principal foco” durante o funcionamento da sala do futuro “será a formação dos professores no domínio da utilização de todas estas ferramentas”, e mais importante ainda, fazer formação que permita explorar “a construção de novos cenários de aprendizagem e o desenvolvimento de novas metodologias”.
O objetivo final, para Luís Gaspar, é que toda esta tecnologia “tenha utilidade” e não se limite a ser “um conjunto de gadgets engraçados”. Para isso é preciso que seja “aplicada com significado, e que seja uma mais-valia e inovação no processo de aprendizagem dos nossos alunos”.
Tecnologia para aproximar alunos e professores
Uma das grandes potencialidades deste projeto é aproximar os professores dos alunos e vice-versa. Quem o diz é o especialista Luís Gaspar, e sustenta que “por um lado, os alunos terão mais oportunidade de se expressar, de explorar, de experimentar e de criar com o acompanhamento mais próximo, participativo e direto do professor”. Por outro, lidar com as novas tecnologias “vai muitas vezes permitir aos professores aprender com os alunos e ganhar a capacidade de lidar com esta realidade com quem é, verdadeiramente, um nativo digital, a geração Z. Para ela, a tecnologia é vista não como uma dificuldade, mas sim como elemento integrante e essencial para o dia a dia”, conclui.
[Reportagem: Tiago Belim]
[Fotos: cedidas pelo entrevistado]