Mais do que esperares que o Ensino Superior te forme enquanto profissional, deves olhar para esta etapa como uma criadora de ferramentas que te vão ajudar a interpretar a sociedade e os desafios do futuro. Para André Coelho, especialista em Design, é assim que se encara o percurso universitário.
Nome: André Coelho
Empresa e Atividade: Diretor Criativo Associado na Saatchi & Saatchi Cape Town – África do Sul
Formação: Licenciatura em Design na Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR)
Que atividade(s) profissional(is) desempenha atualmente?
Hoje desempenho a função de Diretor Criativo Associado na Saatchi & Saatchi Cape Town – África do Sul. Trabalho com uma equipa talentosa que tive o privilégio de escolher e criamos campanhas globais para marcas como a Harley Davidson, a Cadbury, a Glenfiddich e a Voltaren.
Quando terminou a sua formação superior, imaginava ser o profissional que é hoje? Porquê?
Nunca pensei nisso, pensei sim naquilo que queria fazer e nos problemas que gostava de ajudar as pessoas a resolver. Hoje, 10 anos mais tarde, sinto que o caminho foi doloroso mas nem por isso menos gratificante. Sou formado em Design e esta é provavelmente a disciplina que melhor compreende o pensamento conceptual do objeto de comunicação. Luto todos os dias para ser relevante na resolução de problemas, e espero que a proposta de valor que agrego aos projetos seja diferenciadora e inovadora.
“Quando terminamos o curso superior devemos parar para pensar: Acabámos de investir 15, 18, 20 anos em formação académica, porque não investir mais algum tempo a perceber o ecossistema?”
De acordo com a sua experiência, o que é que é mais importante aproveitar/reter numa licenciatura, tendo em conta o profissional que se quer ser no futuro?
Mais do que técnicas, metodologias, processos ou qualquer outra coisa, a licenciatura ajudou-me a desenvolver competências que contribuem diariamente para o meu sucesso. Há coisas que não se aprendem numa escola qualquer, e depois de ter conhecido a ESAD.CR percebi que ela era diferente. Para além dos excelentes professores, do espaço e das oficinas/laboratórios, toda a cultura Esadiana permite-nos aprender que não estudamos para trabalhar, não trabalhamos para sobreviver e não sobrevivemos para não sofrer.
E o que é que é mais importante na transição da universidade para o mercado de trabalho?
A universidade e o “mercado” são paradigmas completamente diferentes. Mais importante que encontrar um emprego é encontrar o ecossistema a que queremos pertencer. Reforço a ideia de que o curso apenas nos “oferece” ferramentas e não um título. E quando terminamos o curso superior devemos parar para pensar: Acabámos de investir 15, 18, 20 anos em formação académica, porque não investir mais algum tempo a perceber o ecossistema? A nossa forma de pensar é o mais importante na entrada no mercado de trabalho. Na universidade, essa forma de pensar desafia-se, estimula-se, mas não se aprende.
E o que é que não se aprende no curso que o trabalho e a vida acabam por ensinar? O que vão os jovens encontrar no mundo profissional?
Sem dúvida que os principais desafios no mundo profissional são as relações interpessoais, a gestão de conflitos e de pensamentos, e as diferentes mentalidades. No Ensino Superior são cultivados o trabalho de grupo e as equipas multidisciplinares, mas no mundo real o nosso comportamento e atitudes, a disponibilidade para trabalhar verdadeiramente em grupo, e com grupos completamente diferentes de nós, são os grandes desafios.
Saber gerir as nossas expetativas e as daqueles que nos rodeiam não é nada fácil. Aprendemos a medir que energias devemos investir nos problemas, e principalmente a definir “o problema”.
Que conselhos pode dar aos jovens que estejam indecisos na escolha desta área de formação?
O principal conselho que posso dar aos jovens é para, em vez de escolherem o curso superior, escolherem o que querem ser quando forem grandes. Definam o que gostavam de ser enquanto pessoas, e depois que problemas gostariam de resolver dentro deste nosso ecossistema complexo e em constante transformação.
A principal função do Ensino Superior não é, nem deve ser, formar profissionais, mas sim fornecer ferramentas que nos ajudem a interpretar a sociedade e os diferentes desafios do futuro. Façam testes psicotécnicos para se conhecerem a vocês mesmos, e não para conhecerem que profissão vão desempenhar.
No futuro, cada um de nós terá diferentes funções, trabalhará em sítios completamente diferentes uns dos outros e o descritivo da nossa função no cartão de visita será substituído pela nossa proposta de valor.
[Foto: cedida pelo entrevistado]
Esta entrevista é parte integrante do Guia de Acesso ao Ensino Superior 2017/18 da Mais Educativa, disponível para consulta aqui.