Paulo Feliciano é Vice-Presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional e acredita que deves seguir o coração na hora de escolheres um curso superior, tendo como base as oportunidades que existem no mercado de trabalho. Mas tão ou mais importante será a tua capacidade de teres a mente aberta para uma carreira diversificada, e de apostares em ser diferente dos outros.
Qual deve ser a ordem de ideias de um jovem, na escolha de um curso superior?
Eu diria que, como em todas as nossas escolhas, a primeira etapa deve ser de autoconhecimento e de identificação das nossas preferências, daquilo que mais nos alicia e motiva, da área pela qual temos mais gosto. Esse deve ser o primeiro passo e o valor mais respeitado na escolha que fazemos. Para alguns, provavelmente já existe uma visão clara desta preferência; para outros, haverá ainda um percurso a fazer. E se esses objetivos de desenvolvimento profissional não forem totalmente evidentes, talvez seja boa ideia procurar algum tipo de aconselhamento e fazer algum trabalho de orientação escolar e profissional – através dos serviços de orientação vocacional das escolas e dos Centros Qualifica, por exemplo.
Num segundo plano, diria que faz sentido tentar perceber, no mercado de trabalho, quais são as oportunidades que atualmente se colocam, mas sem fazer disso um bicho de sete cabeças porque a vida profissional é relativamente longa e varia muito ao longo dos anos – e o que hoje parece não ter saída, amanhã pode representar exatamente o oposto.
Acha que não se deve olhar apenas para a questão da empregabilidade?
Acho que não, até porque, de facto, as coisas variam muito ao longo do tempo. Mas é evidente que tem de haver uma preocupação em encontrar emprego, e que esse objetivo obriga a olhar para o que se passa à nossa volta. É preciso procurar informação sobre as perspetivas de emprego e cruzá-la com as nossas preferências e objetivos individuais, tentando balancear esses dois mundos para fazermos uma escolha mais segura, que respeite a nossa vocação e que se encaixe no mercado de trabalho atual.
Estarão os jovens ajustados à ideia de terem várias profissões ao longo da vida? Ou ainda se agarram ao conceito de “emprego para a vida”?
Acredito que a procura de segurança no emprego ainda é socialmente muito valorizada. Mas julgo que a nova geração – menos por condição e mais por escolha – tem uma postura diferente perante o trabalho e dá valor a outras coisas. Dá valor à diversificação das experiências profissionais e do seu percurso, e por isso eu diria que não só está mais disponível como até procura estratégias de inserção profissional distintas.
Por isso, diria que a perspetiva de “emprego para a vida” não só não é tão valorizada, como os jovens acabam por procurar mais outras valências. O que não significa que pretendam uma inserção no mercado de trabalho que seja precária. Há mais abertura da parte dos nossos jovens, e isso é positivo.
Para além da área de formação, ao que estão o mercado de trabalho e as empresas atentos, atualmente?
De algum modo, acho que há algum princípio de estabilidade nas expetativas das empresas relativamente aos seus trabalhadores e aos jovens que pretendem integrar os seus quadros. Obviamente, a primeira preocupação das empresas tem a ver com a preparação técnica e profissional, e é normal que elas valorizem jovens que tenham qualificações ajustadas aos postos de trabalho que querem/vão ocupar. Depois, as empresas dão valor a quem tem competências mais transversais, ou seja, que têm a ver com a dimensão das atitudes, e que são uma peça chave na construção da empregabilidade.
Outros dos fatores aos quais as organizações estão atentas são a capacidade de compromisso, a responsabilidade, o trabalho em equipa e a iniciativa. Estas coisas são um lugar comum, mas são-no porque realmente importam. O nosso contacto com os empresários é frequente, sabemo-lo melhor que ninguém, e é importante que a formação profissional consiga não só desenvolver nos jovens as competências técnicas, como também estas de natureza mais transversal e que são sem dúvida importantes para a empregabilidade.
Como é que os jovens devem procurar distinguir-se de todos os outros futuros licenciados?
As estratégias de diferenciação não podem ser independentes do que lhe dizia há pouco, e que tem a ver com as preocupações dos empregadores. Julgo que, para além do investimento que devem fazer numa formação técnica de base que seja sólida, devem procurar fazer formações complementares e, ao longo do seu percurso, desenvolver aquilo a que chamamos de aprendizagem ao longo da vida e garantir uma melhoria contínua.
Depois, importa também desenvolver outras competências relevantes para o mercado de trabalho, não só para poderem aceder-lhe com sucesso, como também para que tenham uma trajetória profissional ascendente – a capacidade de serem proativos, procurarem contribuir para a empresa com mais do que o exercício estrito das suas funções, a iniciativa, a criatividade, o sentido de responsabilidade –, no fundo, tudo o que revele uma atitude de compromisso. Tudo isso contribuirá seguramente para se distinguirem dos demais e gozarem de reconhecimento adicional.
Claro que a tudo isto se soma a capacidade de construir uma carreira profissional rica, com experiências diferentes e acumulação de experiências também elas distintas. Para além disso, ainda, a possibilidade de realizar um desenvolvimento pessoal que vá para lá das suas profissões – através do voluntariado, da participação cívica e da cultura.
O Programa Garantia Jovem é a resposta do Governo às necessidades de emprego dos jovens licenciados?
Em primeiro lugar, importa dizer que o Programa Garantia Jovem é muito abrangente. A sua preocupação é garantir que todos os jovens entre os 15 e os 29 anos que não estejam a estudar nem a trabalhar tenham uma oportunidade. Dizendo isto já se percebe que nem sempre o emprego é a prioridade, e que este programa responde a um público muito diverso.
Felizmente, este grupo de jovens tem diminuído, fruto das estratégias de inserção e de formação profissional e também das oportunidades de emprego que têm sido criadas, mas existem ainda muitos jovens nesta condição – cerca de 200 mil – e metade deles ainda não se encontram registados nos centros de formação ou de emprego.
Gostaria também de aproveitar para fazer um apelo aos jovens, para que procurem os serviços públicos de emprego e se registem neles, para que possamos tentar encontrar uma oportunidade para eles.
E o que pode este Programa oferecer a quem já terminou a sua formação (de nível secundário ou superior)?
Para esses, procuramos mobilizar medidas de apoio à inserção profissional. Desde logo, temos o processo de ajustamento ao mercado de trabalho e às ofertas de emprego que disponibilizamos; mas temos também medidas específicas como os Estágios Profissionais ou a medida Contrato Emprego (de apoio à contratação), ou ainda os incentivos que damos ao empreendedorismo, possibilitando aos jovens criarem o seu próprio emprego através do apoio à criação de empresas, quer na área da economia privada, quer na área da economia social.
[Entrevista: Tiago Belim]
[Foto: IEFP]
Esta entrevista é parte integrante do Guia de Acesso ao Ensino Superior 2017/18 da Mais Educativa, disponível para consulta aqui.