São eles a tua paixão e, para além de seres um gamer, tens o sonho de tornar o teu ideal de jogo uma realidade? Estás com sorte: Há cada vez mais videojogos a serem criados em Portugal, e a oferta de cursos superiores está a aumentar. Falámos com o coordenador de uma dessas licenciaturas e explicamos-te como se faz um videojogo, como são as formações e quais são as oportunidades de trabalho!
Como se faz um videojogo?
Qualquer videojogo começa com aquilo a que se chama um Game Design Document, uma espécie de guião onde estão os níveis do jogo, as personagens e os mecanismos, o sistema de pontuação e as tarefas que é preciso executar. Depois há o storyboard, que recria as principais cenas do jogo para que todas as pessoas que o vão criar consigam ter uma representação fidedigna do que se pretende.
A partir daí, começa-se a trabalhar no aspeto gráfico. Os artistas criam os esboços das personagens, à semelhança do que acontece no cinema, e depois uniformiza-se tudo para que aquele jogo tenha a sua linha e a sua identidade.
E aqui entram por fim os programadores, para começar a construir os níveis – o chamado game design. Em simultâneo, os artistas vão estar a trabalhar na modelação das personagens e nas texturas.
Duarte Duque é Coordenador do curso de Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), e explica-te que este é, tipicamente, “um trabalho feito em equipa. As equipas de trabalho estão geralmente divididas em várias áreas, e trabalham com base numa filosofia de desenvolvimento ágil, em que se vão definindo e concretizando objetivos ao longo do tempo”. Desenvolver um videojogo é, nas palavras deste especialista, “algo dinâmico e que implica muita comunicação entre todos os elementos da equipa, avaliando sempre o que correu bem e o que correu mal”.
Criar um videojogo é um trabalho progressivo que vai sendo articulado pelos vários departamentos, onde as várias “peças” do jogo vão sendo coladas umas às outras, até chegarmos ao seu aspeto final.
Os vários tipos de jogos
Os videojogos podem ser sérios – uma simulação, um treino, um método de ensino – e podem ser lúdicos. Estas são duas áreas distintas que, em termos de programação até se assemelham, mas depois na arte e no gameplay são completamente diferentes.
De acordo com Duarte Duque, qualquer que seja o tipo de jogo, ele “tem de ter uma coisa: engagement, isto é, tem de prender o jogador ao que está a jogar”. Se estivermos a falar de um jogo lúdico, isso pode acontecer com um sistema de pontuação e de evolução, por exemplo; no caso dos jogos sérios, o que se pretende é estimular a realidade, como um treino de cirurgias ou um simulador militar.
Dentro dos jogos lúdicos, existem também dois tipos. Os mais simples, como as aplicações móveis – “projetos com dois ou três profissionais a trabalhar neles, mais um ou outro contratado a posteriori”, segundo o nosso especialista, e os mais complexos, os típicos jogos de PC ou consola – “aí estamos a falar de centenas de pessoas a trabalhar – quem escreve o guião do jogo, quem trata da arte em 2D, os modeladores 3D, os programadores, quem desenvolve os níveis, entre muitas outras competências”, conclui.
Como é a formação superior em videojogos?
Em Portugal já são várias as licenciaturas na área dos videojogos. Há um tronco comum a todas elas, com o qual podes adquirir noções várias sobre como criar um jogo, sendo que os principais enfoques são geralmente a programação e a arte. Na primeira, aprendes a dominar várias linguagens de programação (C, C++, C#, já ouviste falar?); na segunda, adquires conhecimentos de modelação e de animação de personagens. Nestas formações existe ainda uma atenção particular a uma das grandes tendências do mercado: o desenvolvimento de jogos para dispositivos móveis.
De acordo com o coordenador do curso do IPCA nesta área, ao concluíres uma licenciatura nesta área ficas habilitado “a trabalhar no departamento informático de uma qualquer empresa e a desenvolver software que pode ou não ser um videojogo”. Isto porque um curso em programação de videojogos partilha muito do que existe numa engenharia informática.
Se pretenderes continuar a estudar após a licenciatura, um mestrado em videojogos dá-te a oportunidade de te especializares numa determinada área – programação, modelação, arte, entre outras – e desenvolver uma formação ainda mais orientada para os projetos, isto é, para a aplicação prática do que aprendeste.
De que competências preciso?
Será este um curso demasiado complexo? Preciso de conhecimentos em linguagens de programação? Na opinião do coordenador do curso do IPCA, tens sobretudo “que gostar de raciocínio lógico e de estruturar o teu pensamento”. E sendo que uma das provas de ingresso obrigatórias para entrares num destes cursos é a de Matemática, precisas de estar em forma nessa disciplina! De resto, a programação será ministrada desde a raiz, e poderás contar com o apoio dos teus professores.
E se estás a pensar em fazer uma formação superior, deves começar também a mentalizar-te para isto: Esta é uma área onde precisas de te manter constantemente atualizado! Isto porque estão sempre a sair novas ferramentas para corresponder à evolução tecnológica e às inovações que todos os anos surgem, seja num novo processador, numa nova placa gráfica ou num motor de jogo criado do zero.
Para isso, durante o teu curso e ao longo da tua vida profissional nesta área, aposta em ações de formação – palestras, tutoriais e workshops. Também vais sempre encontrar muita informação online, disponibilizada pelas próprias empresas que criam as ferramentas.
As oportunidades de trabalho
Diz-se que esta é uma área em expansão. Mas afinal que oportunidades existem, em Portugal e no estrangeiro?
Em primeiro lugar, convém tirares desde já uma ideia da tua cabeça: O mercado dos videojogos não se resume aos títulos para PC e consolas! A área das aplicações móveis, por exemplo, está a crescer e com ela há cada vez mais pequenas empresas a produzir esses conteúdos. Um emprego na equipa de desenvolvimento de um jogo numa destas organizações é, por isso, uma das opções que poderás ter ao teu dispor.
Para além destas, as grandes empresas continuam a absorver boa parte dos profissionais desta área, porque em algum momento vão precisar de desenvolver um jogo. E não têm de ser necessariamente empresas de videojogos, porque há muitos nichos de mercado que não associas a jogos, e que podem dar-te emprego. O marketing e a publicidade, por exemplo, recorrem cada vez mais a soluções interativas para chamar a atenção dos clientes, e essas soluções interativas são, normalmente, videojogos!
Há outros ramos de atividade a desenvolver jogos – como o da reabilitação – que os usam para ajudar à recuperação dos doentes.
[Texto: Tiago Belim]
[Fotos: IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave]
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