Um arquiteto português com gosto por banda desenhada e que trabalha para a Marvel. Poderia ser este o resumo do percurso do André Araújo, que aposta agora no lançamento em livro da sua primeira história. Chama-se “Man Plus”, é inspirado no cyberpunk e passa-se no Portugal do ano 2042…
Ainda estudavas Arquitetura quando decidiste apostar na BD. Qual foi o momento em que tomaste essa decisão e porquê?
Desde que me lembro sempre gostei de banda desenhada, portanto não houve um momento em que tomei a decisão de fazer. A vontade sempre me acompanhou e sempre achei que, mais cedo ou mais tarde, acabaria a fazer BD. Mas, de facto, só na parte final do curso apostei a sério nisso, começando a criar e a desenhar com frequência diária e a procurar editores para mostrar o meu trabalho. Podemos dizer que a perspetiva de desemprego enquanto arquiteto deu o empurrão final.
O teu contacto junto da Marvel abriu-te muitas portas. Quão fácil ou difícil é chegar ao radar de tão importante empresa?
Chegar ao radar da Marvel é relativamente fácil, principalmente nos dias que correm. Grande parte dos editores tem uma presença ativa nas redes sociais (o Twitter está recheado de profissionais de BD, por exemplo) o que permite um contacto direto em qualquer momento. Além disso, os editores estão sempre atentos aos vários sites de arte (DeviantArt, Tumblr, etc.). É, portanto, uma questão de ter uma presença online atualizada, estar atento e nunca perder a hipótese de um contacto pessoal, que foi como começou a minha relação com a Marvel.
Daí até chegares à publicação de “Man Plus”, o que aconteceu?
O Man Plus foi selecionado pela Titan Comics ainda antes do meu primeiro trabalho para a Marvel, mas ainda estavam a preparar o lançamento da sua linha de BD, pelo que o projeto não teve seguimento imediato. Entretanto o trabalho na Marvel foi aumentando, pelo que no início de 2014 tomei a opção de parar uns meses com os super heróis para poder fazer a minha história.
Fala-nos um pouco mais sobre o teu livro. História, personagens, inspirações…
Sempre me interessei pela temática cyberpunk e sempre quis fazer uma história do género, principalmente depois de ler Ghost In The Shell, Akira, L’Incal e ver Blade Runner, entre muitos outros. Mas sentia que faltava qualquer coisa para avançar na história, porque não queria fazer uma cópia do que já existia: era necessária substância, que surgiu durante a minha tese de mestrado, onde li sobre a tecnologia como extensão do corpo humano, algo que abracei como tema principal.
A nível de enredo, seguiremos uma equipa de investigação da Polícia de Olissipo City, liderada por Rodrigo, no Portugal do ano 2042, que investiga o caso de um andróide com problemas de funcionamento, que se envolve num conflito armado com um grupo de cyborgs militares. Começa então uma corrida para descobrir as origens dos envolvidos enquanto tentam impedir que a violência cresça…
Quando sai exatamente o teu livro e onde o poderemos encontrar? E já agora, que objetivos traçaste para ele?
A data certa de saída ainda não existe, apesar de já estar completamente escrito e desenhado. Mas deverá ser na primeira metade de 2015.
O meu objetivo principal é ter um livro criado e feito por mim, para que me possa revelar melhor como autor. Um eventual sucesso a nível de vendas será bem vindo, mas a primeira ideia é divulgar melhor o meu trabalho.
O que ganha o André desenhador com o André arquiteto?
Muito. Toda a ética e capacidade de trabalho, capacidade de gestão de prazos, das frustrações e dos vários momentos de projetos que têm componentes muito distintas (criativa/imaginativa vs. a concretização dos elementos). Graças ao curso de arquitetura, quando comecei a carreira de autor de BD tinha já uma preparação elevada, com exceção das questões específicas da área, claro.
Consideras-te mais uma boa prova de que não é o nosso curso superior que nos define como profissionais? Que conselhos poderias dar a quem tem dúvidas como tu tiveste?
O curso de arquitetura é, por natureza, abrangente, o que me ajudou a canalizar o que aprendi para a minha área atual. Não considero o meu percurso especial, pelo que a única coisa que posso dizer é aquilo que sempre aprendi com aqueles que me rodeiam: se querem uma coisa, vão atrás dela, não esperem que nada vos caia no colo.
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: cedidas pelo entrevistado]