Entrevista | Luís Guerreiro: “Está a ocorrer uma nova revolução industrial”
Inovação, Inteligência Artificial, Empreendedorismo, Sustentabilidade e Aprendizagem Contínua são algumas das palavras que têm marcado o setor económico nacional (e internacional) nos últimos anos — Será que os currículos educativos têm vindo a acompanhar a constante alteração dos tempos? Estão os jovens preparados para enfrentar e vencer?
Estivemos à conversa com o Engenheiro Luís Guerreiro, Presidente do IAPMEI I.P. – Agência para a Competitividade e Inovação, para responder a algumas das questões mais atuais sobre o mercado de trabalho.
Em termos de inovação, quais as alterações registadas nas empresas nos últimos 3 anos?
A economia mundial tem sido fustigada por uma série de eventos debilitantes, geradores de fragilidades competitivas, potenciados pelos efeitos da pandemia COVID-19, que temos bem presentes, como as pressões inflacionistas e as consequências dos recentes conflitos geopolíticos.
Estes acontecimentos, contudo, recentraram as prioridades de desenvolvimento socioeconómico nas agendas políticas. Geraram, também, um alinhamento, para onde se devem direcionar os investimentos, para ativar a resiliência das empresas na resposta aos desafios, nomeadamente através do investimento na chamada dupla transição, Inteligência Artificial, transição energética e transição digital.
Este alinhamento implicou uma aposta reforçada na criatividade e inovação, uma maior sinergia e trabalho colaborativo entre instituições públicas, associativas, empresas, centros de investigação tecnológica e o sistema de Ensino Superior e Politécnico.
Assim, os investimentos têm favorecido a sustentabilidade da atividade empresarial, uma vez que, na última década, temos assistido a um crescimento sustentado do número de empresas criadas e uma redução das dissoluções, embora com uma evolução variável ao longo do tempo.
Apesar de, à escala global e para fazer face à inflação, se ter assistido a um abrandamento do financiamento da inovação em 2022, mais de metade das empresas assegurou o financiamento das atividades de investigação e de 2022 para 2023. Portugal aproximou-se da média da UE no seu desempenho ao nível da inovação, com um crescimento de 3,3%. As empresas nacionais representaram 62% da despesa total de investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D), o que acaba por se correlacionar com o crescimento de cerca de 7% no número de pedidos de patente europeia. Constatou-se um crescimento expressivo dos recursos humanos e investigadores dedicados a atividades de I&D nas empresas, o que é um claro sinal do reconhecimento da inovação como fator de competitividade.
Nos últimos três anos, temos testemunhado uma rápida evolução nas práticas de inovação das empresas. Muitas organizações têm adotado tecnologias disruptivas, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT) e Blockchain, para otimizar processos, melhorar a experiência do cliente e criar novos produtos e serviços. Registamos ainda um aumento significativo no investimento em pesquisa e desenvolvimento, bem como na colaboração com startups e incubadoras para promover a inovação aberta. (…)
Para os jovens que têm um perfil empreendedor, que apoios podem encontrar no IAPMEI?
Antes de mais, importa ter presente que o perfil empreendedor não pode ser pensado apenas como algo inato.
Com a motivação certa, os jovens podem investir no desenvolvimento das competências empreendedoras necessárias. Para apoiar este processo, o IAPMEI tem vindo a criar um portefólio de conteúdos orientados para a promoção das soft skills mais determinantes no empreendedorismo, a par de outras competências igualmente não negligenciáveis para robustecer o perfil dos empreendedores.
Recentemente, promovemos o projeto “Capacitar para Empreender”, cofinanciado pelo COMPETE2020, Portugal2020 e União Europeia, através do Fundo Social Europeu, sob a égide da marca registada StartUP Boost Powered by CAPACITAR PARA EMPREENDER. (…) Destacamos que este projeto deu origem à App do Empreendedor, disponível nas lojas de aplicações móveis. Este é um instrumento que agrega ferramentas, recursos e tem uma comunidade digital em crescimento, para apoiar a ação e todo o percurso dos empreendedores. Até então, não existia um produto direcionado para o ecossistema com estas especificações e, por isso, em 2023 foi considerado o Melhor Projeto Digital Sustentabilidade & Inclusão, um reconhecimento atribuído pelo Prémio Navegantes XXI da ACEPI, pelo seu contributo para a Economia e Sociedade Digital em Portugal.
Queremos continuar a apostar em projetos desta natureza, pela importância de prepararmos cada vez melhor, as gerações mais novas para conviverem com uma economia cada vez mais dinâmica e em que o empreendedorismo assume um papel crucial.
Em breve, prevemos lançar uma quarta edição do Startup Voucher, que é vocacionado para o apoio aos projetos empresariais em fase de ideia, iniciados pelos mais jovens que os pretendem desenvolver, inclusive garantir o seu próprio emprego através da criação de uma startup, e que encontram neste programa uma oportunidade para o efeito. Suportados pelo IAPMEI, pela incubação e mentoria e por bolsas e prémios monetários, com vista à criação de novas startups. (…)
Em suma, o IAPMEI oferece uma série de apoios e incentivos para jovens empreendedores que desejam iniciar o seu próprio negócio, o que inclui programas de capacitação e mentoria e acesso a programas cofinanciados.
Além disso, o IAPMEI pode ajudar na elaboração de planos de negócios, no acesso a redes de networking e na identificação de oportunidades de mercado.
Quais as áreas, cujo mercado de trabalho está mais sedento?
Neste momento a procura de talento é transversal a todos os setores da atividade económica e a todas as profissões e/ou especializações. Se nos cingirmos às tecnologias de informação, verifica-se que persiste uma escassez acentuada de programadores de software, analistas de sistemas, especialistas em cibersegurança e em computação em nuvem, para suportar a atividade das empresas tecnológicas nacionais, mas também para responder aos investimentos que têm sido realizados em Portugal, por empresas estrangeiras, que encontram no país outras condições favoráveis ao desenvolvimento dos seus negócios.
Todavia, as necessidades do mercado de trabalho não se esgotam na informática. A aposta na inovação conduziu a um aumento da procura de especialistas em I&D, assim como nas engenharias, para estimular a criação de respostas para as oportunidades futuras do mercado, assim como para suprir as necessidades mais imediatas para as indústrias produtivas e energéticas
Existe a necessidade imediata de profissionais prestadores de serviços de saúde, para acompanhar a procura por novas soluções de healthcare que contribuam para uma melhor qualidade de vida e para dar resposta ao envelhecimento da nossa população.
Por outro lado, a orientação para os serviços, leva a que a escassez de recursos humanos, nas áreas de hospitalidade e lazer e de serviço ao cliente estejam a ser colmatadas por recrutamento no estrangeiro.
As áreas que, genericamente, suportam o desenvolvimento do negócio, como Tax & Legal, Marketing e Finanças têm também níveis de procura significativos, na medida em que as flutuações constantes do mercado, mobilizam as empresas para se reorganizarem e se empenharem, em ter informação em tempo útil para as tomadas de decisão. (…)
Em resumo, há uma crescente necessidade de profissionais qualificados em todos os setores da economia, para impulsionar a inovação e a competitividade das empresas e para promover o crescimento económico de Portugal.