Entrevista | SYRO: O verso de pensamento e a lírica (sem plasticidade)
Com um universo vasto, que abarca diversas sonoridades, Diogo Lopes — nome que dá corpo ao alter-ego SYRO — percorre ambientes ecléticos, que, diariamente, o inspiram (sem o limitar) a procurar a combinação perfeita entre sons contemporâneos e produções orgânicas.
Tendo encontrado o seu próprio espaço de expressão e identidade a solo, o artista, com o segundo registo discográfico apresentado, declara-nos as aspirações (e anseios!), que o tornaram num dos “Brutos Diamantes” (mais bem lapidados) do panorama musical português.
Com 16 anos, co-fundaste a banda Caelum, vencedora da 1ª edição do concurso EDP Live Band, conduzindo-te, posteriormente, ao contrato discográfico com a Sony Music Portugal. A devoção pela música desabrochou de que vontade ou propósito?
Penso que posso culpar os meus queridos pais pelas minhas primeiras memórias serem musicais. Andava pela casa a bater em tudo o que reagisse sonoramente.
Mas, a derradeira ambição remonta aquando um walkman, com uma cassete que tocava, apenas, “In The Air Tonight”, me levou, com 11 anos, até à Aula Magna, para assistir aos The Musical Box, a banda canadiana de tributo oficial, a quem os Genesis doaram o backline e a indumentária.
Assim que vi a personificação de Phil Collins, fiquei maluco [risos] e decidi ir aprender Bateria.
Depois de frequentares workshops e masterclasses, ingressaste na Escola de Jazz do Barreiro e, mais tarde, no curso de Jazz e Música Moderna, na Universidade Lusíada. Que papel ou influência detêm os ritmos não lineares e as misturas sonoras improvisadas na tua linguagem artística?
Apesar de não apreciar colocar arte em caixinhas, afirmo que não sou — de todo — um artista Jazz [risos]. Sou um músico, maioritariamente, pop, com inúmeras ramificações, sendo que a minha formação me ofereceu um conjunto de ferramentas que me permite explorar os mais diversos universos.
Em 2018, apresentas-te a solo, com o single “Deixa Passar”. Que exigências se manifestaram ao ocupares a linha da frente e assumires (definitivamente) o microfone? A precursão foi um auxilio na tua performance?
Sinceramente, admito que, fruto do nervosismo, o meu primeiro concerto são flashes [risos]. Sei que a plateia aplaudiu e o feedback foi bastante positivo.
Pisei vários palcos, enquanto baterista, mas não passei pelo roteiro característico de atuar em bares ou pelo trajeto peculiar que dá estaleca e amadurecimento.
No entanto, a bagagem que adquiri na estrada e em estúdio forneceu-me outro pulso para enfrentar o que vivencio atualmente.
Em “Genesis”, o teu primeiro longa-duração, os enclaves em “Anjo x Diabo”, com o final ao piano, ou em “Caminho”, que abraça o rap, surgem do desafio constante de te superares, aliado à recusa de rótulos e à exploração de melodias?
Sem dúvida. Quando possuímos um ADN próprio e vincado, os recetores esperam, continuamente, um trabalho que se enquadre.
Consumo múltiplos géneros e subgéneros, fazendo-me, por isso, todo o sentido expôr as diferentes facetas que abarco, mantendo-me fiel ao que sou e à mensagem que pretendo transmitir.
Considerando-te um “cantor mais sensível do que romântico”, que narra o amor efémero, a inconstância e a estabilidade, a ansiedade e a esperança, o divino e o inspiracional… Até chegares à versão final de uma faixa, como é o teu processo?
Não gosto de criar sozinho [risos]. Acredito que a música é para ser partilhada, ouvindo pontos de vista distintos, que ampliem e exponenciem o produto concluído.
Habitualmente, com uma base harmónica, começo a debitar as toplines. Reflito sobre o assunto que quero escrever, deixando a melodia conversar comigo, para perceber o que estou a sentir. Porém, tendencialmente, fujo a métodos iguais ou obrigatórios.
És, igualmente, o compositor de outros intérpretes. Qual é o ingrediente secreto para uma canção de sucesso?
A pergunta de um milhão de euros [risos].
No pop e no mainstream, existem estruturas convencionais que, ao ouvido do consumidor, soam a catchy. Contudo, o importante é que o que está a ser dito carregue consigo honestidade, uma vez que as interpretações variam, consoante as experiências de cada um — esperança, luto, ou romance —, proporcionando diversas formas e feitios à faixa.
“11 11”, um disco que “abre a porta” para o teu “íntimo”, foi lançado em novembro do ano passado. Que inspirações o construíram?
O “11 11” é um álbum duplo, que tem mais de Diogo do que de SYRO.
Composto num período em que vi a minha Saúde Mental mais afetada, a composição de cada faixa acompanhou, de mãos dadas, o meu processo de me voltar a encontrar.
A recetividade foi fantástica. Não podia estar mais agradecido.
Dedicado a construir repertório, tens vindo a colaborar com inúmeros artistas, como Jimmy P, Gisela João, Bispo, L-ALI, Mariana Pacheco e Murta. O que é que a realização de feats te acrescenta?
Independentemente da fase em que se encontram ou do hype que possuam, quando existe a oportunidade de executar uma colaboração ou um dueto, os universos cruzam-se, levando ao nascimento de uma nova linhagem.
É muito bonito.
Na bagunça desse lar / Eu não sei como aguentar / O tempo aqui sem ti / Vem morar em mim. Da banda sonora de “Valor da Vida”, para o genérico de “Cacau”. Qual é a sensação de fazeres parte de um projeto internacional?
É extremamente gratificante. Realizei a primeira demo e adoraram.
À semelhança do que acontece na novela — um casamento entre Portugal e o Brasil —, convidei a Giulia, que, felizmente, aceitou, e que se demonstrou super acessível e entusiasmada. Terminámos o tema por videochamada e o resultado está à vista [risos].
“Espero que o que estou a fazer hoje não seja igual ao que vou fazer amanhã”. O que podemos ansiar para 2024?
Agora, estou focado em promover o “11 11”. Seguramente, surgirão novidades.