ADN das Escolas: Escola Secundária de Rio Tinto
A Mais Educativa esteve à conversa com o professor Nuno Santos, o novo diretor da Escola Secundária de Rio Tinto, uma escola dedicada ao cultivo da autonomia dos alunos e à sua flexibilidade curricular. Esta escola apesar de lidar com várias adversidades, traz inovação às escolas nacionais e procura educar os seus alunos sobre questões de formação cívica e política, bem como preparar os alunos para o Ensino Superior.
Vem conhecer a maior Escola Secundária do concelho de Gondomar!
Sabendo que cada escola é única à sua maneira, como descreveria a Escola de Rio Tinto (ART)?
Este foi sempre um agrupamento que me cativou e motivou pela diferença com que se trabalha com os alunos. Foi nesse desafio que apresentei a minha candidatura e passei a ser diretor do Agrupamento. A aposta do Agrupamento é sempre na diferenciação. Somos uma escola de referência no Ensino Secundário, no concelho de Gondomar e somos também a maior escola secundária do concelho. Tentamos sempre manter um equilíbrio que é delicado e muito difícil de ser trabalhado em algumas áreas, como a preparação para exames ou o acesso ao Ensino Superior, além do trabalho interdisciplinar que habilita o aluno de hoje para situações diferentes da escola. Nós fomos uma escola pioneira na implementação da autonomia e flexibilidade curricular no seu projeto de plano inovação. A autonomia e flexibilidade curricular parte do princípio que o aluno elabora projetos, os DAC (Domínio de Autonomia Curricular). A diferença das escolas vai passar também, pela construção de espaços de trabalho onde o aluno poderá estar na escola acompanhado, ou seja, muitos dos alunos recorrem à escola para ter as suas aulas. nós sentimos que há a necessidade de aplicar conteúdos a outras situações, para isso será preciso facultar mais tempo na escola. Vamos ter uma tarde na qual os professores estarão na escola a acompanhar alunos para a concretização de projetos. Todos os alunos que necessitam de apoio, usufruem desse apoio internamente na escola. No próximo ano também vamos dissipar ligeiramente a mancha dos horários dos alunos permitindo que sejam encaixados quatro tempos de apoio, dentro da sua mancha horária do período da manhã. Para além destas questões, estamos num processo de revisão do nosso plano de inovação. A capacitação dos jovens hoje baliza-se pelo perfil do aluno à saída da escola obrigatória e é nessas vertentes que queremos trabalhar no nosso plano de inovação.
Quais são os principais ensinamentos que procuram passar aos vossos alunos?
O ensinamento principal é aquele que procuramos passar através da relação com o aluno, que acaba por ser vocacionada e direcionada para a aprendizagem essencial de cada uma das disciplinas. Contudo, pela forma como nós trabalhamos aqui no Agrupamento, é ultrapassada a aprendizagem prevista, pois temos domínios de autonomia que abordam muitas situações práticas que são despoletadas, até pelo interesse dos alunos e isso acaba por envolver toda a comunidade. Há projetos que são mais abrangentes, outros que são mais fechados, mas as realidades vão sendo trabalhadas de acordo com cada projeto.
Volto a referir que nestes projetos trabalhámos sobretudo a não aplicação prática aplicada aos conteúdos de cada uma das disciplinas, mas sim uma situação diferenciada de aplicação desses conteúdos, ou seja, o aluno terá de explorar, adaptar e aplicar esse conteúdo a novas situações.
Só assim se constrói o conhecimento verdadeiro e sustentado e com esta aplicação nós pensamos numa forma transversal muito mais vocacionada para a prática, ou seja, para o dia-a-dia de cada pessoa durante a sua vida ativa. Para isto, trabalhamos em articulação com parceiros inclusive, parceiros científicos e empresas tecnológicas. Temos um Clube de Ciência Viva que dinamiza estes ensinamentos que vão sendo trabalhados com os alunos.
Como somos um agrupamento muito grande, com nove unidades orgânicas, muitos Jardins de Infância e Escolas de primeiro ciclo, temos projetos de articulação entre o Ensino Secundário e estes níveis de ensino. Procuramos trabalhar regularmente com alunos do ensino secundário e alunos do primeiro ciclo, para que os mais velhos ensinem ciências aos mais novos, para isso, dinamizamos feiras de ciência que são mostras itinerantes em várias escolas ou então são os alunos das escolas que se dirigem a uma escola para participarem nestas feiras. Vive-se um ambiente muito dinâmico, de muita atividade, muitos projetos que demonstram a participação que nós apelamos que os nossos alunos tenham.
Quais as principais dificuldades que sente que a escola enfrenta atualmente?
Em primeiro lugar, as escolas hoje regem-se por um normativo legal muito estanque e castrador.
Para além disso, o corpo docente do ART é um corpo docente envelhecido e à custa da idade dos professores, muitos deles com muita experiência e muito boas práticas que têm implementado ao longo dos últimos anos, acabamos por ser penalizados na implementação de algumas medidas que gostaríamos de poder ver implementadas, ou seja, o número de horas de redução do trabalho docente com turma, acaba por penalizar a totalidade do Agrupamento.
À semelhança dos professores, também o nosso corpo de assistentes operacionais está envelhecido. Começam a haver algumas saídas para aposentação, muitas baixas médicas e temos contado com um parceiro fantástico, o município de Gondomar, na supressão, nem que seja temporária de algumas dessas faltas. Contudo era necessário adaptar o rácio de assistentes operacionais a cada uma das unidades orgânicas e era importante não ser um número bruto, mas um número flexível. Aqui, na Escola Secundária temos um rácio preenchido insuficiente para cumprir um horário das sete da manhã às onze da noite. É lógico que isto traz-nos muitos constrangimentos na gestão de espaços, no acompanhamento dos alunos… vamos tentando colmatar algumas faltas, mas de forma geral tem corrido bem, as pessoas são dinâmicas, prestáveis e vamos contando também com a colaboração dos nossos parceiros, sobretudo da Câmara Municipal para este nosso apoio. Também contamos com o apoio específico de alguns assistentes operacionais dedicados a alunos da educação inclusiva, ou seja, que têm medidas adicionais para casos graves e profissionais dedicados a esses alunos. Só assim é que conseguimos trabalhar em parceria.
Uma outra dificuldade que temos é ao nível da literacia dos próprios alunos. Por exemplo, um aluno hoje chega ao ensino secundário com muita dificuldade na compreensão do português. Por incrível que pareça todos eles falam português, mas não entendem o português de cada uma das disciplinas, mesmo o enunciado de um exame ou teste notamos dificuldades para que o aluno o entenda e isto passa-se também na geometria, na físico-química, matemática… e passa-se de uma forma transversal nas disciplinas lecionadas na língua portuguesa. O aluno precisa de entender que a língua é muito dinâmica, muito versátil e esta situação aplica-se a diversas outras situações e é também nesse sentido que nós fazemos um trabalho forçado de criar um hábito de leitura, de interpretação e de domínio da língua para além do conteúdo da disciplina. As literacias são fundamentais e refletem-se depois no aproveitamento global do aluno.
A escola é um organismo aberto que dá, mas que também necessita de recursos e por isso estamos sempre de portas abertas a todos os nossos parceiros, de forma a trabalharmos e articularmos o nosso trabalho da melhor forma possível.
Como já referiu a escola é muito ativa e dinâmica em termos de projetos. Conte-nos quais os projetos em que a escola está envolvida?
O Justiça para Todos foi um projeto que desencadeou interesse aqui na Escola e até muito interesse mediático. Foi um projeto idealizado por dois professores da escola e posteriormente acabou por envolver mais professores e a articular o trabalho com um grupo de alunos. Aliás a comissão eleitoral era constituída exclusivamente por alunos.
Pretendeu-se ao construir este projeto criar um programa nacional para abordar as questões da formação cívica. Todos nós sabemos que no nosso país, as eleições têm uma abstenção muito elevada, por isso é preciso trabalhar com os jovens, questões políticas, de introdução à política, para que os jovens percebam e conhecem a política.
Esta ação foi sobreposta à votação real, mas os alunos que votaram não eram elegíveis para serem votantes, pois, tinham até dezassete anos e, por isso, fez-se uma simulação de um ato eleitoral de eleição legislativa. Isto foi muito pouco antes das eleições legislativas. A abstenção foi muito semelhante à nacional e estranhamos um pouco esse facto, mas também compreendemos, porque houve os alunos que faltaram à escola nesse dia, contudo, todos tiveram o direito ao voto mesmo os que estavam em isolamento, puderam fazer votação online, esta foi permitida excecionalmente nesses casos e os resultados foram muito semelhantes aos nacionais. Por outro lado, a dinâmica que foi imposta aqui na escola, com dez mesas de voto abertas durante todo dia, não passavam despercebidas aos alunos e eram impelidos um bocadinho a votar.
Houve muitos alunos que, nesse momento, começaram a entender mais a política, o que é a direita, a esquerda, o centro e até enquadrando-se depois com as suas ideologias. Muitos deles já as têm, mas a maior parte não terá e até poderão sentir-se mais orientados a descobri-las com este projeto. Justiça para Todos foi uma ação com alguma visibilidade, todos os meios de comunicação social estiveram aqui na Escola Secundária.
Este não será um momento isolado, pois será replicado noutras situações sempre que assim for necessário ou se achar por bem a participação dos alunos em grande massa.
Para terminar, quais objetivos futuros e perspetivas para a Escola de Rio Tinto?
Vamos criar mais um clube de ciência viva. Já temos um aqui na Escola, mas vamos diferenciar as áreas de intervenção.
Para além disso, vamos alargar a nossa participação no projeto Erasmus e também nos estágios profissionais, vamos trabalhando com propostas feitas tanto pela Faculdade de Ciências, como pela Faculdade de Medicina, Engenharia e outros parceiros privados, como a Cisco.
Depois do período pandémico iremos regressar às visitas de estudo e estas saídas podem decorrer durante vários dias. Pretendemos sempre que as saídas não sejam um passeio, mas sim um trabalho efetivo, em campo, no local. Temos planeadas muitas saídas no âmbito das Ciências no Ensino Secundário.
Temos muito trabalho em articulação com parceiros, tais como o acompanhamento do Parque das Serras que envolve os concelhos de Gondomar, Porto e Paredes, com o objetivo de melhorar a aprendizagem, o que se irá refletir no aproveitamento dos alunos e também melhorar o acesso ao Ensino Superior. Muitos dos nossos alunos pretendem ascender ao Ensino Superior, e é nesse sentido que nós trabalhamos, para lhes facilitar um bocadinho esse trabalho de acesso e facilitar não é atribuir boas notas, mas sim ajudá-los na prática e convicção nas áreas que precisarão para ingressar no ensino superior.
Nós não trabalhamos pelo ranking, trabalhamos sobretudo pela preparação dos alunos e para que esta lhes permita ter um desempenho no Ensino Superior acima da média.
Os alunos, por sua vez, ficam satisfeitos quando veem que a escola foi trabalhando aspetos e temáticas que lhes fazem falta no Ensino Superior. Portanto, os objetivos passam pelos alunos estarem bem na escola, se integrarem bem e sentir que as suas necessidades presentes e futuras são colmatadas. Este ano serão também calculadas as situações de limitação de alunos por turma, de modo a conseguir-se realmente trabalhar a integração e a valorização de cada um deles em sala de aula.
Sabe mais no website da Escola.