João Ferreira ou Benji Price, o nome pelo qual é conhecido no mundo da música, tem vindo a traçar o seu percurso e a deixar a sua marca no hip-hop português. Fez colaborações com nomes bem conhecidos do público como ProfJam, Plutónio e Diogo Piçarra.
Lançaste recentemente “Ígneo”, o teu primeiro disco a solo, que pretende marcar o rap português. De onde surgiu o nome benji price?
O meu pseudónimo artístico surgiu totalmente por acaso, por mais estranho que pareça. Na altura em que comecei a compor e a escrever músicas como “experiência” para treinar as minhas capacidades enquanto músico, numa música incluí um verso que utilizava a palavra “benji”, que é um termo de calão americano para se referir a notas de cem dólares. Eu e alguns amigos achámos que era um nome engraçado, então pegou e decidimos correr com isso. O “price” veio depois, porque o ProfJam estava sempre a utilizar o apelido como piada devido à personagem dos Super Campeões. Acabamos por achar tanta graça que o nome colou.
Como definirias o início da tua carreira artística? Quais as dificuldades que encontraste e o que te surpreendeu positivamente neste começo?
Tive um percurso bastante “normal”, para ser sincero. O meu interesse em música vem desde pequeno e levou-me ao conservatório, que, por consequência, me levou a escrever as minhas próprias canções. Experimentei fazer metal, música eletrónica, indie, e basicamente qualquer coisa que me despertasse o interesse na altura. Todos os passos dados foram feitos com naturalidade. Posto isto, acho que as dificuldades que tive também foram as mais comuns (ou pelo menos para maior parte das pessoas): Como entrar na indústria? Como fazer com que a minha música fosse ouvida? Como sustentar-me financeiramente só com a música que faço, etc., e sempre as encarei como sendo parte do percurso. Acho que o mais surpreendente foi ter conseguido chegar até onde cheguei agora! É sempre uma mistura de muito trabalho e alguma sorte.
Colaboraste com o ProfJam no álbum “SYSTEM”, que foi lançado em 2020. Como foi esta experiência?
Eu e o ProfJam conhecemo-nos há muitos anos, e durante todo esse tempo sempre fomos trabalhando em mil e uma coisas, fosse no que fosse. Fazer o SYSTEM era uma “inevitabilidade”, ou pelo menos, vemos a coisa assim em retrospetiva. Sempre dissemos que, em algum ponto, iríamos fazer um projeto inteiro juntos, e a pandemia proporcionou-nos a oportunidade perfeita para termos tempo para dar conta disso. Foi um processo super divertido, e ambos sentimos imenso orgulho naquilo que conseguimos pôr cá fora. O facto de o álbum ter corrido muito bem, foi a cereja no topo do bolo, e foi um grande passo na minha carreira para me expor a um público maior. Estarei para sempre grato ao Mário por ter embarcado nessa viagem comigo, e quem sabe um dia faremos uma sequela.
Também já colaboraste com outros músicos reconhecidos nacionalmente como o Diogo Piçarra e Agir. Estas colaborações tiveram impacto no artista musical que és hoje?
Sem dúvida. Tenham mais ou menos exposição, qualquer colaboração que faças tem impacto na tua vida. Há sempre coisas boas a extrair de cada uma delas, e cada pessoa traz algo de novo para o teu arsenal criativo. Tenho sido muito felizardo em ter tido tantas oportunidades de trabalhar com artistas super talentosos ao longo da minha carreira. Sem eles não teria chegado onde cheguei hoje, e tenho uma dívida para com todos, pelo que fizeram por mim. Agora é fazer mais, com todos eles e com quem mais queira unir forças comigo. A porta está sempre aberta para quem quer criar.
Acabaste de lançar o teu primeiro álbum a solo “Ígneo”. Quais as mensagens intrínsecas a este álbum?
Fiz este álbum como motivação para mim mesmo. Queria compor músicas que me divertissem, que me estimulassem enquanto músico, experimentar coisas que ainda não tinha feito, ao mesmo tempo mantendo uma linha de pensamento coesa com o que fiz no “SYSTEM”. Este álbum conclui a viagem que iniciei no álbum anterior, quer na sonoridade, quer na mensagem. Fala muito da minha jornada, dos meus valores, e a maior parte do projeto sou eu a falar “ao espelho”, a motivar-me a mim mesmo para manter a cabeça no lugar e confiar no que sou capaz de fazer e na minha visão. Do ponto de vista anímico, este álbum era super necessário. Espero que quem o ouça se senta energizado a ouvir como eu me senti a fazer. Acho que há aqui uma mensagem a retirar para qualquer ouvinte, e algo com que se identificar.
“Fiz este álbum como motivação para mim mesmo. Queria compor músicas que me divertissem, que me estimulassem enquanto músico, experimentar coisas que ainda não tinha feito”
Conta-nos como foi o processo criativo deste álbum.
Antes de começar a compor o álbum, eu já tinha uma visão muito concreta do que queria fazer, mas é sempre um processo de tentativa e erro. É fazer, fazer, fazer. Na minha cabeça as faixas já existiam na sua versão “abstrata”, mas tive de ir experimentando diferentes abordagens até que encontrasse a melhor “roupagem” para cada uma. Ao longo do processo as faixas estiveram sempre em transmutação, e foram tendo formas novas à medida que eu ia avançado com outras. É claro que se faz uma canção de cada vez, mas praticamente foram todas desenvolvidas em simultâneo. O que fazia numa, influenciou o que poderia fazer nas outras, e tive de ir experimentando com as peças do puzzle até que o quadro final estivesse montado. Felizmente tive comigo excelentes músicos que me abençoaram com a sua criatividade, que aliaram as suas visões com a minha para conseguirmos montar o álbum que se viria a tornar no “ígneo”. Sem eles não teria sido possível, e terei para sempre uma dívida com cada um, pelo auxílio impagável que me deram. Como costumo dizer, benji price são muitas pessoas embora seja eu a dar a cara.
Regressaste aos palcos no dia 4 de março, no Teatro Tivoli. Como foi a sensação de estar novamente num palco com o público a vibrar à tua frente?
Apresentar um álbum, seja pela primeira ou pela centésima vez, é sempre uma experiência incrível porque significa que conseguiste passar a “meta” da corrida. Toda a música publicada é feita com a intenção de que alguém a ouça e a aprecie. O facto de a quererem ver ao vivo é o expoente máximo dessa união. Aliado com o facto de estarmos a viver tempos ainda algo estranhos devido a todos os efeitos da pandemia sob espetáculos ao vivo (seja de que área for, na verdade), haver a possibilidade de tocares a tua obra em frente a pessoas, ainda que com algumas limitações, é sempre uma bênção.
Como é que te vês daqui a dez anos? Onde gostavas de estar e o que gostavas de já ter conquistado?
Gostava de estar onde estou, mas com um currículo ainda maior e mais completo! Para mim este processo é um loop: criar, editar, atuar, e fazer tudo novamente. Oxalá o caminho em que estou me permita continuar a fazer isto por muitos mais anos, e que traga sempre desafios novos. E depois desses desafios estarem ultrapassados, que venham ainda mais.