O arranque do ano letivo 2021/22 promete trazer a retoma a uma realidade mais próxima daquilo a que estávamos habituados antes da pandemia. Atualmente, nas escolas respira-se a esperança de que, no decorrer deste ano letivo, se possa sempre chamar “escola” às escolas.
Na Escola Secundária Dr. José Afonso este ano, para além do regresso às aulas presenciais, vive-se também um ambiente de renovação, fruto da alteração no órgão de administração e gestão da escola. Para perceber o que podem os alunos esperar da nova direção, e conhecer o ADN da Escola que se afirma como uma referência no concelho do Seixal, fomos conversar com o novo diretor, o Dr. André Claro.
Depois de dois anos letivos sem precedentes em virtude da pandemia, de que forma a Escola Secundária Dr. José Afonso se preparou para este ano letivo, tendo em conta as consequências sociais, humanas e educativas das aulas a distância?
Para além da pandemia, no final do ano letivo anterior, ocorreu uma alteração no órgão de administração e gestão da escola o que trouxe dificuldades acrescidas… Esta nova direção está a trabalhar no sentido de envolver toda a comunidade educativa nas dinâmicas da escola e integrar vários projetos, a nível social e pedagógico, no seguimento de uma análise prévia. Efetivamente, fizemos um levantamento de todos os constrangimentos ocorridos durante a pandemia, junto dos pais e encarregados de educação, alunos, assistentes operacionais e técnicos e docentes. Neste momento, estamos empenhados em tentar responder a todas estas situações, nomeadamente, através da consecução do Plano 21|23 Escola+, plano integrado para a recuperação das aprendizagens, no qual estamos a trabalhar. Ainda neste contexto, e dando consecução ao Projeto Educativo da nossa Escola, que enuncia como Missão a Promoção do Sucesso Educativo dos nossos alunos, instituímos na escola o programa Foco académico Zeca+, que reformulámos de um projeto anterior, que visa apoiar os alunos no âmbito das medidas universais de suporte à aprendizagem e inclusão. Acresce a implementação do Programa de Mentoria que, em linhas gerais, procura que o mentor guie e aconselhe um mentorando, e estamos a falar de alunos que se disponibilizam para apoiar os seus pares, num ambiente de interajuda, através da realização de encontros regulares, em várias áreas de atuação, desde a motivação, rendimento escolar, às relações interpessoais, comportamento ou autoestima.
Quais as maiores dificuldades que esta instituição de ensino enfrenta hoje em dia?
Questões financeiras principalmente. É muito difícil gerir uma escola quando, a título de exemplo, a legislação nos impede de disponibilizar, para venda, uma enormidade de produtos, pelo que, neste momento, não comercializamos a maioria dos produtos que os jovens consomem. Apesar de compreendermos os motivos que levam a essas restrições, registamos, em consequência, uma quebra acentuada nesta fonte de rendimento importante. Esta situação torna-se, ainda, mais complexa quando, a 20 metros da escola, existem vários estabelecimentos que comercializam os produtos que, anteriormente, os alunos adquiriam na escola. Portanto, neste momento, temos esta dificuldade acrescida que é gerir uma escola com parcos recursos e com contas mensais fixas. Apesar de identificarmos um conjunto de problemas que gostaríamos de resolver, dificilmente teremos meios para o fazer.
Cada escola tem o seu ADN e as suas dinâmicas próprias, por isso, para conhecermos a vossa escola fale-nos nos valores e na missão da Escola Secundária Dr. José Afonso…
A nossa escola tem sido das mais procuradas a nível concelhio nestes últimos anos. Os rankings de que eu, pessoalmente, não gosto, mas que estão enraizados na sociedade, revelam que a nossa escola está em primeiro lugar no nosso concelho, ao nível dos resultados dos exames e da (in)disciplina, que são dois dos aspetos em que trabalhamos mais arduamente aqui na escola, uma vez que se traduzem numa segurança para os pais e que potenciam a acentuada procura da nossa escola.
Para se ter uma ideia da evolução e do caminho percorrido, há uns anos, a Escola Segura precisava de intervir quase todos os dias, neste momento, vêm à escola cumprimentar-nos. Claro que continuamos a atuar e a agir disciplinarmente, quando necessário, mas, por outro lado, também praticamos a política do elogio… atribuindo prémios de mérito cívico e académico, através dos quais oferecemos um diploma e um débito de 35€ a cada aluno.
Efetivamente, o instrumento orientador da escola – Projeto Educativo, que neste momento se encontra em fase de revisão, enquanto instrumento de gestão e de autonomia, define a orientação educativa da escola, destacando a missão, a visão e os princípios e/ou valores orientadores das atividades a desenvolver. Constitui-se como um documento central no apoio aos órgãos de gestão nas suas opções estratégicas de desenvolvimento organizacional, no desempenho da atividade docente e, por conseguinte, na ajuda aos pais na escolha da Escola que pretendem para os seus educandos. Neste Projeto os princípios orientadores coincidem com os valores fundamentais que devem pautar toda as decisões e atividades no seio da comunidade escolar. Pretende-se uma escola inclusiva, que prepare os alunos para os desafios académicos, profissionais, ambientais e digitais. Uma escola que forme alunos/cidadãos orientados pelos valores da cidadania democrática, da solidariedade, da diversidade. Uma escola de alunos/cidadãos competentes nas diversas literacias, mas com espírito crítico.
Neste momento somos uma escola de referência ao nível da educação, disciplina, limpeza e segurança. Ambicionamos ser uma escola de referência na preparação dos alunos para o mundo em constante mudança, uma escola com envolvimento e participação da comunidade educativa.
Há mais de dez anos que a Escola arrecada o galardão Eco-Escolas. A preocupação ambiental é um valor que procuram transmitir aos vossos estudantes?
Claro que sim, o programa existe para encorajar ações e reconhecer o trabalho de qualidade desenvolvido pela escola, no âmbito da Educação Ambiental para a Sustentabilidade. Mas esse galardão não é o único… Foi-nos, também, atribuído o selo de Escola Verde e, no nosso corpo docente são vários os professores ligados a causas ambientais. Fazemos um trabalho intensivo ao nível da recolha de plástico, papel, pilhas… temos vários projetos relacionados com o ambiente e com a sustentabilidade. Tentamos cumprir o que está legislado ao nível da alimentação, do apoio aos alunos, da saúde… temos uma equipa forte ao nível do PES – Projeto de Educação para a Saúde -, e certamente foi devido a este trabalho que nos foi atribuído o Selo da Escola Saudável 21-23, do qual tomei ontem conhecimento. Desconhecemos, ainda, o nível de certificação.
Sabemos que esta é uma escola dinâmica e ativa em termos de projetos e atividades que dinamiza. Já têm projetos previstos para concretizar este ano? Algum que tenha sido interrompido e que vá ser agora retomado?
Efetivamente, esta é uma escola, por tradição, muito dinâmica. São vários os projetos em que estamos envolvidos. A título de exemplo, Projeto Turmas Solidárias, Projeto de Promoção para a Dádiva de Sangue, Parlamento dos Jovens, Olimpíadas de Biologia, Geologia, Matemática e Física, Projeto “HeForShe”, Programa Escolas Ubuntu, entre outros. Com efeito, a situação pandémica vivida nestes últimos anos, obrigou à interrupção das atividades. Estávamos envolvidos num projeto europeu do ERASMUS+, GIS4Schools, relacionado com o ambiente – alterações climáticas, em conjunto com escolas de Espanha, Itália, França e Roménia, que agora retomámos. No final do mês de novembro, participaremos num encontro em Itália e, ainda durante este mês, vamos receber algumas instituições, entre as quais, o Centro Hidrográfico do Seixal. E estamos constantemente à procura de novos projetos em que nos possamos envolver e dinamizar.
Os alunos são participativos e interventivos nos projetos dinamizados pela escola?
A nossa escola é constituída por alunos de uma classe média-alta, o que se traduz numa elevada envolvência por parte dos alunos e, também, dos pais. Contudo, temos também muitos alunos de classe média-baixa que, devido aos poucos recursos das famílias, infelizmente, são menos participativos. No entanto, uns alunos puxam e incentivam os outros e isso é extremamente benéfico. Como referido, já iniciámos o programa de Mentorias que permite uma dinâmica de interajuda muito grande. Mas, a intervenção dos alunos também se vê na limpeza dos espaços. Uma escola como a nossa, que tem um défice de funcionários significativo e se consegue manter sempre limpa é, também, porque há um esforço por parte dos alunos. Nas câmaras de vigilância, por vezes, vejo um aluno a mandar um papel para o chão e há outro que vê e, ou vai ter com ele para o chamar à atenção, ou apanha o papel e coloca no lixo… Mesmo os alunos mais indisciplinados, por serem uma minoria, acabam por se adaptar e ceder à influência positiva da maioria dos colegas.
Qual o impacto e a influência que estes projetos têm nas aprendizagens e na formação social dos alunos?
O impacto é muito significativo e muito positivo, especialmente quando falamos em projetos que envolvem comunidades além fronteiras. O contacto com outros alunos, com realidades diferentes, línguas diferentes é muito enriquecedor. Quer do ponto de vista das aprendizagens, quer ao nível da socialização e aquisição de competências pessoais, sociais e cívicas dos participantes. Alguns alunos querem e pedem para participar nos projetos. Por exemplo, um conjunto de alunos pediu especificamente para participar na revisão do projeto educativo da escola. Querem contribuir com as suas ideias, querem intervir. E isso é muito gratificante. No caso concreto das redes sociais, a escola tem uma página no Facebook, mas, muitas vezes, são eles que fazem essa gestão pois têm mais competências nessa área.
Em termos de oferta formativa vocês dispõem de cursos profissionais e científico-humanísticos. Os cursos profissionais têm sido uma aposta crescente?
A escola oferece três cursos ao nível do Ensino Profissional que já funcionam há mais de quinze anos e continuam a ter muita procura: Técnico/a de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, Técnico/a de Vendas e Marketing e Técnico/a de Apoio à Gestão Desportiva. Entretanto já tentámos implementar outros cursos, mas como não tiveram muita procura, acabámos por nos focar apenas nestes três que têm tido um enorme sucesso, com muitos dos nossos alunos a encontrarem, posteriormente, emprego na área. Estes cursos conferem o nível 4 de qualificação do Quadro Nacional de Qualificações e permitem, ainda, adquirir experiência profissional e prosseguir os estudos em Cursos Técnicos Superiores e Profissionais e em Licenciaturas/Mestrados.
A vossa escola tem um elevado número de alunos do 12º ano, quais são as competências e aprendizagens que considera fundamentais serem adquiridas na passagem dos jovens pela sua escola?
Os alunos dos cursos científico-humanísticos que pretendem ir para o ensino superior devem adquirir aqui as bases necessárias para conseguirem prosseguir estudos. E isso, de um modo geral, tem vindo a ser conseguido, o que muito nos congratula. Se olharmos para o número de alunos que apresentam candidaturas ao Ensino Superior e consegue colocação, ficamos com essa perceção. Mais ainda, se atentarmos nos quatro quadros expostos na entrada da nossa escola, onde constam a distinção de melhores alunos das universidades de quatro ex-alunos que prosseguiram estudos em áreas exigentes como algumas engenharias, nomeadamente, engenharia aeroespacial, que é dos cursos com média de entrada mais elevada.
Temos, no entanto, a humildade de reconhecer que esse mérito é, em grande parte, dos estudantes, mas a qualidade do ensino, por ação dos professores que os prepararam para essa
etapa, também tem a sua importância. Trabalhamos arduamente para prestar aos nossos alunos um ensino de qualidade. Nesse sentido, implementámos um projeto na escola que requer muito esforço e dedicação por parte dos professores e diretores de turma, mas que tem dado frutos, e que permite um ensino mais
individualizado – Projeto Zeca+. Quando detetamos que um aluno está com dificuldade numa determinada aprendizagem, é proposto para apoio e as aprendizagens são reforçadas individualmente com o professor. Quando não somos nós a propor este reforço, são os pais que dirigem o pedido à escola. Este é um esforço que fazemos para termos índices elevados de sucesso escolar. São poucos os estudantes com disciplinas em atraso e ainda menos a abandonarem a escola. Quando fazemos os horários temos especial atenção para que os alunos não tenham “furos” entre as aulas e para que tenham horários que lhes permitam ter horas de estudo e de lazer. Pretendemos com esta ação, dar aos nossos jovens a oportunidade de um ensino de qualidade, onde as aprendizagens visam promover o desenvolvimento de competências que consideramos essenciais. Pretendemos que os alunos, neste ano terminal de ciclo, aprofundem e ampliem conhecimentos, capacidades e atitudes, no sentido de atingirem o perfil esperado à saída do ensino secundário.
Este é o seu primeiro mandato enquanto diretor, o que espera alcançar?
Espero melhorar, sempre! Costumo dizer que para atingir o topo é fácil, manter-se lá é que é difícil. Eu quero subir o nível e manter-me nele. A escola funciona bem em termos de disciplina e isso é para manter, em termos de resultados é para melhorar. A minha missão, desde que entrei para esta escola, é trabalhar para e com os alunos. Este é um trabalho diário. Quero que os alunos e demais comunidade educativa, se sintam bem aqui na escola. Quero que os pais sintam confiança em deixá-los aqui.
Quero uma escola que construa o sucesso escolar dos alunos, sabendo que esse objetivo assenta, essencialmente, na disponibilidade, dedicação e profissionalismo de todos os elementos da comunidade educativa. Acredito que para construir uma Escola de hoje e para o futuro – moderna, inovadora, promotora do sucesso escolar – é absolutamente necessário, com consciência do passado, estar inteiro no presente e projetar o Futuro. Este é o meu desafio!
Para este ano letivo o que gostava de implementar e dinamizar?
Gostava de ter mais projetos europeus, é uma aposta minha. Fazer uma divulgação eficaz do que se faz na escola, porque ainda existe pouca difusão e fazem-se projetos ótimos, com ótimos resultados e que não passam para o exterior. Quero trabalhar mais e de forma mais articulada com instituições de ensino superior, nomeadamente, estabelecendo protocolos como forma de estreitar experiências entre estes dois níveis de ensino. O choque que os alunos sentem quando chegam a estas instituições de ensino, ainda, é muito grande, as diferenças são muitas. Nesse sentido, queremos trabalhar mais estreitamente, convidá-las a vir à nossa escola e criar uma passagem mais suave e positiva entre estes dois níveis de ensino.
Um aluno que termine os seus estudos na Escola Secundária Dr. José Afonso quais as competências sociais que deve ter adquirido?
O nosso objetivo é formar cidadãos solidários, com consciência cívica e ecológica e hábitos de vida saudáveis. Pretendemos que sejam cidadãos ativos, preocupados e empáticos com sentido de responsabilidade social.
Se tivesse de descrever esta escola numa frase apenas, qual seria?
A escola é uma referência no concelho.