Isabel Ferreira é Secretária de Estado da Valorização do Interior, licenciada em Bioquímica, mestre e doutorada em Química. É uma das investigadoras mais citadas do mundo (top 1%), tendo sido distinguida nos últimos sete anos no índice Essential Science Indicators, um dos mais prestigiados indicadores da qualidade de investigação. Nesta entrevista, Isabel Ferreira abordou a importância da coesão territorial e o papel fulcral dos jovens no desenvolvimento de um país equilibrado.
Ouve-se frequentemente falar sobre a coesão territorial e a descentralização do país, mas qual é a importância de existir e de fomentar uma coesão territorial no nosso país?
Só podemos ter um país equilibrado se tivermos um desenvolvimento justo de todas as regiões e isso é garantido através da coesão territorial. Sabemos que hoje em Portugal, a par dos países do norte da Europa, vive-se uma tendência de concentração populacional em determinadas áreas urbanas, muitos municípios perdem população. Por isso, precisamos de ter abordagens sistémicas, estruturais que combatam estas características que se verificam no país, no que diz respeito ao envelhecimento da população quer à tendência de concentração da população em determinadas áreas. De forma a garantir que a massa crítica da população interna e aquela que consigamos conseguir captar através de movimentos migratórios que se distribua de forma igualitária ao nível de todo o território, de forma a formar um país desenvolvido com as mesmas oportunidades. Neste aspeto, a tónica deverá ir para as pessoas e para a população porque são elas que constituem a massa crítica e que contribuem para o desenvolvimento de dinâmicas nacionais que trarão riqueza e prosperidade a todos os locais ao nível nacional.
Na sua opinião e de acordo com a sua experiência e sensibilização para a temática, de que forma podem os jovens contribuir para uma coesão territorial?
Os jovens são o mais importante, representam o futuro de qualquer nação. Hoje os jovens têm a oportunidade de fazer a sua formação em todo o país, ao longo dos últimos anos tivemos um franco desenvolvimento que nos permite, atualmente dizer que a formação a qualquer nível de ensino, pode ser feita em todo o país. Existem instituições do ensino superior em todo o território, portanto, pode se fazer a sua formação superior no local ou junto ao local onde vivem. Associa-se a formação à ciência, ao conhecimento, à tecnologia e para além de Instituições do Ensino Superior, temos muitas outras estruturas distribuídas uniformemente em todo o país, como Centros de Investigação, Centros de Interface, Laboratórios Colaborativos, Laboratórios associados que criam os seus próprios ecossistemas muito propícios à capacitação e à formação, mas acima de tudo, ao incentivo à contração de jovens qualificados. Portanto, é cada vez mais importante que os nossos jovens ganhem competências e qualificações para conseguirem ser inseridos no mercado de trabalho com as suas qualificações. Quanto mais preparados e maiores qualificações tiverem, maior o impacto que irão provocar no mercado de trabalho, e nas cadeias de valor, onde os seus serviços estiverem inseridos.
Quais são as vantagens para um jovem de 18 anos em candidatar-se para uma Universidade no interior do país ou para um jovem do interior se manter na sua área de residência?
O interior tem um custo de vida mais baixo que oferece, por essa razão, uma melhor qualidade de vida. Um jovem pode ter o mesmo salário que um jovem inserido num grande centro urbano, mas com a vantagem de ter um custo de vida mais reduzido, e por consequência a qualidade de vida desse jovem é incomparavelmente superior. O interior oferece o privilégio de viver num local com um elevado património histórico e natural. Cada um de nós sente que o ritmo a que vivemos é bastante acelerado, contudo, em zonas de menor pressão demográfica, os jovens têm a possibilidade de serem eles a marcar o seu próprio ritmo, e são eles que influenciam e marcam a evolução da humanidade e consecutivamente das regiões onde vivem. Hoje é possível através trabalhar e comunicar a partir do interior para qualquer parte do mundo. A rede de teletrabalho no interior foi criada recentemente e já tem 57 espaços de teletrabalho, distribuídos por todo o interior de norte a sul, e que permite que um jovem possa trabalhar a partir do local onde se encontre para o resto do mundo. Para além de todas as medidas existentes é importante para fixar a população, a criação de territórios dinâmicos que ofereçam emprego, por isso é sempre importante que exista investimento empresarial, para a criação de novos postos de trabalho. As nossas políticas públicas também se alicerçam no apoio à competitividade dos territórios, que passa por este investimento privado, contudo, sem descurar, a presença e a importância de serviços públicos. Todos nós gostamos de viver em locais com bons serviços públicos, acesso à saúde, educação e cultura.
Quais são os apoios existentes atualmente para estudar no interior do país? E por outro lado para um recém licenciado se fixar em zonas de menor pressão demográfica.
Existem vários apoios e estímulos fruto das políticas públicas do Governo que procuram atrair e fixar os jovens no interior, o que reflete a preocupação governamental em criar uma cobertura territorial ao nível da formação dos jovens. Estes incentivos podem ser subdivididos em duas vertentes: a da formação e capacitação de jovens e a do incentivo ao emprego qualificado. Relativamente à primeira vertente saliento, por exemplo, o Programa Mais Superior que atribui bolsas de estudo aos alunos que frequentam instituições de Ensino Superior do interior. Um outro estimulo muito atrativo é a existência de benefícios fiscais para jovens que estudam no interior relacionados com o alojamento, alimentação, propinas. Na vertente do emprego qualificado, existe também o incentivo aos Cursos de Curta-Duração (CTeSP) em ambiente de ensino superior que capacitam os jovens, de uma forma muito próxima às realidades empresariais, com o objetivo de facilitar a inserção dos jovens no tecido empresarial de diferentes regiões. Saliento também as políticas de apoio à contração de recursos humanos altamente qualificados (licenciados, mestres, doutorados) que têm sido contratados para territórios no interior. Programa +CO3SO Emprego que apoia os salários dos trabalhadores durante 36 meses e 40% adicional para investimento associado a esses postos de trabalho. Este programa tem conseguido atrair e fixar jovens em todo o território com o objetivo de trazer prosperidade a todas as regiões nacionais.
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