“Percam mais tempo a definir qual vai ser a vossa escolha”
Quem o diz é o Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira, que te vem explicar como o ensino tem vindo a mudar, juntamente com o mercado de trabalho, e como deves fazer para tomar a decisão mais acertada nesta nova jornada.
O que devem os alunos ter em mente na escolha de uma área e de um curso no acesso ao Ensino Superior? A empregabilidade é o fator definidor, ou há outros?
O primeiro fator que deve ser tido em conta é a capacidade do que é a tendência do próprio aluno. Aquilo que é a nossa vocação deve ser algo determinante. E não podemos pensar, quando vamos tirar um curso superior, que esse curso superior é um fim em si mesmo. A questão da empregabilidade é também uma questão que tem de estar patente, mas não apenas como o único elemento decisivo, até porque os empregos de hoje podem não ser os empregos que vão existir daqui a dez anos. As escolhas dos alunos ainda são muito baseadas numas espécies de perceções sobre aquilo que pode vir a ser essa realidade, ou com base na “moda” e no que está a dar, ou no que é “correto”. É importante deixar esta mensagem: percam mais tempo a definir qual vai ser a vossa escolha, porque rapidamente decidimos com base em perceções mais do que com base na realidade.
Vão os alunos encontrar no Ensino Superior escolas e cursos ajustados ao mercado de trabalho de hoje, às profissões que dão mais emprego e às suas exigências?
Nós nunca estamos bem e esse deve ser o princípio de uma felicidade na angústia de nunca termos atingido aquilo que desejamos. Devemos procurar sempre melhores situações. É difícil fazer a adivinhação sobre quais vão ser os cursos no futuro, porque o futuro muda muito rapidamente. É fácil perceber que há ferramentas necessárias, como as digitais, que são hoje globais, independentemente da área de formação. Hoje, com a abertura de espírito que a própria crise pandémica criou, queremos aproveitar para ensinar mais do que a aprender: queremos ensinar a aprender a aprender. Ou seja, mais importante do que o que o professor pode ensinar ao aluno, é o professor ensinar o aluno a aprender. Hoje a relação do ensino de aprendizagem pode ser diferente: pode ser um ensino mais baseado em casos que são colocados e em resoluções de problemas reais, em que o próprio aluno é ensinado a aprender, para que esteja treinado não para produzir o que aprendeu, mas para conseguir responder.
Como podem os alunos aproveitar a sua passagem pelo Ensino Superior para começarem, desde logo, a diferenciar o seu currículo? O que fazer para além de tirar boas notas?
A questão de ter uma boa classificação é determinante, mas a formação ao nível do Ensino Superior vai muito além daquilo que é a média do aluno. Daí se perceber que o ensino presencial e o ensino dentro das instituições é determinante para a formação da pessoa, se não podíamos estar cada um em sua casa a competir por mais uma milésima na nota final do curso. As instituições de Ensino Superior têm também disponibilizado aos alunos a aquisição de soft skills ao longo do percurso formativo, com formas de ensino extracurriculares. Isto porque hoje, cada vez mais, as coisas são feitas em grupo e em trabalho. E portanto a noção daquela pessoa que, com o seu tempo, contribuiu para o bem coletivo, é uma demonstração que essa pessoa no mercado de trabalho vai também ter o mesmo altruísmo de disponibilizar o seu tempo e a sua capacidade para um bem coletivo. É alguém que deixou de estar em casa, porventura a usufruir de alguma atitude de lazer, ou a tentar subir mais uma milésima, mas disponibilizou o seu tempo para uma equipa na qual o seu contributo é determinante para a vitória coletiva.
Considera que a atual pandemia pode contribuir para uma mudança no Ensino Superior a nível dos horários letivos e dos próprios métodos de aprendizagem? E como?
Nós achamos que há uma excessiva carga letiva, digamos, em sala de aula. Não quer dizer que seja presencial… Há uma carga excessiva letiva em sala de aula com os estudantes, e portanto eu acho que a pandemia demonstrou aqui uma coisa: nós temos que também estar satisfeitos e de certa maneira motivados e orgulhosos com aquilo que foi a resposta das instituições de Ensino Superior à pandemia. De um momento para o outro as instituições de Ensino Superior passaram de uma forma letiva face to face para uma forma letiva à distância. Pessoas que nunca tinham sido treinadas para isso. Portanto, essa capacidade de se adaptar que os docentes e as instituições de Ensino Superior demonstraram foi impressionante.
O valor das propinas e a dificuldade crescente de encontrar alojamento a um preço comportável são algumas das principais preocupações dos estudantes e das suas famílias. O que está o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a fazer para democratizar cada vez mais o acesso ao Ensino Superior?
Bom, esse tem sido o nosso grande objetivo. A democratização do acesso ao Ensino Superior. A melhor forma de nós gerarmos igualdade entre as pessoas é através da qualificação. Portanto a melhor forma de fazermos as migrações sociais, de fazer a igualdade social, é fazer do Ensino Superior um elevador social. Já no anterior Governo e agora com este, sob a liderança do Primeiro-Ministro António Costa, nós tivemos pela primeira vez na história uma redução substancial das propinas. Temos pessoas que acham que esse financiamento devia ir mais para a ação social e para reforço dos estudantes que possam ter menos recursos. Por outro lado introduzimos aqui a modificação que fizemos para o acesso dos cursos profissionais e artísticos, com a implementação dos CTeSP, que mostra de facto a abrangência do conjunto de pessoas e de famílias. O meu sonho seria que nós daqui por uns anos pudéssemos ter, de facto, um Ensino Superior praticamente gratuito, no sentido em que esse Ensino Superior seria uma generalização que se oferecia à população portuguesa como uma forma, de facto, de a democratizar e de a igualar.
Texto de: Beatriz Cassona
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