Já todos os conhecem e não precisam de grandes apresentações. Guilherme Alface, João Direitinho e Mário Monginho compõem o trio musical possuidor da capacidade de colocar qualquer um a cantar e muitos a suspirar, com os singles que animam ao mesmo tempo que ajudam e aconselham. Os ÁTOA lançam-se sempre de cabeça para cada projeto: “Sem medos” é o último álbum lançado que tem dado muito que contar.
Foi “Sem Medos” que criaram o novo álbum?
João: Completamente.
Guilherme: Foi sem medos que o criámos, sem medos agora e pelo menos até para o ano.
Deu muito trabalho a fazer este álbum? Como foi a vossa dinâmica de trabalho?
Guilherme: Deu bastante, já há dois anos que trabalhamos bastante com um rapaz que admiramos imenso, é um quarto elemento dos ÁTOA, é o nosso produtor, o Twins. Começamos a trabalhar neste álbum com ele em julho de 2018 e foi logo do início que deu ideias, que tentamos perceber o objetivo que queríamos para o álbum sermos autocríticos com letras, melodias, instrumental gravamos tudo em estúdio, foram longos meses de trabalho e este foi o resultado final.
“A ‘Diferença’ é uma música que foi inspirada em algumas fãs de quem recebemos mensagens”
Qual foi o single que vos deu mais trabalho?
João: Acho que foi a “Diferença”. Nenhuma música foi feita assim logo lançada, estiveram na fábrica, foram à revisão.
Mário: Há músicas que deram mais dor de cabeça por acreditarmos que faltava sempre aquele “bocadinho”.
Guilherme: A “Diferença” foi a nossa última música lançada e com este álbum tentámos pegar em alguns assuntos que conseguíssemos falar com as pessoas através das nossas músicas, de forma, a que ela fosse meia interventiva. Ou seja, a “Diferença” é uma música que foi inspirada em algumas fãs de quem recebemos mensagens. De quem acaba de passar por um mau bocado, que chega até à depressão ou pode querer atingir um estado pior e cometer suicídio. Já recebemos mensagens que demonstraram alguns sintomas disso e quisemos pegar nisso e lançar alguma música que tivesse uma mensagem importante para as pessoas. Mesmo na música mais difícil tivemos de ter cuidado com a letra e acho que a mensagem no fim percebe-se bem.
“Saber que as nossas palavras podem influenciar positiva ou negativamente alguém é das coisas mais lisonjeadoras que pode haver”
Mas ajudaram diretamente algumas das vossas fãs?
Mário: Chegámos a falar com elas, claro que sim, também nos cabe isso. Não somos inatingíveis de todo e uma mensagem às vezes transmite:“está tudo bem, calma!”.
Guilherme: Temos de ter consciência de que falamos em fãs de 13, 14, 15 anos, já tivemos casos de raparigas que nos disseram: “vocês ajudaram-me a ultrapassar uma fase muito complicada da minha vida, o meu pai morreu o ano passado e vocês foram a minha ajuda” e nós sem sabermos.
Mário: Vêm ter connosco e dizem “ era difícil atingir certas coisas para mim e agora já consigo”. Na nossa festa de lançamento do novo álbum, algumas fãs que ganharam um passatempo para irem ver o nosso concerto intimista vieram ter comigo e uma confessou-me que com o “Pensa Positivo”, que é um single acompanhado por um videoclip motivacional, teve a força finalmente para fazer uma operação Sleeve, uma redução estomacal que ajuda as pessoas que já estão obesas a emagrecer. É positivo para nós porque não dissemos nada diretamente à pessoa, mas estava a ouvir a música e pensou “esta é a força que precisava para marcar a cirurgia”. Saber que as nossas palavras podem influenciar positiva ou negativamente alguém é das coisas mais lisonjeadoras que pode haver.
Além dessa mensagem de ajuda, que mais queriam e tentaram passar neste álbum?
João: Acho que de um forma mais pop falamos de relações amorosas e tentamos passar às pessoas uma mensagem que se estão numa relação em que a pessoa é abusiva e que não dá liberdade, para se livrarem disso”. Estamos a falar de uma relação como poderíamos estar a falar de outras coisas. Podia ser um mau hábito, uma rotina, uma amizade, qualquer coisa.
Mário: O “Hoje” é uma estória de Romeu e Julieta, mas o “Sem ti” se prestarmos atenção à letra, dá para perceber que foi um casal que entrou para uma relação e há uma das partes, independentemente se for rapaz ou rapariga, que está claramente descontente com a relação. Está a prejudicar a própria vida e liberdade. É uma maneira diferente de dizer “se estão a passar por algo negativo ou por violência psicológica, há maneiras de sair”. Cantamos isto de uma maneira mais divertida, mas também de uma maneira real. Queremos dizer: “não se prendam a uma coisa que não é assim tão boa”.
Qual foi o momento mais caricato que tiveram com um fã?
João: (Risos) No início dos ÁTOA as pessoas estavam a reconhecer a “distância”, estávamos no backstage, eu estava falar com um técnico e de repente um grupo de nove ou dez pessoas começa a chamar-me. Eu “de peito feito” a pensar que me queriam, chego lá e dizem “Chama o Gui, por favor” (risos).
[Foto: cedida pelos entrevistados]