Filha de pais germânicos, nasceu em Sagres e foi lá que aos 13 anos começou a praticar bodyboard. Compete desde 2002, foi várias vezes campeã nacional e europeia, mas apenas o ano passado conseguiu participar em todas as provas do circuito mundial de bodyboard – o APB World Tour. 2017 foi finalmente o ano em que pôde celebrar, e em casa, a conquista do troféu que lhe faltava. Joana Schenker é campeã mundial de bodyboard.
Portugal tem o Kikas no surf, que é atualmente o 13º do mundo, e o Vasco Ribeiro e a Carol Henrique, que estão no circuito de qualificação e dentro dos 35 melhores. No bodyboard, tu és a número 1, e a Teresa Almeida, a Carina Carvalho, a Teresa Padrela, a Mariana Rosa, a Madalena Pereira, o Dino Carmo e o António Cardoso estão todos dentro dos
20 melhores do mundo. Mesmo assim, o surf é mais popular em Portugal. Porquê?
É um bocadinho difícil responder a essa pergunta porque isso já acontece há anos. Aliás, só agora é que estamos a ter atletas na elite do surf, há uns anos atrás não havia ninguém. Eu acho que passa pelo facto das marcas terem mais dinheiro. O problema é sempre esse. E desde o início que o bodyboard é uma modalidade mais humilde e que acaba por não ter as mesmas hipóteses. A mim faz-me confusão, porque não entendo qual é a razão. Acho até que é uma coisa que não acontece só em Portugal, acho que vem de fora. Sempre houve este tipo de rivalidade, e essa rivalidade passou para as marcas.
“Não estava nas minhas contas ser campeã mundial este ano, mas felizmente aconteceu assim e é uma recompensa pelo meu trabalho.”
És a primeira atleta na história do bodyboard português a conseguir este troféu. Como conseguiste?
Acho que se deve aos muitos anos que levo nesta modalidade. Já compito há quinze anos, comecei nos Juniores, depois nos Opens, e depois no Europeu. Consegui ir evoluindo nos meus resultados, culminando agora no Mundial, depois de muitos anos de dedicação ao desporto. Quase que acabou por ser uma coisa natural, num percurso ascendente. Apesar disso, não estava nas minhas contas ser campeã mundial este ano, mas felizmente aconteceu assim e eu vejo isso como uma recompensa pelo meu trabalho.
Como é um dia normal na tua vida?
É muito fácil. O mar é que manda no meu dia. Normalmente acordo cedo e vou logo ver o mar. Se houver condições boas, a primeira coisa que vou fazer é surfar. Depois volto a casa para almoçar e vejo as condições para a tarde. Se estiver bom outra vez vou surfar, se não fico em casa, faço outro tipo de treino fora de água, flexibilidade, força, resistência, e também respondo a todos os e-mails e trato dessas coisas que ficam por fazer. Quando não há ondas tento fazer o máximo de trabalho, de maneira a nos dias bons poder estar descansada.
Como é que se opta por uma carreira profissional nesta modalidade sem se ter todos os apoios necessários?
Eu acho que acaba por não ser bem uma opção planeada. É mais uma coisa que começa com uma paixão de miúda, e que depois começa a dar alguns frutos em competições. E aí aparecem os primeiros apoios, que mesmo que sejam poucos já dão alguma motivação. No meu caso, antes de me aperceber já estava a competir quase a tempo inteiro, e acabei por ter de tomar a decisão ou de ir para a faculdade ou de continuar a competir. Aí sim já foi mais complicado! Optei pelo bodyboard e foi aí que tudo ficou mais sério. Já sabia que tinha de trabalhar para ter bons resultados, porque também era isso que me ia ajudar a ter apoios, que só foram aparecendo de uma forma muito lenta. Durante muito tempo tive ajuda dos meus pais, do meu namorado e de outras pessoas, e acabei por ter muitos part-times para ter um bocadinho mais de dinheiro para investir no bodyboard.
Como é que se escolhe a melhor prancha de bodyboard?
Normalmente a prancha é escolhida consoante o tamanho e o peso de cada um. A altura deve ser, mais ou menos, pelo umbigo. Depois, deve ter a grossura e a largura adequada ao peso da pessoa. Para uma pessoa maior e muito mais pesada, a prancha deve ser mais grossa para flutuar mais. As pranchas parecem todas iguais mas não são e isso faz muita diferença. Os materiais também podem ser diferentes dependendo da temperatura da água, pois esta modifica um bocadinho o material. Depois, a prancha de bodyboard não chega. É preciso ter umas barbatanas, a que nós chamamos pés de pato, que fazem conjunto. O fato já é mais uma questão de conforto para combater o frio, mas já há quem não use fato.
Que conselhos tens para jovens que queiram começar a desenvolver uma carreira no bodyboard?
Tenho de lhes dizer para não desistirem, para serem persistentes quando forem à procura de apoios e quando forem falar com marcas, porque essa é a parte mais difícil. Mas não desistam porque há coisas que levam um certo tempo a conseguir, mas no final acho que recompensa sempre. Depois também gostava de dizer que foi a melhor coisa que eu fiz, foi a melhor escolha da minha vida. Não estou nada arrependida de ter trocado os estudos pelo bodyboard, porque acabei por fazer aquilo de que mais gosto profissionalmente. Eu sei que consegui porque não desisti, e também não pensei que estava a tomar uma decisão errada. Sempre acreditei que era possível e acabou por ser!
[Reportagem: Afonso Alexandre]
[Fotos: Cedidas pela entrevistada]