Se pensas que o surf português se resume ao Kikas, estás muito enganado. O campeão nacional de 2017 ganhou o título pela quarta vez e está cada vez mais próximo da World Surf League. Ele é o Vasco Ribeiro, e às portas da sua participação no MEO Rip Curl Pro Portugal, fomos conversar com ele sobre a carreira, os segredos do sucesso e os planos para o futuro.
Para as pessoas que ainda não te conhecem bem, quem é o Vasco Ribeiro e como é o teu surf?
É uma pergunta difícil… Sou trabalhador e adoro desafios. Gosto muito de improvisar e de não pensar uma coisa do início ao fim, de ir surfando da forma mais criativa possível. Acho que é isso que me faz ter sido já por quatro vezes campeão nacional e ter conseguido alguns resultados positivos no circuito internacional. Mas ainda há muito para trabalhar e muito para evoluir!
Como é que começaste no surf e porquê esta modalidade?
O meu pai fazia surf – aliás ainda faz hoje em dia – e a minha mãe quando era pequena também fazia. O surf não existia profissionalmente, mas já estava muito presente na minha família. E foi por volta dos seis ou sete anos de idade que decidi começar a experimentar também, de vez em quando e a seguir às aulas, até que por volta dos nove anos percebi que era esta a minha paixão e que era o que eu queria fazer.
O que é preciso para se ser o melhor surfista de Portugal? Como é que se faz um campeão?
É preciso muito trabalho e é preciso conseguir abdicar de algumas coisas, como jantares com amigos e saídas à noite. Torna-se um bocado difícil, especialmente quando se tem dezasseis ou dezassete anos, mas temos de estar o mais focados possível no nosso objetivo, ter vontade de trabalhar e de melhorar um bocadinho todos os dias.
Quão diferente é a realidade da ideia generalizada que existe dos surfistas – malta bronzeada, que está sempre na praia e que usa roupa de marca?
Há surfistas que têm roupa fixe, claro, mas há também muita concentração, muito treino físico e muito psicologia envolvida. E depois temos de treinar todos os dias e estar na praia no verão, mas também no inverno, quando está a chover e mesmo quando não há boas ondas no mar.
Como está organizado o campeonato nacional de surf, e as provas internacionais nas quais participas?
A nível nacional existem cinco etapas de norte a sul do país. Começamos na Ericeira, seguimos para o Porto, vamos à Figueira da Foz e à Praia Grande e acabamos em Cascais. Começamos mais ou menos em março e acabamos agora em outubro. Dessas cinco provas contam as quatro melhores de cada surfista, e são esses quatro resultados que são somados no fim do ano para ver quem é o campeão do circuito.
Ao nível da World Surf League (WSL) são muito mais etapas, e andamos pelo mundo inteiro. No início do ano temos de estruturar tudo muito bem, ver onde queremos ir e o que faz sentido para nós, e depois é atacar com tudo.
O principal campeonato a nível mundial é o Championship Tour. Como se designam as provas onde participas?
Eu estou na Qualifying Series, que é o circuito de qualificação. Depois há o circuito mundial, que é onde está o Kikas e onde estão os 22 melhores que chegaram lá através do circuito de qualificação. Todas estas provas fazem parte da World Surf League.
Vais agora participar no MEO Rip Curl Pro Portugal em Peniche, que é uma das provas do circuito mundial. Quais são as tuas expetativas e os teus objetivos?
Quero basicamente aproveitar a experiência. A oportunidade de surfar com os maiores nomes do surf mundial durante doze dias e em Portugal é incrível! Obviamente que gostava de passar alguns heats e de fazer uma boa prestação, mas quero acima de tudo aproveitar a experiência ao máximo.
O percurso normal de carreira é entrar no circuito mundial, ou tu podes alcançar os teus objetivos e ser um grande surfista sem precisares de fazer parte desse lote?
Há dois tipos de surfistas. Há o típico competidor, que compete na WSL e nos outros circuitos, e há também o free surfer, que anda pelo mundo a surfar as melhores ondas e a filmar e a fotografar esses momentos. Eu faço parte do primeiro grupo.
Quando é que nós podemos esperar o Vasco na WSL?
Espero para o ano já lá estar. Mas se não for para o ano que vem, será daqui a dois anos. Não dá para dizer exatamente quando será, mas é preciso tentar e continuar a trabalhar todos os dias.
[Entrevista: Tiago Belim com Afonso Alexandre]
[Fotos: Pedro Mestre/ANSurfistas]