Entrevista | Bispo: O dialeto (em verso)
Foi — numa velha tábua de pingue-pongue — que rimas cruas — e profundas — eram aperfeiçoadas, nascendo — inusitadamente — uma estrela.
Influenciado por Sam The Kid e Mind da Gap, as infinitas horas a jogar “Mega Drive” estimularam a gênese de um espaço de identidade, que toca sonoridades adultas e ecléticas — “Fora d’Horas” —, tornando-se um dos (prestigiantes) nomes da cena musical.
Algueirão-Mem Martins é um bastião do hip-hop — em Portugal. “Mentalidade Free” manifesta ser uma ode à resiliência — e à liberdade?
2725 é o caminho, que encontrei para me expor — perante uma sociedade, repleta de imposições, regras e padrões —, procurando colocar autenticidade — em cada passo — e fugir a expetativas externas.
Demonstrando uma composição acutilante, o mixtape “Recomeço” conduziu à estreia do primeiro álbum de originais, que reflete memórias ancestrais?
“Desde a Origem” espelha fragmentos de um passado, que ecoa — em “Lembra-te” e “Baú”.
O regresso às raízes pulsa lembranças de uma estrada — a transitar —, mediante histórias, que carregam pedaços e vestígios do que fui — e sou.
A assiduidade nas redes sociais constituiu um marco singular. Que papel desempenha o digital na transmissão de uma mensagem underground?
A internet abriu portas, que — antes — pareciam intransponíveis, rompendo barreiras e proporcionando autonomia e visibilidade a vozes principiantes.
Inicialmente, o percurso era árduo, exigindo persistência, tentativas incessantes e — muitas vezes — um acaso favorável, mas — agora — basta a canção certa — no momento certo — para multiplicar as possibilidades de sonhar mais alto.
O barómetro do sucesso reside em “dormir descansado”?
Sem dúvida.
O repousar a cabeça na almofada, sentindo a tranquilidade de quem deu tudo, reflete a plenitude de um esforço absoluto.
Ao reconhecer os erros — com o desejo de fazer melhor amanhã —, as peças alinham-se, aproximando-me dos objetivos, que planeio concretizar.
É — na paz interior — que habita o verdadeiro significado de vencer.
Com uma vertente — emocionalmente — inquietante, o registo discográfico expressa uma “versão superior”?
Se — em “Bispoterapia” — representava a agitação de um novato, o erguer do “Mais Antigo” — forjado pelo tempo e pelas vivências — relata cicatrizes, que se converteram no renascimento de um “eu” amadurecido — e consciente.
“Não Volto” — que termina com a declamação de um poema — desabrocha da auto-superação?
A necessidade de “separar as águas” levou-me a traçar limites e a desmembrar o essencial do efêmero, ambicionando celebrar vitórias e derrotas.
O rumo plantado recusa presenças, que só chegam — quando a mesa já está posta.
O modelo final de uma criação requer um processo linear?
Varia — consoante as marés.
Seguindo o instinto, ouço um beat, bebo um café e escrevo um refrão, onde a melodia surge — de forma espontânea —, atravessando — posteriormente — a alquimia da mistura e da masterização.
Após a conquista da categoria “Best Portuguese Act” nos MTV EMAs, apresentaste “Casa Portuguesa”. O rap une diversidades urbanas — e culturais?
A palavra é uma força indomável — e uma arma poderosa.
Outrora, incompreendido — e contemplado com desconfiança —, o estilo abraça dores, revoltas e amores — capaz de transformar realidades.
Voltando a cruzar direções, “Não Dá Pa Parar” — em colaboração com Papillon — é um fruto recente, que “não estava guardado na gaveta”?
A partilha — em estúdio — impulsiona — sempre — uma energia única, que ocasiona a absorção de ideias e flows.
Distanciando-nos da zona de conforto, o feat viabilizou o cruzamento de perspetivas — recheadas de pensamentos e hypes diferenciadores.
Saímos — com fome de continuar a produzir.
É — a 28 e 29 de março — que Lisboa te acolherá. O concerto — no Coliseu dos Recreios — ficará para a eternidade?
Claramente.
A renovação de um fôlego, que transcenderá o palco, simbolizará um capítulo irrepetível e consagrará a dedicação de uma carreira consistente.
Bora lá.