Entrevista | Rosário Alvarenga, Técnica de Intervenção Social da Ajuda em Ação
Para assinalar o Dia Mundial das Competências dos Jovens, Rosário Alvarenga, Técnica de Intervenção Social da Ajuda em Ação, reflete sobre os desafios do desemprego e a importância da inclusão para a promoção de melhores condições socioeconómicas, afirmando que “o acesso à Educação, o acompanhamento, a aprendizagem e a formação são elementos-chave.”
Propondo a reflexão sobre soluções, o Dia Mundial das Competências pretende alcançar melhores condições socioeconómicas para os jovens. Apostar numa Educação de qualidade, que prepare as gerações para uma integração ajustada e benéfica no seio empresarial, é essencial?
Acredito que apostar numa Educação de qualidade e na capacitação é essencial para que os jovens possam enfrentar os desafios do desemprego e alcançar melhores condições para si. É, por isso, muito importante apostar no desenvolvimento de competências relevantes como:
- Educação Técnica: Programas de educação técnica e vocacional podem dotar os jovens com habilidades específicas e adequadas às exigências do mercado de trabalho;
- Habilidades Transferíveis: Além das habilidades técnicas, é importante que os currículos educativos incluam habilidades transferíveis, como pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação eficaz, trabalho em equipa e empatia.
Estas duas competências são trabalhadas no ‘Bora Jovens, o programa de empregabilidade jovem da Coca-Cola em Portugal que é implementado por nós já em 18 cidades de norte a sul do país. Além disso, a nossa missão passa por garantir que todos os jovens que estão connosco, independentemente da sua situação económica e social, tenham oportunidade de fazer uma entrevista e tentar integrar o mercado de trabalho. Como o fazemos? Através de empresas integradoras que conseguem contratá-los.
O sucesso do programa ‘Bora Jovens da Coca-Cola em Portugal é indiscutível, tendo conseguido excelentes resultados ao dotar os participantes de ferramentas que lhes garantam mais oportunidades. Em que consiste?
É verdade. Já se inscreveram no programa 717 jovens, capacitamos cerca de 597 jovens em situação de exclusão social, já conseguimos integrar 195 no mercado de trabalho – o que é um verdadeiro sucesso! – e 69 voltaram a estudar porque sempre defendemos que a educação é uma ferramenta contra a pobreza.
No ‘Bora Jovens temos uma equipa de técnicos de intervenção social que dá formação aos jovens através de 15 sessões e os acompanha na preparação para as entrevistas. Ao longo de todo o programa, orientamos os jovens, ajudamo-los a perceber-se melhor, ao seu caminho, e treinamos competências ao nível da comunicação, hard skills e soft skills e priorizamos também um acompanhamento individual.
Como promovem a inclusão?
Somos pela inclusão e somos uma Fundação inclusiva. Isto é, queremos que todas as pessoas que apoiamos tenham acesso às mesmas oportunidades independente do seu contexto, nacionalidade ou outras diferenças individuais. Na Ajuda em Ação, compreendemos que as etapas da vida, como o começo de uma carreira profissional ou a procura do primeiro emprego, são momentos e transições fundamentais com impacto nas oportunidades de escolha e construção de um futuro próprio. O acesso à Educação, o acompanhamento, a aprendizagem e a formação são elementos-chave para alcançar a transição para o emprego.
Através dos nossos programas em Espanha e Portugal, fornecemos ferramentas para professores e oportunidades para jovens em aspetos fundamentais, como o estabelecimento de planos de orientação vocacional, a aquisição de competências e o conhecimento do contexto para identificar oportunidades. O nosso programa eMprende em Espanha, por exemplo, têm como objetivo promover a orientação profissional integral para jovens de 15 a 25 anos na Andaluzia, Extremadura e Galiza, aproximando o mundo do trabalho dos jovens a partir de uma abordagem multidisciplinar com base no trabalho em rede e no estabelecimento de parcerias público privadas que permitem uma adequação das necessidades formativas ao mundo laboral.
No caso do programa ‘Bora Jovens em Portugal, a aposta na capacitação dos jovens é crucial para a sua inclusão. Tal é conseguido através do apoio na construção do currículo, da formação e capacitação, do feedback contínuo, de avaliações adaptadas, da promoção da diversidade e respeito, sem esquecer a importância da sensibilização de empresas e parceiros para a causa.
Se combater o obstáculo de entrada no mercado de trabalho é o grande objetivo, o impulso ao prosseguimento de estudos e à aprendizagem ao longo da vida manifesta ser, igualmente, um mandamento fulcral para um futuro melhor?
Sim, o impulso ao prosseguimento de estudos e à aprendizagem ao longo da vida é fundamental para combater os obstáculos de entrada no mercado de trabalho e para construir um futuro melhor. O mercado de trabalho está em constante evolução, impulsionado por avanços tecnológicos e mudanças económicas. A aprendizagem ao longo da vida permite que os jovens atualizem constantemente as suas habilidades e conhecimentos, mantendo-se relevantes e competitivos. É por isso, fundamental que adquiram competências transferíveis, como o pensamento crítico, a resolução de problemas e a capacidade de adaptação, que contribuem para a vontade de investir numa educação contínua que pode criar oportunidades de carreiras mais gratificantes.
Nós na Ajuda em Ação promovemos a formação e capacitação de jovens nas áreas de saúde mental, finanças e cidadania para que possam tomar decisões informadas. Dito isto, considero importante que programas de capacitação e políticas educacionais sejam acessíveis e inclusivos, proporcionando um maior número de parcerias entre governos, empresas e organizações não governamentais para criar um ecossistema de aprendizagem contínuo que seja sustentável e eficaz.
Os avanços tecnológicos e as mudanças na dinâmica laboral exigem cada vez mais habilidades ágeis e adaptáveis. Que contributo detém a Ajuda em Ação na preparação para as exigências e a volatilidade do mercado de trabalho?
A Ajuda em Ação é uma organização dedicada ao desenvolvimento humano e à promoção da equidade e desempenha um papel crucial na preparação dos jovens para as exigências e a volatilidade do mercado de trabalho atual. O seu programa de capacitação oferece diversas contribuições importantes, nomeadamente no desenvolvimento de competências digitais, competências socio emocionais, mentoria e incentiva a aprendizagem contínua e fomenta o mindset de crescimento pessoal e profissional. Desta forma, os jovens tornam-se mais preparados e competitivos, aumentando as suas oportunidades de sucesso em ambientes de trabalho em constante mudança.
Ao estabelecer parcerias com empresas e outras organizações, a Ajuda em Ação facilita o acesso dos jovens a oportunidades de networking e empregos, integrando-os diretamente no mercado de trabalho.
Além disso, o facto de termos uma intervenção internacional permite-nos ter uma visão global e multidisciplinar beneficiando da experiência de outros programas de empregabilidade que a Ajuda em Ação tem implementado nos diversos países onde tem presença. A dinâmica funciona como um “Laboratório” onde recolhemos dados sobre as necessidades, dinâmicas dos mercados, bem como das suas exigências e claro, melhores práticas.
Face aos resultados do estudo do Observatório da Emigração, que aponta que 1 em cada 3 jovens portugueses vivem fora do país, o que falta fazer para reter o talento nacional e reduzir o desemprego jovem?
Consigo identificar vários pontos para que possamos assistir a uma redução do desemprego jovem, e consequente retenção do talento. Nomeadamente, garantir condições de trabalho dignas, incluindo benefícios sociais, segurança no trabalho e equilíbrio entre vida pessoal e profissional; oferecer incentivos fiscais para empresas que contratem jovens, ajudando a reduzir o desemprego juvenil; apostar em programas de formação adequados às exigências atuais do mercado de trabalho; promover o desenvolvimento económico fora das grandes cidades, criando oportunidades de emprego noutras regiões do país; e ouvir os jovens e as suas necessidades é crucial também.
Que desafios identifica no futuro?
Os desafios futuros serão significativos, uma vez que exigirão da Ajuda em Ação e dos jovens uma adaptação rápida e contínua às mudanças no mercado de trabalho. A preparação adequada, através de educação alinhada às necessidades do mercado, como temos no ‘Bora Jovens, visa formação técnica e/ou experiência profissional, algo para o qual nem todos os jovens estão motivados ou despertos. Incentivá-los está do nosso lado, e eles precisam de agarrar a oportunidade. Exige uma responsabilidade de todos.
É de igual importância o apoio à saúde mental e à promoção de políticas inclusivas junto de todos os atores envolvidos, pois só assim os jovens poderão prosperar.
Que mensagem gostaria de deixar para as próximas gerações? O que falta mudar?
Para as próximas gerações, gostaria de deixar uma mensagem de esperança, responsabilidade e ação. Vivemos em um mundo em constante mudança, repleto de desafios e oportunidades. Sejam mais resilientes e adaptáveis; valorizem a educação; sejam empáticos e solidários; participem ativamente na vossa comunidade; inovem com responsabilidade e tendo em conta os recursos exigentes… e acreditem em vocês próprios! Acreditem!