Entrevista | Mário Baudouin: “Os jovens desempenham um papel crucial na construção de um futuro mais verde e sustentável”
A Ajuda em Ação anuncia o lançamento de “Futuro Verde em Ação”, em parceria com a Fundação Repsol, com o objetivo de apostar no desenvolvimento sustentável local, através da promoção de emprego e iniciativas, em quatro concelhos do Interior do país — Tomar, Abrantes, Sardoal e Mação.
Mário Baudouin, Diretor Nacional, em entrevista, revela que “continuamos a acreditar que a Educação é uma ferramenta essencial para combater a situação de pobreza.”
Em que consiste o projeto?
Este projeto piloto Futuro Verde em Ação em parceria com a Fundação Repsol aproxima dois dos nossos programas, o de Educação e de Empregabilidade Jovem. Assim sendo, visa formar jovens em contexto escolar profissional entre os 15 e 25 anos da idade, com especial preocupação com os mais vulneráveis, para que possam fazer a diferença nas suas comunidades – começando para já por Abrantes, Mação, Sardoal e Tomar – através do desenvolvimento e criação de emprego sustentável.
Numa região onde a perda de população jovem tem provocado um envelhecimento significativo das regiões do interior de Portugal, queremos dar um bom acolhimento e encaminhamento ao potencial crítico e criativo dos jovens, queremos que este seja o caminho para criar oportunidades onde os jovens se revejam, porque são os principais atores na promoção de ideias, e tornem as suas regiões mais resilientes e consigam novas oportunidades para um projeto de vida com futuro.
Convidamos a todos a saberem mais sobre este projeto através do nosso site ajudaemacao.org ou redes sociais (Instagram, LinkedIn e Facebook), e a divulgarem esta nova iniciativa.
E como se processa a seleção dos jovens?
Através de parcerias com Escolas, Centros de Emprego e Autarquias para potenciar a adesão e dar a conhecer o projeto. Além disso, estamos a marcar presença em Feiras de Emprego, e outros eventos.
Os jovens entre os 15 e os 18 devem inscrever-se através das organizações que se associam ao projeto. Já a partir dos 18 anos, cada jovem poderá inscrever-se através de um formulário online que criámos para o efeito.
Através de uma formação prática, relevante e atualizada, que competências serão desenvolvidas, durante as diversas etapas?
Este projeto desenvolve-se em 4 etapas essenciais onde se pretendem trabalhar competências sociais, pessoais e de empreendedorismo, sem esquecer a importância da questão da sustentabilidade que acompanha todo o processo.
Na primeira etapa (#oppportunittycheck) damos início ao processo e convidamos os jovens a pensarem sobre a sua realidade e comunidade destacando quais serão os maiores desafios, soluções mais urgentes e que oportunidades existem. Segue-se a etapa dois (#deixamosmarca) que compreende formação para o desenvolvimento e empoderamento dos jovens através de atividades que visam potenciar as competências pessoais e sociais. A etapa três é a mais prática (#maquetaatuaideia) onde perante a realidade com que um jovem se depara consegue diagnosticar oportunidades; onde conhece o seu potencial e consegue agir em grupo estando preparado para agir de forma real no desenvolvimento da sua ideia através da criação de um projeto que dá resposta a um desafio previamente diagnosticado. É também nesta etapa que iremos convidar as empresas locais a visitarem os projetos e a contribuírem com a sua experiência para aproximar os projetos da realidade local. No final desta etapa todas as ideias serão submetidas a um concurso onde um júri irá selecionar as duas melhores.
Na última etapa (#storaatuaideia) financiam-se as duas melhores ideias que, posteriormente, serão executadas.
A geração de emprego sustentável consiste num dos principais motores do crescimento socioeconómico no contexto da transição energética. Que impacto detêm os jovens num futuro mais verde e sustentável?
Os jovens desempenham um papel crucial na construção de um futuro mais verde e sustentável, sobretudo porque eles podem, de facto, ser agentes da mudança porque são o futuro. Por exemplo, ao nível do empreendedorismo, esperamos ver muitos jovens a mobilizarem-se com ideias que podem levar à criação de novos negócios, startups, serviços, etc. Tudo isto potencia o emprego e o desenvolvimento.
Sem esquecer que os jovens trazem perspetivas frescas e inovadoras para resolver desafios relacionados com a transição energética e a sustentabilidade. São mais recetivos a novas ideias e tecnologias, o que pode levar a soluções criativas para problemas ambientais, além de terem um papel fundamental para influenciar pares, famílias e comunidades a adotarem práticas mais sustentáveis e a fazerem escolhas responsáveis.
Acreditamos, por todos estes motivos, que investir no emprego sustentável para os jovens não só impulsiona o crescimento socioeconómico, mas também contribui para a transição de uma economia e um estilo de vida mais sustentáveis.
Que potencialidades se ampliam na ligação estreita entre a Educação e o seio laboral?
No caso da Ajuda em Ação em Portugal continuamos a acreditar que a Educação é uma ferramenta essencial para combater a situação de pobreza. Quando combinamos a Educação com o mercado de trabalho conseguimos, nomeadamente, alinhar necessidades. Ou seja, a colaboração entre instituições, organizações e entidades e o mundo laboral permite formar jovens para dar resposta às necessidades do mercado de trabalho, e que beneficiam a sociedade em geral, trabalhando-se as competências e conhecimentos necessários em vista a um futuro emprego.
Por exemplo, o projeto Futuro Verde em Ação promove uma experiência prática e intensa entre o pensar e o agir. Esta dinâmica quando integra jovens permite que estes tenham uma visualização mais real do que será a prática em contexto de trabalho. Contudo, queremos que este movimento aconteça num coletivo entre pares, não se tratando de um processo isolado. Conseguir pensar, discutir e agir em grupo e de forma colaborativa e num processo de aprendizagem ativa, desenvolve competências como a empatia, criatividade, responsabilidade, autonomia, muito necessárias para a integração no mercado de trabalho, mas é um desafio após o longo processo de isolamento que os jovens enfrentaram quando estiveram em confinamento.
Como existe também o contacto com empresas, abre-se portas a networking e a oportunidades profissionais que podem culminar em emprego.
Ou seja, a ligação estreita entre a Educação e o seio laboral permite conhecer melhor os desafios e prepara os jovens para enfrentar desafios e promover oportunidades no mercado de trabalho atual e futuro.
Face aos resultados do estudo do Observatório da Emigração, que aponta que 1 em cada 3 jovens portugueses vivem fora do país, o que falta fazer para reter o talento nacional e reduzir o desemprego jovem?
Com o projeto Futuro Verde em Ação queremos dar atenção, para já, à realidade interna do país onde assistimos ao abandono, cada vez mais intenso, das regiões do interior para o litoral e ao facto de sermos um país cada vez mais assimétrico, em que cerca de 50% da população está concentrada em 31 dos 308 Municípios, o que tem desencadeado um envelhecimento significativo das regiões mais interiores de Portugal.
Se apostarmos nos jovens, eles vão querer ficar. Este projeto é uma aposta forte da Fundação Repsol, e nossa, num impacto social que pode ser transformador e que tem o jovem como o centro da força de mudança na sua região. Caso contrário, estaríamos a caminhar num sentido errado.
Após um diagnóstico local concluímos que a região do médio Tejo é uma das que tem perdido mais população juvenil nos últimos anos, e foi igualmente uma das mais afetadas pelos incêndios. Foi, por isso, que na fase de implementação do projeto era importante estar numa região onde se consiga produzir resultados para uma avaliação do impacto social, económico e ambiental e “semear” o futuro.
Após a conclusão da iniciativa, que oportunidades se capitalizarão? A que desafios estarão os participantes aptos a dar resposta?
Na última etapa #StôraTuaIdeia, irão ser financiadas duas ideias para serem executadas. Estas ideias, avaliadas em concurso, terão de conseguir aliar 3 fatores importantes: componente ambiental, social e económica, resposta a um problema real e nível real de aplicação e concretização.
O modelo colaborativo em que todo o processo está desenhado, reforça e responde à necessidade de uma ação coletiva centrada nos jovens para uma ação real que virá a resolver problemas identificados nas suas comunidades. Pretendemos despertar nos participantes o pensamento crítico, criativo, a capacidade de resolver desafios, apresentar soluções, a capacidade de olhar para a sua comunidade, a sua escola, a sua rua, a sua floresta e apresentar respostas não só a nível económico, mas potenciar novas dinâmicas de apoio social nas comunidades onde o projeto será executado.
Ao mesmo tempo, este projeto beneficia das sinergias do programa “Motor Verde” da Fundação Repsol, que tem o tema central das florestas em todo o seu processo. Assim, potenciar o emprego no setor agroflorestal – entre outros futuramente – poderá ser também um dos objetivos a alcançar. Desde a indústria à silvicultura, comércio, culturas agroflorestais ou serviços ambientais, podem surgir daqui várias oportunidades de trabalho.