Entrevista | Luís Santos: Secundário vs. Superior: O que mudou?
As transmutações às regras de acesso à via universitária admitidas, a serem implementadas (gradualmente) a partir do ano letivo de 2023-2024, nomeadamente o aumento do leque de disciplinas requeridas ou a fórmula de cálculo da nota de candidatura, têm vindo a provocar confusão (e discórdia).
Em entrevista, Luís Santos, Presidente do Conselho Diretivo do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), afirma que “as não-disparidades nas cotações, como em Físico-Química, ou a atribuição de valores superiores a questões de maior complexidade levam à ocorrência de uma dupla discriminação.”
Tendo um peso de 25% na conclusão do Ensino Secundário e de 45% no ingresso à Faculdade, a estruturação das provas será alvo de modificações?
Estando, frequentemente, em evolução, consoante o que é solicitado no currículo, os exames nacionais são construídos, através de dois referenciais — as Aprendizagens Essenciais e o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.
Com um equilíbrio entre o conhecimento puro declarativo, que implica a memorização e a interpretação direta, e a complexidade cognitiva, mobilizando competências intermédias ou elevadas, é exigida a aplicação do pensamento estratégico na resolução de problemáticas ou em processos de sistematização.
Referiu ao jornal Público que a dificuldade demonstrada em questões que apelam ao domínio intelectual manifesta ser transversal. Lecionar a raciocinar e a inferir é fundamental?
Sem dúvida.
Existe um mito terrível, que dita que a comunidade educativa já traz na bagagem mental as habilidades desenvolvidas. A verdade é que estudantes, provenientes de estratos financeiros frágeis, chegam à Escola com um terço da riqueza vocabular lexical, condicionando o percurso académico.
A premissa básica explica que, se ambicionamos a aquisição de capacidades imprescindíveis para o futuro laboral, ensinar, em sala de aula, é imperativo.
O contexto socioeconómico é considerado na elaboração das ferramentas?
Consistindo, pela sua natureza, num juízo de larga escala e estandardizado, o instrumento a realizar terá de ser homólogo.
Porém, a didática individualizada e o apoio paralelo deverão ser explorados pelos próprios docentes, de acordo com as carências apresentadas.
A rigidez nunca será o caminho.
Em 2023, as médias subiram a Português e a Biologia e Geologia, à exceção de Geometria Descritiva. Que ajustes nos critérios têm vindo a efetuar para colmatar a persistência de performances negativas?
A estabilidade é uma preocupação colossal, difícil de solucionar, uma vez que, sendo as provas públicas e divulgadas, temos, anualmente, conteúdos novos, conduzindo a um risco de variação das classificações.
Contudo, as não-disparidades nas cotações, como em Físico-Química, ou a atribuição de valores superiores a questões de maior complexidade levam à ocorrência de uma dupla discriminação.
Invertermos a situação, colocando as percentagens o mais aproximadas possível, originará, seguramente, sucesso e progressão.
O formato papel manter-se-á. Existem fatores (ou lacunas) que poderão comprometer a execução bem-sucedida, em regime online?
Atualmente, vivenciamos em indefinição.
A capacitação digital e as infraestruturas disponibilizadas pelas Instituições encaminhou-nos ao recurso offline, instalado numa rede interna, que, não dependendo da internet, encriptará os testes e as respetivas respostas, viabilizando a monitorização e supervisão do cumprimento dos parâmetros de apreciação.
Nunca atingiremos as condições ideais. Alcançaremos as conjunturas exequíveis e necessárias.
E para o Ensino Profissional? O que falta?
A formação profissionalizante é, ainda, percecionada como sendo de segunda categoria, destinando-se, prioritariamente, a quem não prospera nos Científico-Humanísticos.
Infelizmente, até ao momento, não nos encomendaram nenhum elemento, subsistindo, apenas, duas alternativas — os Cursos Técnico-Profissionais Superiores (CTeSP) ou a concretização de conjeturas idênticas às da instrução regular.
Todavia, juntamente com a ANEQP, encontramo-nos a participar num projeto pioneiro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para efetivar um PISA Vocational Education and Training (VET), com tarefas práticas.
Responsáveis pela promoção de uma Educação Inclusiva, que acomodações são fornecidas?
A equidade e a compensação do handicap de partida de discentes, com deficiência visual, auditiva e motora, ou com dislexia e défice de atenção, é primordial, posicionando-os em igualdade de circunstâncias.
Garantimos, assim, adaptações, como tempo extra, software de leitura de texto ou caracteres ampliados e transcritos para braille.
Mas, há limites. Não é concebível a produção de distinções artificiais.