Entrevista Selo SaudávelMente – Escola Secundária Augusto Cabrita
O Selo SaudávelMente, promovido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, permite para além do reconhecimento do trabalho da Escola, que outras Escolas se inspirem nas boas práticas já implementadas, e, deste modo, potencia-se um bem-estar generalizado nas Escolas portuguesas.
Fomos conhecer a Escola Secundária Augusto Cabrita que, pela segunda edição consecutiva, recebeu esta tão nobre distinção, que se junta a tantas outras como a Eco-Escolas, Escola Saudável e Escola Sem Bullying.
A Escola Secundária Augusto Cabrita é uma Escola que soma inúmeros selos e distinções relacionadas com a saúde, a saúde mental e a ecologia. Como é que a comunidade escolar, incluindo, professores, alunos, funcionários e pais, se envolvem e se sensibilizam com estas temáticas?
Parte um bocadinho dos diversos serviços. Existe um plano de atividades definido e, à parte disso, apresentam-se um conjunto de propostas de atividades, que dependem da enorme disponibilidade dos docentes e, claro, dos próprios alunos e de todas as pessoas envolvidas para participar.
Nós, felizmente, temos sempre uma ótima taxa de adesão, o que nos deixa sempre animados e que nos permite perspetivar novas atividades e outras sugestões. Em relação aos projetos relacionados com o ambiente, há sempre uma forte adesão e uma enorme vontade de colaborar. Para além disso, há também a necessidade de fazer coisas diferentes e o trabalho na Escola depende muito disto, criar rotinas diferentes num espaço sempre dinâmico, para que as pessoas não percam o entusiasmo.
Esta preocupação com a saúde mental esteve sempre na ordem do dia da Escola ou foi algo que surgiu de uma forma mais acentuada com a pandemia?
Sempre fez parte. Estou neste Agrupamento há cerca de 10 anos e sempre foi uma preocupação, tendo em conta a intervenção do psicólogo em contexto escolar. Com a pandemia, evidentemente, muitas situações se agravaram, nomeadamente, ao nível dos contextos familiares. O isolamento trouxe inúmeras dificuldades novas, com as quais nos vimos confrontados aquando do regresso à Escola. A nossa preocupação manteve-se, mas as estratégias tiveram de ser alteradas, para se traduzirem em ações mais explícitas e diretas para os alunos, até porque estamos a atuar ao nível de questões relacionadas com a ansiedade, depressão, entre outras.
“Prevenir-se a saúde mental não só falando de saúde mental […] Os resultados vão surgindo à medida que o tempo passa… A estratégia e o trabalho do psicólogo vão, progressivamente, tornando-se evidentes.”
Quais as principais dificuldades sentidas pelos alunos, aquando do regresso à Escola?
Em primeiro lugar, a principal dificuldade foi aprender a socializar. Muitos alunos, quando foram para casa, eram crianças e quando voltaram à Escola já eram adolescentes e isto significa que houve uma série de competências sociais e pessoais que foram interrompidas e substituídas pelo isolamento e pelo uso das tecnologias. Os professores também sofreram um grande desgaste, pois foi necessário um enorme esforço para mudar metodologias, algo que não acontecia há anos e de repente tiveram de o fazer de um dia para o outro. Agora, estamos a recolher frutos de todo o esforço feito no ano a seguir à pandemia, um ano muito difícil para todos. Em termos concretos de saúde mental, dinamizamos sessões de esclarecimento sobre ansiedade, que pretendiam que os alunos vissem o psicólogo de uma forma descomplexada e que percebessem a importância destes profissionais.
A verdade é que eles começaram a recorrer muito mais ao serviço de psicologia.
Para além do tratamento, é fundamental a prevenção. Ao nível preventivo, como descreve a vossa atuação?
A prevenção é algo que tem de ser assumido, porque a prevenção não dá resultados imediatos, nem, de certa forma, resultados tão visíveis como uma intervenção mais remediativa. Por exemplo, quando um aluno está a ter um ataque de ansiedade, vemos o psicólogo intervir ali diretamente, mas não é visível o trabalho do psicólogo a prevenir um ataque de ansiedade.
Por isso, tem de ser assumido que nós queremos trabalhar preventivamente e este Agrupamento assume isso. Queremos trabalhar a prevenção desde muito cedo, para isso, temos programas de desenvolvimento de competências opcionais, a designada aprendizagem socioemocional, para todas as turmas do terceiro e quarto ano, e é assumido que o psicólogo não deve estar no gabinete, só com um aluno, mas deve estar em contexto de turma com todos os alunos. A prevenção também passa por ter uma diversidade de clubes nos quais os alunos podem ser integrados, ou por ter um desporto escolar efetivo, onde eles se possam exercitar.
Prevenir a saúde mental não é só falar de saúde mental, há uma série de outras coisas que têm de ser assumidas. Os resultados vão surgindo à medida que o tempo passa… A estratégia e o trabalho do psicólogo vão, progressivamente, tornando-se (mais) evidentes.
Foi a segunda vez que o Selo SaudávelMente foi atribuído à Escola. Que tipo de práticas valeram a atribuição do Selo e a sua posterior manutenção? Houve novidades?
O Selo tem várias vertentes que são extremamente benéficas. No fundo, acaba por ser um reconhecimento do nosso trabalho e é importante o reconhecimento do trabalho do psicólogo, pela nossa própria Ordem. Por outro lado, o Selo também nos “obriga” a refletir, acerca do trabalho que fazemos.
Para nos candidatarmos, temos de parar, estar junto das outras estruturas que não são só o Serviço de Psicologia, e temos todos de refletir sobre o que fazemos realmente e porquê. No fundo, temos aqui uma oportunidade de reflexão. Estarmos envolvidos neste Selo permite-nos trocar ideias com colegas que também é uma enorme mais-valia e adquirimos um conjunto de ferramentas muito importante.
Se tivesse que caracterizar, qual o impacto que todas estas práticas e projetos têm nos alunos a nível comportamental?
Todos os projetos são alvo de uma avaliação quase quantitativa. Não há propriamente um gráfico para mostrar, mas os resultados são positivos. Ao medir o clima escolar quando entramos na Escola, sentimos o impacto positivo dos projetos que implementamos. Há práticas que já estão enraizadas e que são valorizadas por diversos profissionais. Há uma boa articulação, de professores, educadores, técnicos, psicólogos… Todos estamos a trabalhar para o mesmo. Os alunos percebem isso e beneficiam, o que se reflete nos resultados escolares, apesar de estes estarem dependentes de outros fatores.