Opinião | A Educação como motor para a mudança
A Educação foi, é e sempre será o principal veículo de transformação. É através da educação que as pessoas desenvolvem as habilidades e competências necessárias para participarem ativamente na sociedade, para melhorarem as suas condições de vida e contribuírem para o crescimento social e económico coletivo, ajudando a superar desigualdades e promovendo a inclusão social. É através da educação que evoluímos, pois o conhecimento abre-nos portas para as oportunidades e para a nossa identidade enquanto cidadãos ativos e participativos. É através da educação, que o ser humano aprende a adaptar-se à mudança, criando condições para a aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, valores e atitudes favoráveis a essa adaptação.
O acesso a uma educação de qualidade pode permitir quebrar o ciclo da pobreza, reduzir as desigualdades, promover a igualdade de género, e permite também que as pessoas tenham uma vida mais sustentável e saudável, contribuindo para sociedades mais pacíficas e tolerantes. Além disso, potencia o crescimento económico do país: de acordo com o relatório Global Education Monitoring Report Team publicado pela UNESCO em 2020, cada ano de escolaridade aumenta em 0,37% a média anual do Produto Interno Bruto de um país, o que significa que mais educação possibilita melhores empregos e salários maiores.
Conscientes então do poder de mudança da Educação, estamos a retirar dela o que podemos? A verdade é que nos confrontamos com fatores institucionais, sociais, políticos e económicos que criam obstáculos significativos ao progresso e que são transversais a vários países. Estamos perante um sistema educativo ultrapassado, com metodologias desatualizadas, onde a motivação e envolvimento dos alunos e professores é muito reduzida e onde o insucesso escolar precoce é preocupante. As principais causas destes problemas são o contexto socioeconómico e cultural dos alunos e as desigualdades inerentes a um sistema de ensino com um currículo igual para todos. Há claramente uma relação entre a escolaridade e a desigualdade social e essa relação é evidenciada pelos indicadores estatísticos de pobreza.
Os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2023, indicam que 17% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2022, mais 0,6 pontos percentuais do que em 2021. O aumento da pobreza abrangeu todos os grupos etários, embora de forma mais significativa os menores de 18 anos (mais 2,2 p.p.) e pessoas em situação de pobreza e que tinham concluído apenas o ensino básico (22,7%). Constata-se assim que as condições socioeconómicas têm evoluído desfavoravelmente, o que inevitavelmente impacta o desempenho dos alunos. A par desta dificuldade acresce o facto de o ensino ser igual para todos, não contemplando as múltiplas diferenças e ritmos dos mesmos.
Precisamos abandonar o ensino padronizado e abraçar um sistema educativo moderno, onde a educação seja inclusiva e democrática, promovendo a igualdade de oportunidades. Devemos capacitar os alunos com as ferramentas necessárias para que possam desenvolver o seu próprio método de aprendizagem, estimulando a sua liberdade criatividade. Torna-se assim essencial implementar uma abordagem holística que tenha em conta o desenvolvimento integral do aluno, permitindo que todos aprendam ao seu ritmo e possam, assim, beneficiar do seu próprio conhecimento. Isso requer mudanças para eliminar as disparidades entre as habilidades dos alunos e as exigências do mercado de trabalho. Temos de ser conscientes que as necessidades do mercado de trabalho atuais, não são iguais às necessidades de antigamente nem serão as mesmas no futuro. Assim, para a economia do país crescer, precisamos apostar na igualdade de oportunidades e igualar as mudanças às necessidades para criarmos uma cadeia de valor.
Enquanto estas mudanças não ocorrem, é importante a participação e o apoio das empresas às organizações que desenvolvem e implementam projetos de promoção da equidade e inclusão educativa. Desta forma, os alunos poderão ter a oportunidade de aprender num ambiente onde se sintam mais acompanhados e valorizados e onde todos possam adquirir o mesmo conhecimento e criar as mesmas bases para competir futuramente no mercado de trabalho com a mesma igualdade de oportunidades.
Artigo de Manuela Hélène Silva, Técnica de Intervenção Social da Ajuda em Ação