Entrevista | Tiago Castro: “Rir é o melhor remédio e o maior ato de amor”
Do destaque num dos principais jornais diários russos “Moskovskij Komsomoletse” ao aparecimento da sua comunidade de fãs na Suécia e à partilha dos seus vídeos por famosos mundiais, Tiago Castro tende a transformar-se num artista global.
Por cá, o sucesso reflete-se (e duplica-se) em tudo o que faz. Desde a participação, como Renée, na novela “Lua de Mel”, ao espetáculo “Daqui de Baixo”, que relata o passado e o presente, passando (obrigatoriamente) pelos tempos em que era (apenas) o “Crómio”.
A paródia e a comédia ridícula são, agora, os ingredientes secretos para o que há de vir.
Aficionado por Teatro e apaixonado pela magia dos holofotes, que derradeiro momento é que te despertou a certeza de que estavas (realmente!) no caminho certo?
A partir dos 15 anos, o contacto direto com a Formação Teatral impulsionou as minhas tendências artísticas — comprovadas, mais tarde, pelo resultado dos Testes Psicotécnicos.
Entrei na Escola Profissional BalleTeatro, no Porto, e, mais tarde, no Conservatório de Teatro, em Lisboa, percebendo que o gosto e o talento eram uma constante [risos].
O verdadeiro clique deu-se, seguramente, quando comecei a ter feedback positivo, passando de um aluno medíocre a um dos melhores da turma, com convites profissionais, tanto para televisão como para Companhias de Teatro nacionais.
Foi há duas décadas que incorporaste o imortal “Crómio” em Morangos com Açúcar. Que particularidades da personagem consideras que a conduziram ao sucesso?
O “Crómio” foi, provavelmente, o primeiro exemplo de um nerd acarinhado.
Encontrar uma personagem com características tão específicas, que, posteriormente, se junta aos populares, é difícil. É, aqui, que encontramos a sua singularidade.
“Estive lá em cima, desci ao inferno e subi outra vez”. A experiência internacional que vivenciaste nos Estados Unidos da América demonstrou ser um trajeto em ziguezague, recheado de curvas e contra-curvas. De que forma se ultrapassam as barreiras que a vida nos vai impondo?
A passagem pelos Estados Unidos da América foi, definitivamente, repleta de altos e baixos muito dolorosos.
Investi o dinheiro que tinha poupado e dediquei-me única e exclusivamente à aprendizagem, tendo já regressado no fio da navalha.
O tempo, a vontade de melhorar e o amor da minha família, juntamente com acompanhamento médico e psicológico, levaram-me à superação.
Contudo, cada caso é um caso, devendo ser analisado individualmente e alimentado com alegria.
De regresso a Portugal e pronto a começar do zero, assistimos, em reboot, a uma evolução colossal. Após fugir às Ciências e assumir-se como Diretor do Colégio da Barra, quem é, agora, Valter Matoso?
Tendo um novo conjunto de camadas e dimensões, Valter Matoso dirige uma Escola, onde decorrem sucessivos eventos atípicos, como o desaparecimento de alunos, obrigando-o a conviver, diariamente, com a Polícia Judiciária, enquanto a preocupação com o filho, que consome estupefacientes pesados, o vai corroendo.
Confesso que, como ator, utilizar uma linguagem de pura verdade e acreditar piamente que o que estou a interpretar está, realmente, a acontecer, é extremamente exigente e desafiante.
“Podemos batalhar no problema — vezes e vezes sem conta — e deixar-nos aterrar, ou podemos perspetivá-lo de outra maneira.”
Foram precisos 6 segundos para te transfigurares numa das grandes referências nas plataformas digitais, através de vídeos curtos, onde a Dança é o prato principal. Encontraste no humor a ferramenta perfeita para seres o criador do teu próprio conteúdo?
Sem dúvida. Verem-me, consistentemente, no mesmo registo, condiciona a imagem que possuem.
As redes sociais permitem-me mostrar valências nunca antes reveladas, sem prazos ou limitações.
Pego na câmara e improviso, explorando o dramatismo, a paródia ou a comédia ridícula, genuinamente [risos].
O espetáculo “Daqui de Baixo”, onde as dores são transformadas em comédia, constituiu mais uma vitória. Afinal, rir é (mesmo) o melhor remédio?
Rir é o melhor remédio e o maior ato de amor, porque “é possível ser feliz no caos”, controlando a forma como reagimos — descomplicar e descomplexar.
Podemos batalhar no problema — vezes e vezes sem conta — e deixar-nos aterrar, ou podemos perspetivá-lo de outra maneira… Por vezes, é tudo uma escolha nossa.
“Sou, hoje, a certeza que aquilo que nos faz diferentes é o que nos torna únicos”. As palestras “Se Podes Sonhar, Podes Concretizar” cumprem a missão?
Escritas e protagonizadas por dois adultos, com adolescências insólitas — a minha mulher, Marine Antunes, que teve um linfoma, aos 13 anos, e eu, o rapaz mais pequeno da Escola, que sofreu de Bullying -, o ciclo de conversas, totalmente imersivo, nasceu em 2018, e visitou, praticamente, todos os Municípios de Portugal, do 5º ao 12º anos de escolaridade, visando espalhar a mensagem de que, apesar das adversidades, existe, sempre, um caminho.
Com um espaço final para questões, a partilha de histórias e o aconselhamento de soluções converte cada momento numa memória extraordinária.
E 2024? O que te reserva?
Parece-me que as portas do mercado estrangeiro, paulatinamente, se abrem aos residentes portugueses, sendo menos necessário imigrar… É uma questão de sorte e ambição. Integrar produções, como a Netflix, a Prime Video ou a HBO, é um sonho que espero concretizar, em breve.
Tenho, ainda, projetos em andamento, com muito mediatismo, e vou continuar com o “Daqui de Baixo”.
Escrever uma série faz, igualmente, parte dos planos e não está muito longe de se efetivar [risos].