Opinião | Olá, o meu nome é Princesa Pearl – Sou uma Médica voadora!
Um destes dias, lia uma história, escrita pela maravilhosa Julia Donaldson e ilustrada pelo incrível Axel Scheffler, com o meu filho de três anos. O livro conta a história da Princesa Pearl, que tem o sonho de ser Médica e cuidar daqueles que precisam, com os seus ajudantes — um dragão cor de laranja, Zog, que serve de ambulância, e um cavaleiro, Sir Gadabout —, viajando pelo reino, para trazer conforto e remédio a todas as criaturas necessitadas, desde uma sereia com uma queimadura solar, até a um leão engripado. Mas, neste enredo, existe um Rei, que é veemente: “Princesas não podem ser Médicas!”. Se no livro, num conjunto de poucas páginas, o percurso desta jovem segue o seu rumo e termina com a sobrevivência do seu sonho, já, fora dele, os preconceitos e obstáculos no caminho das meninas, até chegarem a uma carreira profissional em STEM, são, ainda, uma realidade.
O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência foi instituído em 2015, pelas Nações Unidas, com o intuito de promover o papel que as mulheres têm na produção de conhecimento científico, assim como criar oportunidades para sensibilizar a sociedade civil para a importância de derrubar barreiras impostas pela desigualdade entre géneros no acesso à Educação e carreiras, na área das Ciências Exatas. Vivemos dias de globalização e oportunidades, mas, infelizmente, não são iguais para todos. O acesso à Educação não é universal, apesar de ser um direito. O acesso a explorar a criatividade inata das crianças é, muitas vezes, amputado por crenças que acentuam os preconceitos e as desigualdades.
Como educadores, temos a obrigação cívica e moral de combater estes estigmas, de pôr em prática aquilo que não é mais do que o nosso dever. Como? Talvez seja mais fácil falar do que fazer, mas que tal começar pelos exemplos? O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência serve como uma janela para mostrar o que andam as nossas Cientistas a fazer, que lugares ocupam, conhecer as suas histórias, partilhar projetos, fazer parcerias. Aqui há uns anos, li algo sobre a representação que as crianças fazem de um Cientista. Na altura, a representação típica passava pela imagem do homem, de cabelo despenteado, ar tresloucado. É com muito agrado que vejo que se fizermos a mesma pergunta às crianças de hoje as representações evoluíram e já não são tão estereotipadas. O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência serve para dar voz a esta revolução lenta e, muitas vezes, silenciosa, mostrando o que as Mulheres e as Raparigas de hoje já fazem para resolver os problemas do século XXI, e com isso inspirar mais Mulheres e Raparigas a fazer Ciência, sem preconceito.
E sim: As Princesas podem ser Médicas! Engenheiras, Cientistas, Astronautas, ou aquilo que bem entenderem! Vamos lutar por esse direito e celebrar o incrível trabalho das Mulheres e Raparigas na Ciência, todos os dias.
Artigo de Sónia Fernandes, Professora de Química no CLIP — Oporto International School