ADN Escolas: Colégio de São Gonçalo de Amarante – Escola Católica
Com uma identidade própria assente em valores humanos, na educação para a liberdade, no respeito e na fé, o Colégio de São Gonçalo de Amarante deu-se a conhecer através da experiência e conhecimentos do seu Diretor Pedagógico, o Dr. Pedro Alves.
Cada Escola, mediante a sua história, valores e contexto social está comprometida com determinados valores e sentido de missão. Quais são os valores e a missão do Colégio de São Gonçalo?
O Colégio é uma instituição centenária que tem como missão promover a educação e a qualificação profissional de jovens numa cultura de Escola com identidade própria, inclusiva, humanista e humanizante, capaz de valorizar as diferenças e gerar equidade de oportunidades aos alunos, num meio socialmente desfavorável na região do Tâmega e Sousa. É uma Escola promotora da educação de qualidade, assente nos princípios católicos e nos valores fundamentais da cidadania ativa, formando alunos responsáveis e íntegros, autónomos e críticos, criativos e competentes, capazes de enfrentar situações-problema sem perder os valores e as raízes culturais que os irão identificar como cidadãos do mundo. No Colégio de São Gonçalo, o aluno aprende a respeitar a diversidade humana e cultural; a agir de acordo com os princípios dos direitos humanos, sabendo agir eticamente, consciente da obrigação de responder pelas suas próprias ações em função do bem comum. Com uma oferta formativa e educativa que abrange um pouco mais de 1 000 alunos, do 1.º ao 12.º ano, o seu Projeto Educativo assenta em princípios de trabalho de metodologia de projeto baseados na promoção de inteligências múltiplas.
Quais são os maiores desafios e as maiores recompensas de ser Diretor Pedagógico do Colégio de São Gonçalo?
O maior desafio passa pela responsabilidade de zelar por uma comunidade educativa exigente, constituída por um universo de alunos muito diversificado nas origens, nas caraterísticas sociais e nas próprias motivações pessoais. Embora seja uma instituição privada, o facto de oferecer um serviço público (não estatal) que não segrega alunos e responde às preocupações das famílias em termos de segurança e de matriz identitária de prática do bem comum, obriga-nos à manutenção de um contínuo estado de alerta das dinâmicas sociais que uma Escola agrega. Todavia, as maiores recompensas também passam pela gestão desses desafios, uma vez que a operacionalização de soluções pedagógicas numa Escola com a dimensão do Colégio permite uma satisfação profissional elevada. A medição do impacto é imediata e as burocracias inerentes à aplicação de um ciclo de qualidade quando concretizamos as nossas ideias são, praticamente, inexistentes.
Quais são as apostas que o Colégio de São Gonçalo tem implementado que o distinguem dos demais?
Resumidamente, há dois focos de atuação que se complementam, mas que diferem nos objetivos estratégicos e operacionais: o ensino básico e o ensino secundário. No primeiro caso, as matrizes curriculares de cada ciclo de estudos seguem como referência os normativos legais, mas são criados períodos pedagógicos na mancha horária semanal que fomentam a articulação de conteúdos e a autonomia na resolução de problemas, de forma cientificamente orientada. São exemplos algumas disciplinas de oferta complementar com aulas exclusivamente de campo sobre biodiversidade, educação financeira, classes de conjunto, oficina de projetos e metodologia científica. Além disso, o primeiro ciclo alia a dança à expressão dramática na educação artística, com a criação de referenciais de integração curricular adaptados aos interesses dos alunos. Relativamente ao ensino secundário, o Colégio dispõe de uma oferta de ‘cursos com plano próprio’ que funcionam numa espécie de regime híbrido entre cursos científico-humanísticos e cursos profissionais, cuja componente de formação tecnológica é exclusiva da instituição, numa experiência pioneira em Portugal há quase 40 anos. São 12 cursos de várias áreas, com o aliciante de criamos autonomamente os currículos das disciplinas de índole prática.
“Queremos ser reconhecidos socialmente pelo serviço que prestamos, pelos resultados escolares, pelo trabalho colegial que desenvolvemos e, sobretudo, pelo impacto da ação educativa nos percursos formativos e nos projetos de vida pessoais dos nossos alunos.”
Esta é uma Escola dinâmica e ativa em termos de projetos e atividades que dinamiza. Como é que se consegue envolver e motivar uma comunidade jovem a ser ativa na participação destes projetos?
Um dos fatores mais relevantes para garantir esse envolvimento passa pela clarificação dos objetivos e das metas a alcançar na planificação das atividades. É necessário que toda a comunidade se sinta incluída no processo, pelo que são criados mecanismos de auscultação regulares a todas as entidades direta ou indiretamente responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Um dos problemas numa Escola com esta dimensão é a “perda na tradução” que os canais de comunicação não conseguem evitar, eficazmente. Para mitigar esse problema, as relações das estruturas de gestão intermédia com as diferentes entidades educativas seguem protocolos simples com poucos intervenientes, mas alinhados com os objetivos das atividades. O exemplo mais gratificante que ilustra esse conceito é a criação da ‘Semana do Colégio’, no terceiro período letivo, onde todos são convocados para construírem uma agenda pedagógica sobre os produtos construídos ao logo do ano letivo, abrindo o Colégio a quem o queira conhecer ao longo de seis dias.
À vossa Escola foi atribuído o Selo “Eco-Escolas”, quais são as práticas que valeram a atribuição deste selo?
O programa Eco-Escolas desenvolve-se na disciplina de Oferta Complementar de ‘Oficina de Projetos’. O “Desafio UHU” foi importante para o galardão do ano anterior e surgiu de uma parceria entre o Programa e a UHU, reconhecendo a necessidade de aumentar o conhecimento e interesse pela biodiversidade nacional. Os alunos produziram uma ilustração de dimensão A3 da espécie “Aquila fasciata”, utilizando a técnica de collage. De modo a conhecer as caraterísticas da Águia-de-Bonelli com detalhe (morfologia, anatomia, habitat, ciclo de vida e ameaças), os alunos exploraram documentários, analisaram informações de origem diversa e criaram uma palestra sobre esta espécie em perigo de extinção, em articulação com um aluno de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Para a execução da técnica de collage, os alunos recorreram à utilização de papel reutilizado e reciclado. O projeto teve como objetivos principais estimular, através de atividades práticas, o aumento da literacia para a sustentabilidade em geral e biodiversidade em particular, e conhecer produtos que respeitam o equilíbrio dos ecossistemas. A espécie escolhida, apesar de não corresponder a uma espécie endémica, foi observada a sobrevoar a Escola, o que estimulou o interesse e a curiosidade dos alunos durante uma aula de campo de Birdwatching. Rapidamente surgiram as perguntas e as pesquisas orientadas, levando os alunos a descobrir que se trata de uma espécie em perigo de extinção, e que foi classificada em Portugal com o estatuto de conservação “raro” (no Livro vermelho dos vertebrados de Portugal continental). Indo de encontro aos objetivos do Projeto Educativo, os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver consciência e responsabilidade ambiental e social, trabalhando colaborativamente com vista à construção de um futuro sustentável.
Sente que os alunos e professores estão mais sensibilizados para as práticas ambientais e para a necessidade de adotar comportamentos sustentáveis para o planeta?
A aproximação das dinâmicas de ensino aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é um processo gradual e nem sempre imediato. A Escola tem a função de introduzir os conceitos e criar estratégias em espiral ao longo dos diferentes ciclos de estudo, que permitam a adoção automatizada de comportamentos sustentáveis. Sentimos que existe algum ornamento associado ao tema, com atitudes politicamente corretas num determinado período, mas que não se estendem à regularidade das ações. A integração diluída do tema em atividades mais generalistas tem contribuído para a curva de aprendizagem e está patente nas nossas preocupações ao nível da gestão dos recursos físicos.
Quais são as competências e aprendizagens fundamentais a serem adquiridas pelos jovens que passam pela vossa Escola?
Uma das grandes apostas é a mobilização de competências de oralidade na discussão de situações problema. No entanto, a competência charneira fundamental é a prática do bem comum, já mencionada, numa Escola detentora de um passado de sucesso, das marcas de uma cultura escolar e de práticas pedagógicas reconhecidas na comunidade local. Queremos ser reconhecidos socialmente pelo serviço que prestamos, pelos resultados escolares, pelo trabalho colegial que desenvolvemos e, sobretudo, pelo impacto da ação educativa nos percursos formativos e nos projetos de vida pessoais dos nossos alunos.
“A competência charneira fundamental é a prática do bem comum, já mencionada, numa Escola detentora de um passado de sucesso, das marcas de uma cultura escolar e de práticas pedagógicas reconhecidas na comunidade local.”
Sabemos que o projeto Erasmus+ faz parte dos vossos projetos, como é que funciona o Erasmus na vossa Escola?
O programa ERASMUS+ foi criado pela União Europeia e é um dos programas mais conhecidos e bem-sucedidos no campo da educação, formação, juventude e desporto. A nossa participação iniciou-se em 2019, com a mobilidade de alunos húngaros e italianos na construção de um referencial digital sobre a visão dos jovens acerca da sua “cidade do futuro”. Na sequência de mais uma época “ERASMUS+”, iniciámos no primeiro período letivo deste ano dois projetos nas tipologias de ação KA210-VET e KA220-SCH. Com o título “Cultural Routes and Digital Storytelling: Sharing Narratives of Europe’s Rich Heritage and Diversity”, assumimos a coordenação do primeiro projeto, juntamente com uma Escola parceira da Chéquia, para ajudar os professores de Ensino e Formação Profissional(izante) (VET) a criar atividades de aprendizagem que permitam aos alunos mobilizarem o uso de plataformas digitais, através da produção de uma curta-metragem que ilustre os valores comuns da União Europeia, os princípios de unidade e diversidade, assim como a sua identidade cultural, consciência cultural e património social e histórico. A produção do filme é o mote para integrar os programas tradicionais de disciplinas VET numa narrativa fictícia, seguindo as etapas: Pré-produção (guião e intervenientes; pesquisa de locais; storyboard), Produção (filmagem) e Pós-produção (edição; distribuição comercial e merchandising). Implicando diretamente 22 alunos, a troca de práticas pedagógicas internacionais em áreas semelhantes vai permitir o reforço da missão de ambas as instituições de ensino. O objetivo principal do segundo projeto, “Toward the Responsible and Constructive use of Generative AI in Language Learning at School”, é auxiliar os professores na criação de atividades de aprendizagem que permitam aos alunos utilizar a inteligência artificial generativa (como o ChatGPT) de forma transparente, responsável e construtiva. As atividades de aprendizagem desenvolvidas serão integradas num programa contínuo de desenvolvimento profissional e tecnologia para educadores.
As competências de comunicação da língua inglesa serão a área inicial de foco. Estão planeadas três sessões de formação em mobilidade que reunirão professores do ensino secundário de Espanha, de Portugal e da Estónia. Nessas sessões, as atividades de aprendizagem serão concebidas e aprimoradas através de uma colaboração com investigadores. Entre as sessões, os professores participantes testarão as atividades com os alunos e será criada uma plataforma online e um conjunto de ferramentas, ambas utilizadas em oficinas e simpósios destinados a educadores em cada país parceiro. Finalmente, na sequência da participação de professores do Colégio numa iniciativa “Multiscale EU Teachers Training”, que decorreu em Itália no último Verão, está a ser produzida a versão portuguesa de um vídeo sobre o Dia da Europa, com a ajuda de vozes dos alunos do Colégio.
De forma o Colégio promove o crescimento espiritual e religioso dos jovens?
Enquanto Escola Católica, temos uma identidade própria que assenta a sua pastoral nas orientações diocesanas (Diocese do Porto). Fundamenta o seu Projeto Educativo numa conceção cristã católica da pessoa e do mundo, promotora de um ambiente que estimula o respeito, os valores humanos, a educação para a liberdade e a fé. O Plano Pastoral do Colégio é um projeto referencial, assumindo como linhas de ação: proporcionar momentos que desenvolvam a espiritualidade e a interioridade; educar à personalização da fé cristã católica; cuidar da disponibilidade interior e preparação para a missão e vivência comunitária; oferecer formação para os vários intervenientes da comunidade educativa; e promover a participação ativa das crianças, dos jovens e dos adolescentes. É um quadro de referência antropológico, pedagógico e espiritual coerente para o acompanhamento dos alunos, nas suas diferentes etapas, no delicado processo de crescimento da sua humanidade na fé. As diferentes atividades devem ter como base o Plano Pastoral.
Quais são as ambições para o futuro? O que pretendem alterar ou executar no próximo ano letivo?
Neste momento estamos num processo de consolidação do Projeto Educativo, revisto estruturalmente em 2018. A próxima grande etapa será a atualização da oferta de nível secundário, adaptada às necessidades de qualificações da região, sem perda da nossa identidade.
Para concluir, o que gostava que um aluno que saísse da vossa Escola dissesse sobre o período em que aí estudou?
“O Meu Lugar”, em alusão ao lema do Colégio “Um Lugar para Ti”, que resume a proximidade que queremos construir com os alunos e as suas famílias.