Entrevista Selo SaudávelMente – Colégio Sagrado Coração de Maria
Ancurado aos valores que caracterizam a Instituição, o Colégio Sagrado Coração de Maria (Fátima) é um espaço que prima pelo cuidado ao outro, pela atenção e pelo bem-estar. Todas estas práticas – e muitas outras – valeram a atribuição do Selo SaudávelMente durante todo o ciclo de existência desta distinção.
O Colégio Sagrado Coração de Maria soma inúmeros selos e distinções relacionadas com a saúde, a saúde mental, o bem-estar da criança e a ecologia. Como é que a comunidade escolar, incluindo, professores, alunos, funcionários e pais se envolvem e se sensibilizam com estas temáticas?
A obtenção destes selos não é mais do que vermos no papel aquilo que naturalmente, no dia a dia, fazemos junto e em conjunto com a comunidade escolar. No fundo, é o reconhecimento do nosso trabalho no Colégio. Quando fazemos a candidatura para um Selo, seja ele qual for, vamos verificar todas as atividades que constam no nosso plano anual, organizado pelos vários departamentos e colocamos na candidatura as atividades que melhor se adequam àquilo a que nos estamos a candidatar.
Esta preocupação com a saúde mental sempre fez parte da ordem do dia do Colégio ou foi algo que surgiu com a pandemia?
Isso é algo que nos caracteriza: a atenção, o cuidado ao outro, a preocupação pelo bem-estar. O Colégio tem serviço de psicologia desde 2000 e desde aí que são criados projetos que visam este cuidado pelo próximo. Esta é também uma herança das Irmãs do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria (IRSCM), entidade titular do Colégio.
Todo esse cuidado e atenção deverão ter reflexos visíveis na comunidade escolar. Da vossa perceção, qual é o impacto dessa forma de cuidar do outro a comunidade?
Somos uma escola relativamente pequena e as pessoas consideram este meio como muito familiar e por isso, o cuidar é algo muito natural. Incutimos aos alunos a necessidade de cuidar dos colegas, de haver essa preocupação com o bem-estar do outro. Tudo isto está refletido nos projetos que temos a decorrer, como os projetos de mentoria entre alunos de diferentes idades, projetos de integração de novos alunos, por parte de alunos mais velhos, um outro projeto em que os delegados e sub-delegados de cada turma são convidados a ser os embaixadores escola sem bullying e por isso ficam responsáveis por estarem atentos às relações entre os colegas e aos seus comportamentos e intervêm nesses casos.
Quando fazemos um Dia Aberto ou a Festa das Famílias, por exemplo, são inúmeros os ex-alunos que nos vêm visitar. Este fator torna evidente o reflexo do trabalho que se faz no Colégio e o impacto real, a longo prazo, que esta forma de estar tem nas crianças. No dia a dia, os alunos que transitam para outra escola no ensino secundário, quando têm tardes livres aparecem na escola para visitar e matar saudades. Consequentemente, muitos nossos
ex-alunos continuam ligados à escola através do Movimento Juvenil CoMTigo – movimento nacional do IRSCM – e quando surgem solicitações, eles aparecem na escola para darem o seu contributo e responderem positivamente aos nossos convites.
Há mais de 30 anos que temos como hábito que os alunos do 9º ano – os mais velhos – apadrinhem os de 5º ano quando estes chegam à escola pela primeira vez. O objetivo é que os novos alunos se sintam acolhidos e consigam mais facilmente a conhecer a escola e os variados espaços e serviços.
Ao Colégio Sagrado Coração de Maria foi atribuído o selo Escola Saudávelmente, um selo que reconhece e distingue as escolas portuguesas pelas suas políticas e práticas educativas que demonstram um compromisso forte e efetivo com a promoção do desenvolvimento ao nível cognitivo, emocional, social, de carreira, da aprendizagem, da inclusão e da saúde psicológica de toda a comunidade educativa. Quais as práticas adotadas que valeram a conquista desta distinção?
Temos inúmeras! Vamos destacar apenas algumas: “Tu, alinhas?” – um programa de prevenção primária de consumo de substâncias, destinado a alunos do 9º ano. Tem como objetivo prepará-los para a sua entrada em outros ciclos de ensino e para a sua presença em meios de maior dimensão, bem como, dar conhecimentos, partilhar informação e acima de tudo, treinar a capacidade de dizer “Não!” e para isso fazemos role-plays, em que eles treinam a resistência à pressão de grupo. De seguida, enumeramos um programa de mentoria designado de: “Ser+” – este programa pressupõe uma ajuda por parte de alunos com maior aproveitamento escolar, a alunos com mais dificuldades. Esta é uma ação facultativa, portanto, os alunos estão presentes de livre vontade e, acima de tudo, de coração! Por último, relacionado com a orientação escolar que existe no Colégio desde 2000, temos a Semana das Profissões. Para a realização desta Semana, os alunos preenchem uma folha de acordo com os seus interesses, de seguida são estabelecidos contactos para convidar profissionais das áreas de interesse dos alunos a virem à escola e responderem a perguntas e darem a conhecer alguns aspetos das suas profissões. Já tivemos os mais variados profissionais na nossa escola, desde youtubers a juízes desembargadores… durante essa semana são dinamizadas palestras às quais os alunos assistem às que mais se identificam e sempre que possível os pais também comparecem e participam. Esta é uma atividade muito bem acolhida e sucedida, por todos os envolvidos, há profissionais que já vêm à escola há mais de 20 anos e já saem à espera do convite no próximo ano! Uma vertente muito importante desta Semana é, não só informar os alunos sobre os seus interesses, como abrir horizontes para outras áreas e ajudá-los a escolher o seu caminho profissional. A única condição para poderem participar é prepararem previamente questões para colocar aos profissionais.
Os projetos que falamos anteriormente terão, seguramente, um impacto muito positivo nos alunos. Fazendo uma análise do antes e do depois da participação dos alunos nos mais variados projetos, quais são as alterações que observam?
Muitos dos projetos que realizamos são em parceria com entidades locais e isso permite-lhes desenvolver competências práticas e teóricas com enquadramento profissional e que pode impactar o seu futuro. Recordo que houve uma aluna que realizou uma atividade no Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II e descobriu aí a sua vocação. Mais tarde, seguiu a área de Fisioterapia. Este é um pequeno exemplo da importância real dos nossos projetos e atividades na vida dos alunos. Como as atividades que realizamos são tão distintas, conseguimos chegar a todos os alunos e potenciar o desenvolvimento de várias competências muito dispares entre elas. Quando as crianças não são estimuladas a ter objetivos, a desenvolver novas competências são sempre mais suscetíveis a problemas de foro mental do que as que são estimuladas e estão em contacto com o mundo e a sociedade em que estão inseridas.
Situações ainda que pontuais de bullying, violência, indisciplina, ansiedade ou outras do espetro mental são, praticamente, inevitáveis em qualquer escola. Como é que lidam com estas situações?
Diretores de Turma assumem um papel fundamental, são os primeiros a intervir e a reagir nestes casos, de seguida, o Serviço de Psicologia entra em ação para solucionar o conflito e prevenir futuras ocorrências. Caso seja necessário, envolvemos os pais e/ou encarregados de educação. O projeto Cuidamos Uns dos Outros procura focar-se, não só no problema, como na prevenção do mesmo. Como somos uma escola pequena, temos facilidade em intervir rapidamente nestas situações. Os Diretores de Turma têm uma relação muito próxima com os seus alunos e desde que temos o projeto Cuidamos Uns dos Outros, os alunos estão muito mais atentos e manifestam-se quando acontece alguma situação que eles consideram incorreta, é um ato de cidadania que nos deixa orgulhosos.
Fruto da pandemia e do isolamento social, depararam-se com novos desafios ao nível da saúde mental?
Sim, deparamo-nos com muita ansiedade, muitas dificuldades de interação, devido ao isolamento a que estiveram sujeitos. As regras que temos no Colégio ajudam a reduzir as dificuldades de interação, pois os telemóveis são permitidos apenas 2 dias por semana, exclusivamente, nas horas de almoço e nos intervalos mais pequenos os telemóveis também não estão permitidos. Estas regras permitem que os alunos convivam entre eles e não através de telemóveis. Não temos uma postura extremista, ou seja, permitimos o uso dos telemóveis, mas de forma equilibrada.
A saúde mental dos alunos depende muito da estabilidade das suas famílias. Como é que as famílias são envolvidas na atividade escolar e nas dinâmicas do Colégio?
Todos os anos dinamizamos uma Formação para Pais/Encarregados de Educação, fazemos as nossas reuniões presenciais e não online, organizamos o Dia Aberto anualmente em meados de abril, neste dia as famílias passam pelos vários ateliers, convivem com professores e funcionários e passam o sábado aqui no nosso Colégio. Neste Dia Aberto, comparecem também muitos ex-alunos, participam, ajudam-nos na organização e vestem a camisola! No fundo, é um dia em que recebemos toda a nossa comunidade.
Foi a primeira vez que este selo foi atribuído? Se não, quais as práticas implementadas que valeram a renovação da atribuição do selo?
Não, temos o selo SaudávelMente desde a sua primeira edição – 2017 -, portanto em três edições, obtivemos o selo 3 vezes.
Em termos de inovação, o que está a ser planeado para ser implementado na Escola este ano ou brevemente?
Este ano fizemos uma mudança, fazemos parte da equipa de cinco pessoas de Promoção do Sucesso Escolar e optámos por ser nós a fazer a sensibilização para dois projetos: o “Ser+” e o “+Sucesso”. Neste último projeto, os alunos são convidados a definir objetivos curtos – até ao final do semestre -, e a longo termo – até ao final do ano -, para si em termos escolares e para as suas relações com os outros colegas e com a sua família. Estes projetos não são recentes, mas demos-lhe um refresh, através da dinamização que agora é feita turma a turma para ser ainda mais eficaz. Por último, a Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva reuniu com alguns alunos que apresentaram mais dificuldades no ano anterior, para fazermos um diagnóstico, apurar a causa das dificuldades e definir estratégias para melhorar este ano. Após as avaliações intercalares, os pais/encarregados de educação dos alunos que mantiveram dificuldades foram chamados para serem enquadrados acerca das estratégias tomadas pela escola, de modo a conseguirem alinhar-se neste processo de aprendizagem e em casa consigam também ajudar as crianças a atingirem o sucesso.