Entrevista | Marta Vinhas: A ENTRAJUDA e o seu papel no Voluntariado
“Fortalecer o setor não lucrativo, nomeadamente as Instituições de Solidariedade Social, possibilitando o acesso aos meios e recursos necessários que lhes permita exercer uma ação determinante na inclusão social e no combate à pobreza” representa a grande missão da ENTRAJUDA.
Marta Vinhas, Membro da Direção e Responsável pela Bolsa do Voluntariado, em entrevista, reflete sobre o poder do trabalho voluntário, que “é transformador”.
Do Voluntariado à recolha de bens, de que forma a ENTRAJUDA tem procurado cumprir o seu caminho?
A ENTRAJUDA concretiza a sua missão de apoiar Instituições de Solidariedade Social com gestão e organização, mobilizando voluntários, com competências muito variadas, empresas e benfeitores.
Os nossos três pilares permitem proporcionar a transferência de conhecimento e saber, através de formação em sala ou nas próprias Instituições, a mobilização de voluntários, com qualificações diversas que querem dar o seu tempo a uma causa, no âmbito da Bolsa do Voluntariado e dos Projetos Solidários, e a doação de bens e equipamentos, entregues pelo Banco de Bens Doados e pelo Banco de Equipamentos.
Têm vindo, ao longo dos anos, a ser desenvolvidos produtos e serviços formatados, especificamente estruturados, para dar resposta a necessidades idênticas detetadas, replicando soluções, nomeadamente o Gabinete Jurídico, a plataforma para as Conferências de S. Vicente de Paulo, o “ERP Primavera” para os Bancos Alimentares, o “VISITARE”, a app “Gestão de Voluntariado Empresa”, o “Tempo Extra”, o “Dar e Receber”, e o novo projeto “Cartão Nacional de Voluntário”.
O serviço que desempenhamos justifica-se, hoje, de forma acrescida e a confiança de tantos parceiros, bem como o impacto gerado, bem patentes nos números e informações que se seguem, mostram a oportunidade do propósito e visão.
Tendo como valores a dádiva, a partilha e a sustentabilidade, que passos são traçados na estratégia aplicada — ESCADA DA SOLIDARIEDADE — para a consolidação, dinamização e qualificação do trabalho voluntário?
Procuramos incentivar o Voluntariado, facilitar o seu exercício e promover a Sustentabilidade empresarial, providenciando uma cultura de Voluntariado em Portugal, enquanto intervenção de cidadania ativa e responsabilidade pelo bem comum, tanto individual como empresarial.
A Bolsa do Voluntariado, concebida em 2006, com o objetivo de potenciar e dinamizar um “mercado” virtual de Voluntariado, servindo de ponto de encontro entre a procura e oferta de trabalho voluntário, aproveita as qualificações e permite a capacitação das organizações.
Em 2022, foi realizado, ainda, um investimento na atualização da aplicação informática, com um novo design, acesso em inglês, e uma melhoria tecnológica, em articulação com as duas ferramentas de gestão de “Voluntariado Empresa” e “Tempo Extra”, em alinhamento com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
O Cartão de Voluntário desabrocha da necessidade de gestão e registo do trabalho voluntário em Portugal. Que oportunidades se criam?
O Cartão de Voluntário e a app associada, que permite o registo de todos quantos praticam voluntariado, a contabilização das horas que dedicam a causas e ainda garante vantagens para as Organizações com as quais colaboram.
«Pessoas extraordinárias merecem um cartão extraordinário», é o mote da campanha de comunicação que vai permitir que o tempo dos voluntários passe a ser duplamente valorizado e contabilizado. Para além de registar todas as horas dedicadas ao voluntariado, esta nova aplicação vai permitir que o número de horas de voluntariado seja convertido em pontos que revertem para as entidades sem fins lucrativos e que poderão ser trocados por benefícios e descontos oferecidos por empresas da área da energia, da distribuição alimentar, das telecomunicações e outras que adiram ao projeto.
A nova aplicação é uma iniciativa da ENTRAJUDA, em parceria com a CASES-Cooperativa António Sérgio para a Economia Social e a CPV-Confederação Portuguesa do Voluntariado, com tecnologia desenvolvida pela INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda, com apoio da Outsystems, da DNS.pt e da AKT.
A partir de hoje, os voluntários, cujo número em Portugal, de acordo com dados de 2018 no INE é estimado em mais de 695 mil pessoas, com mais de 15 anos, poderão descarregar a app no Google Play e na App Store e passar a registar o tempo disponibilizado, através de um QR Code disponível nos locais onde irão realizar ações de trabalho voluntário.
A app está ligada ao portal do portal do voluntário (www.cartaodevoluntario.pt) que inclui uma área pessoal na qual os voluntários podem consultar o seu percurso de voluntariado e obter declarações que atestem a sua participação nas diversas iniciativas. O portal terá também uma área dedicada às Organizações Promotoras, que podem fazer registo dos seus voluntários e ter conhecimento das horas de trabalho recebidas.
A procura de respostas às exigências detetadas, a ENTRAJUDA muda procedimentos e transforma realidades com recurso a ações de formação e ferramentas de gestão. Em que consistem estes instrumentos para a melhoria de competências e desempenho?
A ENTRAJUDA considera como prioridade a transmissão de conhecimento que possibilita uma maior capacitação em gestão e organização e, assim, uma maior eficiência e eficácia dos processos implementados e do desempenho, sendo certificada pela DGERT na área 345 – Gestão e Administração e 523 – Eletrónica e Automação. São propostas ações e programas de formação estruturados, com conteúdos adaptados que permitem reforçar a rede de solidariedade social e a partilha de experiências e boas práticas. Após os constrangimentos impostos pelo COVID-19, a Área da Formação prosseguiu, em 2022, a concretização da sua missão de capacitar as Instituições com a divulgação de instrumentos de suporte à organização e gestão que permitam, através da utilização de processos de mudança, a exponenciação das suas competências, em prol da melhoria e qualidade dos serviços prestados aos seus beneficiários. Com A utilização dos meios telemáticos foi possível abrir a participação a Instituições em toda o território nacional, o que limitando ao ensino presencial seria inviável.
Nesta quadra natalícia, podemos contar com uma campanha de responsabilidade social, que tem como propósito alimentar as bibliotecas de Instituições de Solidariedade, convidando os clientes FNAC a doarem livros usados nas suas lojas. Que importância detém a iniciativa na democratização do acesso a recursos culturais, inclusão social e combate à pobreza?
O acesso à educação e à cultura são talvez a melhor forma de combater a pobreza pois a qualificação permite o elevador social. Campanhas como a da FNAC são sobretudo de sustentabilidade mas podem promover o gosto pelo conhecimento e pela leitura.
Olhando para o estado atual das ações de Voluntariado em Portugal, que aspetos traz ao pódio?
O Voluntariado é muito importante na coesão social e permite um conhecimento da realidade das comunidades e organizações que constrói. Destacaria o voluntariado na Jornada da Juventude e o voluntariado no Banco Alimentar, manifestações de grande dimensão muito bem sucedidas. Mas não nos podemos esquecer também do voluntariada mais regular como por exemplo as Conferencias de S. Vicente de Paulo, onde diariamente muitos voluntários, com idades variadas, são o único suporte dos mais pobres.
Que mais-valias proporciona a experiência de voluntariado a um jovem estudante do Ensino Secundário?
O voluntariado é transformador e transforma-nos. Um estudante pode ver logo os frutos do seu trabalho e tempo e contribuir para causas com as quais se identifica. É muito importante ter um contacto com realidades diferentes mas com o olhar dos mais novos podem vir ideias e soluções inovadoras e que crie, impacto.
Como avalia a índole voluntária dos jovens portugueses?
Os jovens portugueses são muito solidários e o voluntariado permite a concretização de uma participação cívica que pode fazer consolidar a ideia de que cada um de nós pode mudar o mundo com os seus gestos, escolhas e atuação. Só que muitas vezes os jovens não sabem onde encontrar projetos com os quais se identificam e onde podem colaborar. Por isso lançamos a Bolsa do Voluntariado.
Que desafios identifica no futuro próximo?
Muitos! Destaco, em especial, a necessidade de manter a humanização da sociedade e a atenção aos outros num mundo cada vez mais dominado pelas tecnologias e pela comunicação hiper-rápida nas redes e grupos.