Presidente CCISP: “Ser estudante politécnico é cada vez mais vantajoso e amplo em termos de oportunidades”
No decorrer deste ano letivo têm sido anunciadas novidades que há muito eram aguardadas pelo Ensino Superior Politécnico. Desde a alteração na designação de Instituto Politécnico para Universidade Politécnica e a chegada dos Doutoramentos a este sistema de ensino. Fomos conversar com a Drª. Maria José Fernandes, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) sobre estas alterações e sobre as diversas mais-valias em ser estudante politécnico.
Num comunicado de imprensa, o CCISP afirma que teme que com as novas regras de conclusão do Ensino Secundário e de acesso ao Ensino Superior, diminuam o número de alunos a entrar neste ensino. Porquê?
Fizemos um estudo com base no número de candidatos e nas colocações nas Instituições no ano 2019, o último ano antes da pandemia, pois durante a pandemia foram implementadas regras excecionais e verificámos que se aplicássemos estas novas regras que o Ministério quer aplicar, tais como, exigir pelo menos, duas provas de ingresso no acesso ao Ensino Superior, haveria uma redução do número de candidatos. Em 2019, havia 6.000 candidatos que concorreram apenas com uma prova de ingresso válida, ou seja, estes candidatos, com a implementação das novas regras, não se poderiam candidatar. 75% dos cursos a nível nacional têm apenas uma prova de ingresso, por isso, entendemos que fazer esta alteração não parece ser necessário, até porque o modelo tem funcionado. Penalizar o número de candidatos, quando a nível demográfico há poucos jovens de 20 anos a candidatar-se, é desnecessário e causará efeitos nefastos para os Politécnicos e para o país, especialmente quando se fala tanto em democratização do Ensino Superior.
Na sua opinião, esta segunda prova de ingresso surge porquê?
Fizemos exatamente essa questão e o que sabemos é que esta situação estará ainda em discussão pública, previsivelmente entrará em vigor no ano de 2025. Relativamente aos alunos do Ensino Secundário para concluírem este ciclo de estudos terão de realizar três exames no mínimo. E posteriormente, para ingressarem no Ensino Superior irão utilizar dois desses exames para haver um equilíbrio entre as provas realizadas e as exigidas. A questão é que para haver este equilíbrio, poderemos criar desequilíbrio. Com o estudo que fizemos, concluímos que o impacto para as Instituições do Interior é muito significativo.
Para quem é que estudar neste sistema de ensino constitui uma mais-valia no percurso académico e posteriormente, profissional?
Quem opta por este sistema de ensino é quem está vocacionado ou orientado para investir numa determinada profissão. É um ensino mais prático e mais direcionado para profissões concretas, temos vindo a verificar exatamente isso nos nossos candidatos e colocados.
Este ano foi marcado pela aprovação de ministrar Doutoramentos no Ensino Superior Politécnico. Que alterações esta novidade vai trazer ao Ensino Superior português?
Relativamente ao Ensino Superior Português, vai trazer uma abertura maior e vai fazer com que as Instituições de Ensino Superior Politécnico possam cumprir em pleno a sua missão. Os Politécnicos têm um impacto regional muito forte, pois muitos estão localizados em territórios onde nem há Universidades, e neste momento, as Instituições estão impossibilitadas de fazer Doutoramentos, ou seja, de continuarem com a sua missão e de responderem às necessidades das empresas que estão nestas regiões. O fim desta limitação permite às Instituições responder de uma forma ainda mais assertiva, àquela que é a sua missão e plantação no território.
“Um estudante que venha para as nossas Instituições acaba por ter à disposição todos os ciclos de ensino, desde o CTeSP até ao Doutoramento.”
Na prática, em termos de currículo e de ensino, quais serão as diferenças entre os Doutoramentos nas Universidades Politécnicas e nas Universidades?
O que se defende é que o cariz dos Doutoramentos no Ensino Politécnico seja profissionalizante, com um teor prático e de resposta a questões concretas, devendo estar alinhados com as necessidades das empresas desses territórios, o que se prende muito com a inovação. Especialmente quando temos um país com projetos com impacto no que diz respeito às agendas mobilizadoras, em que são precisas pessoas qualificadas. A própria designação de Institutos Politécnicos para Universidades Politécnicas também é uma novidade, uma conquista deste Ensino.
Na sua opinião, o que mudou, para que esta alteração fosse finalmente aprovada pelo Parlamento, tendo em conta que esta já é uma luta de anos?
Esta alteração na designação tem um impacto muito significativo, especialmente, em termos internacionais. A designação “Universidade Politécnica” é mais aceite internacionalmente, é mais esclarecedora daquilo que realmente somos. O conceito de Universidade é mais claro do que o conceito de Instituto. Temos muita dificuldade em fazer perceber aos nossos parceiros o que é um Instituto Politécnico, se dissermos Universidade Politécnica não restam dúvidas. Tendo em conta que precisamos de angariar estudantes internacionais, esta alteração na designação facilita-nos muito.
Qual é a necessidade que sentem em captar estudantes internacionais?
São uma fonte de receita importante, até porque as propinas dos estudantes internacionais não estão balizadas pelo Orçamento de Estado e com o número de candidatos a diminuir com estas alterações no acesso ao Ensino Superior, precisamos de equilibrar e compensar esta diminuição do nível demográfico com os estudantes internacionais. Não podemos perder estudantes, se não os temos a nível nacional, precisamos de os angariar internacionalmente. Apesar de o número de estudantes ter vindo a aumentar significativamente, especialmente em algumas regiões.
Em que é que estas alterações vão alterar, de um modo geral, a forma de estar, lecionar, de estudar e trabalhar nas Universidades Politécnicas?
Agora, um estudante que venha para as nossas Instituições, acaba por ter à disposição todos os ciclos de ensino, desde o CTeSP até ao Doutoramento. Há também muitas oportunidades internacionais, por isso, ser estudante politécnico é cada vez mais vantajoso e amplo em termos de oportunidades.
De um modo geral, ano após ano, continua-se a verificar um “gap” entre o litoral e o interior do país. O Ensino Superior Politécnico pode desempenhar aqui um papel importante, tendo em conta que o ensino é predominantemente profissionalizante e que existe uma ligação entre as instituições e o mercado de trabalho? De que modo?
Por isso é que a questão da coesão territorial é fundamental. O melhor canal para fixar pessoas é através dos estudantes. Se as cidades tiverem boas condições, serviços, e os Doutoramentos irão ajudar nisso mesmo, mais facilmente as pessoas se fixam no interior e reduz esta diferença entre o litoral e o interior do país.
De que forma é que o Ensino Superior Politécnico pode ajudar a reduzir esta diferença territorial?
Os territórios têm necessidades especificas, consoante as regiões e as pessoas que estudam, nomeadamente, agora com os Doutoramentos, nessas regiões estão a ganhar conhecimentos práticos que são, de facto, necessários para as empresas da região onde estudam e residem. Dando o exemplo do Politécnico de Bragança, que tem Centros de Investigação de Excelência na área da Agricultura, se se conseguir atrair pessoas, mais facilmente se responde às necessidades da região e seguramente que estas pessoas terão emprego na área em que investiram os seus estudos. É preciso é que existam especializações, em determinadas áreas, para que isto constitua uma mais-valia.
Falando de apoios sociais (bolsas de estudo e de alojamento), quais são os apoios que o Ensino Superior Politécnico oferece aos estudantes?
Temos as bolsas da DGES disponíveis. Para além disso, houve um reforço de bolsas, das componentes de alojamento e foi anunciada recentemente uma medida nova que apoia os alunos deslocados não-bolseiros. O Ministério tem feito um trabalho significativo ao tentar minimizar o impacto da inflação no alojamento e nos estudos. Internamente, cada Instituição tem os seus recursos, temos Fundos de Emergência para responder a necessidades de alunos que estejam em situações muito complicadas. Existem mecanismos internos, mas também há os apoios do Governo que este ano foram de facto reforçados.
Para os jovens que estão a finalizar o Ensino Secundário, porque é que o Ensino Superior Politécnico é uma opção a considerar?
Temos uma vasta panóplia de áreas de estudo disponíveis, oferecemos qualidade de vida, garantimos empregabilidade e o prosseguimento de estudos. Penso que estas quatro componentes são fundamentais.