Conversas sobre… Orientação Vocacional e Profissional: Um futuro com propósito
Com o final do Ensino Secundário à porta, o momento de decidires o curso superior, que determinará (ou não) o teu percurso profissional, pode revelar-se um autêntico bicho de sete cabeças. Eleger uma área de ensino é uma das etapas estudantis mais desafiantes, que merece a maior seriedade de análise.
Será a Orientação Vocacional e Profissional a solução para os teus problemas? A Drª Paula Avelino, Psicóloga Clínica e especialista em Orientação Vocacional e Profissional, responde!
“Arte de questionar. Conversa interna. Desenvolvimento da tomada de consciência. Caminho que desbrava desafios, aciona recursos e ultrapassa desmotivações”. Afinal, em que consiste o Processo de Orientação Vocacional e Profissional?
Assumindo um papel de suporte, de amadurecimento e de orientação para a tomada de decisão, o Processo de Orientação Vocacional e Profissional analisa interesses e motivações, características de personalidade, aptidões e valores, partindo de uma entrevista inicial, que evolui para sessões de aplicação de testes, resultando, posteriormente, num relatório que será alvo de reflexão com o próprio jovem, sendo também frequente a presença dos pais.
As razões que os conduzem até à Orientação Vocacional e Profissional são de diferentes ordens. Do 9º ao 12º ano, o “não saber” que rumo é o adequado; ao frequentarem um curso superior ou técnico, o equacionar sobre os seus interesses e competências; e até mesmo quando pretendem decidir qual o mestrado a prosseguir. De referir que a área escolhida no 10º ano não tem imperativamente de ser decisiva para o passo seguinte, apesar de existirem alguns condicionalismos.
Na altura de traçar caminhos, são reveladas inúmeras dificuldades. Quais são os passos primordiais para que a geração futura ingresse (ou não) com o pé direito no mundo académico?
Contrariamente àquilo que se tem ideia, a Identidade Vocacional não é algo que surja do nada ou que possua data marcada.
É na infância que se inicia o processo de descoberta e exploração que irá culminar mais tarde naquilo a que normalmente chamamos de Processo de Orientação Vocacional e Profissional, no qual os pais, educadores e professores declaram uma posição relevante, proporcionando o ver, o ouvir, o manipular e o sentir da diversidade que nos envolve.
O não condicionamento a preconceitos ou estereótipos permite que o processo exploratório se vá enriquecendo, permitindo a formação de um “tapete” cada vez mais sustentável para uma tomada de decisão futura.
Um bom ponto de partida poderá ser o 7º ano, que se prolongará durante o 8º e o 9º ano. “Quais são as disciplinas prediletas?”, “Que matérias são mais difíceis?”, “Prática ou teórica?” e “Laboratório ou ar livre?”.
No Secundário, ainda acontece os alunos não saberem quais são as profissões dos pais e em que consiste o quotidiano dessas mesmas profissões, acionando o alerta de que há algo que deveria ser mobilizado e sensibilizado, que permita ajudar os progenitores a tornarem-se mais ativos e a ganharem perceção de qual poderá ser o seu contributo.
Não somos estranhos ou menos competentes por chegarmos a momentos de tomada de decisão e não sabermos o que escolher. Somos seres humanos em constante desenvolvimento e os nossos interesses e capacidades não são exceção! O autoconhecimento é o elemento-chave? Para além da vocação, o que deve ser ponderado? A expressão “não sei o que escolher” vem normalmente acompanhada por uma sensação de autopressão: “os outros já escolheram e eu não”; e de pressão social: “tens de te decidir”, “isto é para o resto da tua vida”, “atenção, nessa profissão não se ganha bem”, funcionando muitas vezes como um bloqueio que acaba por originar uma tomada de decisão vocacional sabotada. O autoconhecimento é, assim, um processo que se vai desenrolando, sobretudo na adolescência, através da procura e construção da identidade: “Quem sou eu? De que é que eu gosto? O que é importante para mim? O que me limita? Quais são as minhas dificuldades?”; e da conquista de independência.
Neste sentido, cada caso é um caso e cada momento tem as suas nuances. Existirão sempre escolhas a fazer, pensamentos a decifrar, comportamentos a perceber e emoções a experienciar. No peso dos fatores a ponderar entra inevitavelmente em jogo o EU e o que conheço e pretendo do Mundo.
Que estratégias e soluções a Orientação Vocacional e Profissional apresenta aos alunos na identificação vocacional?
No 12º ano a definição de um percurso profissional apresenta-se muitas vezes “desfocada”, não havendo ainda consciência de alternativas.
A Orientação Vocacional e Profissional permite dissipar dúvidas, desafiando o jovem a pesquisar, a planear e a encontrar-se nas várias possibilidades académicas e ocupacionais. Exploram-se, então, as aptidões e motivações, reflete-se sobre a personalidade e identifica-se o que é importante no momento presente e em termos futuros. A Psicologia não olha apenas para os problemas e para as dificuldades, mas também para as potencialidades de cada um.
Que erros são mais recorrentes ao eleger um curso superior?
De acordo com a minha experiência, os pontos que poderão aumentar a probabilidade de insucesso na tomada de decisão são vários, como escolher no 10º ano uma área em que não se apreciava a maioria das disciplinas, condicionando, assim, a posterior decisão de um curso superior; optar por um curso superior sem anteriormente investigar as saídas profissionais; seguir tendências sem autorreflexão; preferir um curso por conceder prestígio social ou uma profissão tendencialmente remunerada de forma mais satisfatória e não analisar o gosto pela mesma; ceder a pressões externas; não relacionar as aptidões e competências que o curso que elegeu exige com o “Quem sou eu?”; e achar que nada é reversível.
“A Orientação Vocacional e Profissional permite dissipar dúvidas, desafiando o jovem a pesquisar, a planear e a encontrar-se nas várias possibilidades académicas e ocupacionais.”
E… Quais são os indícios que espelham uma escolha acertada?
É uma espécie de “salada de frutas”: Motivação (gostar verdadeiramente do que se faz); Empenho (sentir que não há esforço e que o investimento flui naturalmente); Proatividade (tomar iniciativa, procurar saber mais e ir mais além); Resultados (sentir que o empenho traz retorno ou encontrar estratégias para ultrapassar eventuais dificuldades ou desafios); Compromisso (reconhecer que sou fiel à minha essência no dia a dia profissional); e, claro, a Felicidade.
Mas, possuirmos a formação adequada é o suficiente para atingirmos a concretização? De que forma os alunos se podem enriquecer durante a sua passagem pelo Ensino Superior?
Os fatores que poderão influenciar o sucesso profissional são diversos, mesmo quando consideramos que estamos a frequentar o curso “da nossa vida”! O Desenvolvimento Pessoal é crucial no reconhecimento das capacidades, dificuldades, desafios e forças pessoais, através de processos de coaching, sessões de Psicologia, workshops e realização de estágios de curta duração. Há que observar “fora da caixa”, recolher o máximo de informação sobre as saídas profissionais, ampliar e ir para além do óbvio e do imediato, visto que uma profissão poderá desdobrar-se em contextos e realidades diferentes.
A escolha realizada não foi a mais correta. E agora?
Atualmente, já existe uma maior consciência e aceitação de que se pode trocar de área, de curso ou de profissão, e que as escolhas não têm de ser herméticas e irreversíveis. As consequências têm de ser consideradas, mas o mais importante é assumirmos que não estamos bem. Não tem de haver culpa, vergonhas ou sentimentos de inferioridade. Evoluir significa compreender que às vezes precisamos de mudar e é aqui que a Orientação Vocacional e Profissional faz todo o sentido.
Que conselho é que pretende dirigir aos potenciais candidatos ao Ensino Superior?
Fazer o que gostamos contribui para que nos sintamos felizes. Ao sentirmo-nos mais felizes, as coisas fluem mais positivamente e a probabilidade de atingirmos os nossos objetivos será consequentemente maior. Nenhuma decisão é definitiva, não é a lei do tudo ou nada. Há sempre a possibilidade de mudança… Acreditarmos em nós próprios é fundamental!