ADN Escolas: Escola Secundária José Saramago
Inclusão, saúde mental e participação ativa dos alunos na vida da escola são os três vértices que guiam a missão e o trabalho diário da Escola que herdou o nome de um dos maiores escritores nacionais. Estivemos à conversa com o Diretor da Escola, o Dr. Pedro Liberto Ferreira para conhecer melhor esta escola, situada em Mafra.
Enquanto instituição, quais são os valores e missão que orientam e guiam o vosso trabalho diário na Escola?
Em termos de valores, procuramos ser uma incubadora de cidadãos capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável da humanidade, numa perspetiva social, económica e ambiental. Relativamente à missão, esta passa por servir a sociedade, através de um serviço educativo potenciador da formação de jovens e adultos, dotados de saberes e competências, espírito interventivo e valores morais que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente dos desafios que se lhe colocam, mais capaz de os resolver, mais justa socialmente e ambientalmente mais responsável.
A vossa Escola herdou o nome do escritor José Saramago. Que herança do escritor podemos ver na vossa escola atualmente?
O escritor marca muito a nossa escola. Este ano foi a comemoração do centenário do seu nascimento e tivemos a honra de ter a presença do Senhor Presidente da República que se juntou às leituras centenárias. Entrando na nossa escola, podemos ainda, ler a frase que José Saramago deixou quando nos visitou em 1999, a seguir à atribuição do prémio Nobel. Dinamizamos, também, imensas atividades relacionadas com Saramago. Estamos, inclusive, a ultimar um memorando de entendimento com a Fundação José Saramago, pois o objetivo é termos uma presença na Fundação e vice-versa. A nossa escola foi também a selecionada para fechar as comemorações do centenário do escritor. José Saramago é intrínseco à Escola, tomou totalmente o nosso nome.
Desenvolvem projetos de solidariedade, bem-estar animal, cidadania, sustentabilidade… porquê esta aposta e quais são os benefícios para os alunos em participar nestes projetos?
Realmente esse é um dos pontos mais fortes da nossa escola, os projetos. Neste momento, temos 23 ativos. Destaco aqueles que têm mais impacto na escola, atualmente. O projeto Erasmus+, o Clube Ciência Viva, o Clube Eco-Escolas, o Plano Nacional das Artes, o projeto Formação e Educação para a Saúde, os vários projetos de Solidariedade Social e o Desporto Escolar. Estes são os que têm um impacto maior e os que são mais abrangentes. O objetivo da escola, ao dinamizar estes projetos, é o de trabalhar a cidadania, tornar os alunos mais interventivos no dia a dia da escola e abri-los à comunidade e ao mundo. Temos o Clube Europeu, no âmbito do projeto Erasmus, portanto não nos confinamos ao nosso espaço físico, nem ao nosso território. Achamos que esta é a forma que nos dá melhores resultados para preparar os alunos para o mundo. Os projetos são uma forma de os jovens se concretizarem na escola, para além do currículo que já está “estandartizado” e que todos têm de cumprir. Serve também para que eles se identifiquem com a escola e se motivem a estar na escola, pois alguns deles não têm bons resultados escolares, mas envolvendo-se nos projetos, encontram uma motivação e uma identificação com a escola. São só mais valias e, sem dúvida, que é dos fatores que mais caracteriza a nossa escola.
“Os projetos são uma forma de os jovens se concretizarem na escola, para além do currículo que já está “estandartizado” e que todos têm de cumprir. Serve também para que eles se identifiquem com a escola e se motivem a estar na escola, pois envolvendo-se nos projetos encontram uma motivação e uma identificação com a ela.”
Sentem que os alunos são participativos e interessados nos projetos?
Sim, sem dúvida. Aliás, isto é uma consequência de os alunos serem participativos e interessados nos projetos. Há uma mobilização muito grande da parte dos alunos e há um investimento muito grande da parte dos professores, para lhes conseguir dar o apoio necessário. Tem sido feito, neste último ano, um esforço muito grande para mobilizar a Associação de Estudantes, que depois mobiliza os alunos todos. Temos realizado reuniões regulares, mensalmente tenho uma reunião com a Associação de Estudantes e com a Associação de Pais e temos vindo a trabalhar em conjunto. Tivemos até no passado dia 16 de fevereiro, uma atividade que foi proposta em conjunto pelos três, que resultou destas reuniões e que se relaciona com comportamentos aditivos que, à imagem da realidade de outras escolas, temos também sentido um aumento destes comportamentos. Por isso, envolvemos entidades como a Comunidade de Vida e Paz e a GNR para dar uma palestra a todos os nossos alunos. Fizemo-la em streaming, em dois tempos, de manhã e de tarde, de modo a abranger todos os alunos. Neste momento as aulas pararam, para que eles pudessem assistir e colocar questões através de um QR Code que disponibilizamos. Esta palestra está disponível online para que mais pessoas possam assistir.
Foi-vos atribuído o Selo SaudávelMente. Que práticas adotaram na escola que vos valeu a atribuição deste selo?
Estamos a começar a investir nessa área, pois não era uma aposta forte da nossa Escola, estamos agora a começar a trabalhar em vários selos. Os selos não devem ser entendidos apenas como um prémio, mas sim, uma forma de estabelecer procedimentos que levem a que exista qualidade e que esta possa ser medida. Estamos neste momento, num procedimento de qualidade, o EQAVET, relativamente aos cursos profissionais, vamos ter, inclusive, uma auditoria para obter este selo, de acordo com as normas europeias. Esta é uma garantia de que haverá uma auditoria externa e que dessa forma, asseguramos que há procedimentos e medidas de qualidade para atingir os nossos objetivos.
No vosso site há uma página dedicada apenas ao envolvimento dos pais na vida escolar dos seus filhos e educandos, na qual podemos ler “Acreditamos na participação ativa de pais e encarregados de educação pela qualidade de ensino…” – De que modo promovem uma participação ativa dos pais na vida escolar dos seus filhos? Como é que os pais, por sua vez, reagem a este apelo de participação?
A ação de que falámos anteriormente é um exemplo disso. Eu tenho o cuidado em me reunir com os pais todos os meses, pois entendemos que estes são fundamentais para o nosso sucesso. Precisamos realmente da sua ajuda para conseguirmos prestar um bom serviço educativo, pois se os pais nos ajudarem em casa, na escola teremos muito mais facilidade em obter sucesso. Neste momento, temos uma relação muito empática com a Associação de Pais, eles compreendem os nossos problemas e tentam ajudar-nos e nós também, temos até um grupo de WhatsApp os três (eu, o Presidente da Associação de Estudantes e o Presidente da Associação de Pais), em qualquer altura estamos em contacto, vamos partilhando as preocupações que vão surgindo e vamos tentando solucionar todas as questões. Existe um clima de colaboração.
“A inclusão, a saúde mental e a participação ativa dos alunos na vida da escola, que também é uma forma de promover a cidadania, a solidariedade, entre outros, são os três vetores que neste momento, nos orientam para atingir o nosso objetivo mais nobre: oferecer o melhor serviço educativo.”
Quais são os objetivos e planos para o futuro da Escola Secundária José Saramago?
O objetivo máximo e primordial é oferecer o melhor serviço educativo que conseguirmos. Para isso, é fundamental que os alunos participem nos projetos, que sejam ativos e que esta seja uma escola inclusiva, que se preocupe com a saúde mental dos seus alunos e professores e nós temos feito muitas ações para promover o tratamento da saúde mental dos nossos alunos. Dando um exemplo, regra geral existe um psicólogo por escola, mas nós temos um universo de cerca de 2.000 alunos e recorremos aos apoios do Plano 21/23 e por isso, temos mais uma psicóloga e ainda outra, a meio tempo. Abrimos, pela primeira vez, a possibilidade de ter uma aluna estagiária de psicologia na escola. Abrimos recentemente uma sala de bem-estar, em que as pessoas, em SOS se podem deslocar, estar lá e possam falar sobre as suas problemáticas. Este espaço destina-se a toda a comunidade escolar (professores, funcionários e alunos). Através do Serviço de Apoio e Orientação temos dado apoio a alguns professores e funcionários. Estamos, também, em contacto estreito com a Câmara Municipal de Mafra, com o Gabinete de Psicologia, com quem temos dinamizado muitas ações e atividades no âmbito da saúde mental e temos contado com a participação direta dos psicólogos da Câmara. Desta forma, não sendo o número ideal de apoio especializado, mas comparando com a realidade da maioria das escolas, temos uma situação muito privilegiada. Esta é uma preocupação nossa, porque percebemos que a saúde mental era fundamental para conseguir bons resultados educativos. Portanto, dentro desta vertente, a inclusão, a saúde mental e a participação ativa dos alunos na vida da escola, que também é uma forma de promover a cidadania, a solidariedade, entre outros, são os três vetores que, neste momento, nos orientam para atingir o nosso objetivo mais nobre: oferecer o melhor serviço educativo.
O que gostava que um aluno que saísse da vossa escola dissesse sobre o período em que aí estudou?
O que eu desejava é que os alunos sentissem que esta passagem tivesse contribuído positivamente para o percurso das suas vidas, que tenham feito aqui muitas aprendizagens para a vida. Não fazemos o nosso trabalho para sermos reconhecidos, fazemos o que consideramos ser necessário para o bem dos nossos alunos. Claro que sermos reconhecidos sabe sempre bem, mas se os nossos alunos saírem da nossa escola, mais preparados para enfrentar o mundo e a velocidade a que ele se transforma todos os dias, para nós é motivo mais que suficiente para sentirmos que fizemos um bom trabalho. Felizmente temos tido provas disso, com ex-alunos que não largaram ainda o cordão umbilical que os liga à nossa escola.