ADN Escolas: Escola Secundária de Salvaterra de Magos
Uma escola que aposta na inovação, nos valores da inclusão, cidadania e solidariedade. Fomos conhecer a Escola Secundária de Salvaterra de Magos pela voz da sua diretora, a Drª. Maria Castela Lopes.
No vosso site pode ler-se que a Missão da Escola Secundária de Salvaterra de Magos passa por prestar “um serviço público de educação de qualidade, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e conscientes dos seus deveres e direitos (…)” como é que se faz por cumprir esta missão diariamente?
Queremos preparar os nossos alunos para aquilo que a sociedade hoje em dia exige. Mais do que os ensinamentos que advêm das aprendizagens essenciais das disciplinas, os chamados saberes disciplinares, queremos proporcionar- -lhes vivências e experiências para que eles tenham oportunidade de mostrar o seu sentido crítico. Prepará-los para que eles saibam viver nesta sociedade, que é extremamente complexa, e está em constante mudança. É importante que saiam da nossa escola, preparados e a ser seres questionadores, digo-lhes muitas vezes que eles devem questionar tudo, as perguntas não devem ficar com eles, só assim podem crescer. Portanto, a nossa missão é proporcionar-lhes estas vivências.
As perguntas já não são só a missão do professor, são também o dever do aluno…
Antigamente a educação estava centrada no professor e neste momento está centrada no aluno. O aluno é o centro e o professor é o mentor, o orientador, e é assim que deve ser. É este paradigma que queremos mudar, queremos tornar os alunos mais ativos. Está provado através da pirâmide da aprendizagem, que eles aprendem melhor e de forma mais eficaz se forem eles a construir esse saber. Por isso, temos de proporcionar-lhes os momentos para eles aprenderem. A ideia de que o professor é o detentor do saber está desatualizada, neste momento, a informação está em todo o lado.
Estamos muito próximos dos alunos, ouvimo-los e esse é o nosso objetivo. Acreditamos nas ideias que nos trazem, procuramos desenvolvê-las e apoiá-las.
Têm vários selos atribuídos, nomeadamente, o selo SaudávelMente, Eco Escolas, Selo Protetor, etc. Estes selos representam um reconhecimento de práticas que já faziam parte da vossa escola ou fizeram alterações de modo a que vos fossem atribuídos estes selos?
Foram sendo feitas alterações, contudo, algumas já faziam parte das nossas práticas institucionalizadas. Temos desde 2018, o Selo da Escola Protetora da Criança, entrámos logo no segundo ano de existência deste selo, e no fundo, este Selo é um conjunto de documentos de referência que temos de ter e de práticas que têm de estar implementadas para proteger a criança. Este é um dos selos mais complexos e é um daqueles que tem vindo a ser renovado. Já existiam práticas, melhoraram-se outras e formaram-se gabinetes de atendimento aos nossos alunos. No fundo, melhoramse práticas que se foram dando a conhecer à comunidade.
Ao nível da oferta formativa, têm um vasto leque de cursos profissionais e alguns pouco vulgares comparando com outras escolas, mas muito pertinentes, para o mercado de trabalho atual, tais como Técnico de Energias Renováveis. Porque vos fez e faz sentido esta aposta em cursos com uma componente mais prática?
Essa é uma das áreas que mais temos necessidade hoje em dia, basta pensarmos na sustentabilidade do nosso planeta. Queríamos também proporcionar aos alunos uma experiência totalmente diferente. Em termos de tecido empresarial, na nossa região, não temos uma vasta oferta para esta aposta formativa. Por isso, este curso é também uma forma de eles conseguirem sair desta zona. Tínhamos alunos interessados, tínhamos professores preparados para lecionar estas áreas e os espaços físicos necessários. A nossa escola foi intervencionada pela Parque Escolar e, por isso, temos muitos laboratórios que proporcionaram estas vivências aos alunos.
Integram o Projeto Piloto de Desmaterialização dos Manuais Escolares, porque decidiram apostar nesta solução mais ecológica e digital? Qual tem sido a reação dos alunos, professores e encarregados de educação?
Estamos no projeto há dois anos, iniciámos com as turmas do 5º ano e este ano estamos com as do 6º ano. É um projeto para continuar e que vai avançando ano a ano. A intenção foi, por um lado, trazer aquilo que eles pediam muito: ter menos peso nas mochilas e, por outro, trazer para a escola um material que eles gostem e eles gostam dos meios digitais. Ao introduzirmos os manuais digitais conseguimos implementar a ideia da aprendizagem centrada no aluno. Tem sido dada muita formação também aos professores, principalmente àqueles que estão envolvidos no projeto, para impulsionar que desenvolvam metodologias mais ativas, em que o aluno está no centro da aprendizagem. Através do manual digital, o aluno pesquisa a informação e constrói o saber. Queremos potenciar a sua autonomia e a sua responsabilidade.
Esta é uma grande mudança para os professores que durante a sua vida de alunos foram passivos e durante a sua carreira docente foram ativos e agora veem revertida a situação…
Sim, e não é fácil, especialmente, porque isto tem vindo a ser aplicado no 2º ciclo, onde o corpo docente já está mais envelhecido, e é normal haver uma maior resistência à mudança que se prende apenas pela resistência à saída de uma área de conforto. Quando o professor é detentor do saber, é ele quem controla e já está habituado, e de repente está numa situação em que o aluno também controla, também é detentor do saber e muitas vezes, no caso de plataformas digitais, o aluno até sabe mais que o professor, e este sente um entrave. Mas, temos sentido uma recetividade e não entraves. Por outro lado, os pais têm muitas dúvidas, mas têm compreendido o processo. Receiam que os filhos não estejam a aprender, porque os veem no computador e não sabem exatamente o que estão a fazer, mas depois percebem que estão de facto a estudar ou a fazer atividades escolares. Ainda não existiu tempo para perceber se as aprendizagens são efetivas, mas lá chegaremos. Tudo isto só é possível, porque o governo tem vindo a trazer para as escolas novos equipamentos digitais para entregarmos aos alunos.
Esta é uma escola dinâmica e ativa em termos de projetos e atividades que dinamiza. Como é que se consegue envolver e motivar uma comunidade estudantil jovem a participar nestes projetos?
Se eles sentirem que nós acreditamos nas suas ideias e lhes passarmos essa mensagem, eles também acreditam. Estamos muito próximos dos alunos, ouvimo-los e esse é o nosso objetivo. Acreditamos nas ideias que nos trazem, procuramos desenvolvê-las e apoiá-las. Depois quando eles veem que as suas ideias estão a avançar e que são apoiadas, mais tarde, eles também apoiam as nossas. Os projetos crescem com eles e com as famílias também.
Sabemos que o projeto Erasmus+ faz parte dos vossos projetos, como é que funciona na vossa escola?
Estamos apenas no segundo projeto, o primeiro foi direcionado para os professores e este segundo para os alunos. Ainda não tivemos a experiência de levar os nossos alunos a conhecer outras comunidades estudantis, vamos em abril, mas estamos neste momento com um grupo de Erasmus de Itália. Recebemos os professores e agora os alunos. Este é um projeto que motiva os alunos, porque eles gostam de conhecer outras realidades e outras pessoas. Estamos envolvidos em projetos de sustentabilidade e num outro projeto focado nas tecnologias. Numa próxima candidatura iremos tentar chegar ao tema da inclusão, estamos a tentar tocar nestes três pontos que consideramos fundamentais para alunos e professores.
Para concluir, o que gostava que um aluno, que saísse da vossa escola, dissesse sobre o período em que aí estudou?
Que foi marcante e que não se esquece. Temos um projeto atualmente na nossa escola que se chama “Vidas que falam” e que tem trazido ex-alunos à escola novamente. No momento em que eles cá vêm, partilham a sua experiência, ajudam a orientar alunos do ensino secundário que estão indecisos ou que têm dúvidas e transmitem a ideia de que, agora o ensino é contínuo e as aprendizagens são para a vida. Isto tem sido muito enriquecedor para os nossos alunos e para nós é muito tocante ouvir que o período em que estiveram na nossa escola os marcou e determinou o seu percurso académico e até, por consequência, profissional, e que se sentem emocionados quando passam pelos portões da escola.