Um pequeno passo para o Homem, um gigante passo para o futuro: A Educação Ambiental como motor para a mudança
Vivemos numa era cada vez mais marcada pelo desequilíbrio ecossistémico. Segundo a avaliação anual do Fórum Económico Mundial, em 2020 os cinco riscos globais mais prováveis de afetarem o mundo na próxima década pertencem apenas a uma única categoria: a ambiental.
Os fenómenos climáticos e naturais extremos, o falhanço nas ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas, a perda de biodiversidade e os desastres ambientais provocados pela sociedade civil transcendem fronteiras, conduzindo à acentuação das desigualdades sociais e dos níveis de pobreza.
Estivemos à conversa com Joaquim Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), para debater a pertinência de olharmos para o futuro sem nunca nos esquecermos de agir no presente, uma vez que só assim será possível retardar os impactos consequentes da exagerada utilização dos recursos essenciais.
Haverá esperança para a geração vindoura? A Educação Ambiental garante ser um dos caminhos!
Emergida na comunidade há já meio século, este método de aprendizagem, com um enfoque educativo-ambiental e promotor de uma cidadania ativa, consciente, dinâmica e informativa, assegura o envolvimento e o compromisso de cada indivíduo e organização face às situações de crise atuais.
“Esta ação aborda de uma perspetiva educativa e sociopolítica as questões ambientais, com um horizonte de responsabilidade e atuação. Para além de identificar e reconhecer as problemáticas, é preciso refletir sobre as mesmas de uma forma interventiva e contribuir para os processos de decisão”, explicou o presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA).
Neste sentido, utilizar o conhecimento para avaliar a realidade envolvente, formular e debater argumentos e sustentar posições é o mote e propósito desta temática, que promete impulsionar novos pontos de vista, estratégias no diálogo educação vs. ambiente e métodos pedagógicos, gerar iniciativas solidárias e fomentar a coesão, integração social e liberdades cívicas.
“Esta estratégia tem de ser vista pela mudança individual, aquilo que somos capazes de fazer, e não tanto apenas pela questão da sensibilização. É preciso alertar, para depois agir. Temos de estar sempre um passo à frente”, referiu Joaquim Pinto.
O papel das instituições de ensino e o protagonismo juvenil
Para que exista uma mudança comportamental, tendo em consideração a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, é imperativo que se utilize as escolas como um lugar privilegiado para consciencializar os mais jovens, uma vez que o seu papel transformador possibilita a expansão do conhecimento e do instinto questionador.
Os ministérios da Educação e Ambiente uniram esforços para desenvolver e acompanhar projetos dedicados à área ambiental, através da Estratégia Nacional de Educação Ambiental, assente na experiência internacional e nacional, na capacitação da sociedade face aos desafios ambientais e na sustentabilidade e cidadania.
É necessário que os educadores e professores sejam mediadores neste plano educativo, através de ações práticas do dia-a-dia que levarão à reflexão e construção de soluções por parte dos seus alunos. Afinal, tal como explica a Direção Geral da Educação (DGE) no Referencial de Educação Ambiental para a Sustentabilidade, “a escola não se pode limitar a ser um mero espaço de transmissão de saberes académicos”, devendo preocupar-se, também, “com a formação dos jovens enquanto cidadãos de pleno direito, preparando-os para o exercício de uma cidadania ativa, responsável e esclarecida face às problemáticas da sociedade civil”.
É neste âmbito que o programa Eco-Escolas, presente em cerca de 32% das escolas do ensino público em território nacional, surge com o intuito de colaborar para a formação de uma comunidade escolar mais verde, acionando um conjunto de ações e pequenos mecanismos que a tornem mais participativa.
“Cada escola decide as suas atividades que, por sua vez, são adaptadas às características, à faixa etária e ao grau de escolaridade. Oferecemos um conjunto de projetos opcionais para incentivar e premiar as instituições, como os “Recreios com Vida”, que pretende que os espaços comuns sejam espaços de integração e não de exclusão”, contou Margarida Gomes, operadora nacional do Eco-Escolas.
Ao pensar-se na transversalidade e interdisciplinaridade da temática, é imprescindível o envolvimento juvenil, considerando que os problemas sociais decorrentes da agressão ao meio ambiente podem ser minimizados com o trabalho coletivo, a busca de informações e o direcionamento do trabalho docente em prol da formação cidadã.
“Os discursos de retórica que alertam para a importância de deixarmos algo para as gerações vindouras é um discurso esgotado. Precisamos de considerar e falar nas gerações presentes, temos de concertar a responsabilidade individual com os compromissos coletivos para trabalhar e atuar com as gerações presentes. Daí, também, o papel importante das redes e dos grupos da sociedade civil organizados, dos educadores ambientais, da comunidade docente e científica e dos técnicos de municípios para chamarem os jovens a decidir políticas que os irá implicar e comprometer no futuro”, aconselhou o presidente da ASPEA.
Assim, a Educação Ambiental deve e merece ser uma componente central dos sistemas educacionais, de forma a que, enquanto atores de intervenção, sejamos capazes de resolver desafios, respeitar a diversidade cultural e contribuir para a criação de um mundo ambiental e socialmente mais justo. Assume a linha da frente e põe mãos à ética ecológica.