Opinião | Afinal, há mais vantagens em ler e não são uma raridade
Uma outra vantagem de ler livros é podermos aumentar o nosso conhecimento. Há até livros que adquirem significados muito diferentes daquilo que dos próprios autores tinham imaginado, como é o caso d’A Raridade das Coisas Banais.
O autor, Pedro Chagas Freitas não o escreveu com o intuito de ser utilizado profissionalmente por psicólogos, mas foi o que acabou por acontecer. E como para um leitor comum, as múltiplas dimensões deste livro podem não ser óbvias, partilhamos as opiniões das psicólogas Stephanie Lourenço Afonso, licenciada e mestrada em Psicologia Clínica, ramo psicoterapia e com Vânia Lopes, neuropsicóloga com uma abordagem psico-emocional que nos darão uma abordagem fundamentada sobre as várias temáticas que o livro aborda.
Para Stephanie Lourenço Afonso, temas como o autoconceito, a autoestima, os relacionamentos interpessoais e o bullying são alguns dos temas representados na obra de Chagas Freitas e aborda levemente, cada um deles, relacionando com excertos da obra.
“Não ligo às aparências. Porquê? Ficam-me mal”
Nesse período (entrada na adolescência) e transição, as auto-descrições estão mais sujeitas a distorções e a enviesamentos cognitivos, que podem implicar que o autoconceito do adolescente se possa tornar mais irrealista e, até, conduzir a comportamentos desajustados.
Na cultura do século XXI, o corpo é visto como objeto e aqueles que não se enquadram nos padrões, como pessoas acima do peso e/ou com caraterísticas particulares e especificas são muitas vezes excluídas, descredibilizadas e marginalizadas.
“O segredo da vida é tantas vezes trepar a uma árvore e depois usarmo-nos uns aos outros às cavalitas para ultrapassarmos os obstáculos.”
As relações de amizade têm crucial importância, também, no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades sociais como cooperação, sentimento de pertença e resolução de conflitos.
Trata-se de relacionamentos determinantes na construção da identidade dos adolescentes e na construção dos seus ideais, valores e objetivos para a vida adulta.
“Os meninos que me batem só o fazem porque lhes falta qualquer coisa. Normalmente quem faz coisas más é só quem sente a falta de alguma coisa que não consegue ter, não consegue sentir.”
Não há uma única razão para a prática do bullying, e existem muitos fatores que levam uma pessoa a humilhar constantemente outra pessoa, educação e vínculos afetivos são umas delas. As trocas de afeto na primeira infância, seja com familiares, colegas e até professores são as primeiras relações e são essas que moldam a interação, a comunicação e a capacidade de empatia e compaixão. A falta deste vínculo abre portas para a carência de afeto que justifica muitas vezes a agressividade.
No oposto da raiva está o amor. O bullying é um fenómeno que se refere a ações agressivas e gratuitas contra uma mesma vítima, que ocorrem num período prolongado de tempo. O bullying não é brincadeira entre crianças e jovens, mas sim uma forma de violência, causadora de profundas dores físicas e emocionais.
Para Vânia Lopes, é também possível observar a importância das escolhas da vida, do amadurecimento, o amor, a resiliência, a aceitação, a saudade e a autoestima.
“Não gosto de agir por bem. Gostas de agir por mal? Gosto de agir por amor”.
Ao ler este livro e analisá-lo nas suas diversas temáticas, destaco que a temática de maior importância é o AMOR, estando este direcionado a ele mesmo, à família, ao amigo, desde as paixões de adolescência, ao amor da idade adulta.
O mesmo Amor que nos “obriga” a crescer, este livro demonstra o crescer com amor nas várias etapas no desenvolvimento. Desde as dificuldades que se pode passar no dia a dia na infância à vida adulta, desde em termos económicos à saúde.
“Crescer é ter dificuldade em ver quando o que está fora do lugar, nos obriga a mudarmos de lugar. Se tudo continuar na mesma, tudo continuará na mesma…”
A personagem principal acaba por desenvolver a aceitação, inicialmente constituída por inocência, medo e negação, mas depois floriu e aceitou-se, ensina-nos a levarmos a vida com leveza e a tratarmos os problemas por tu.