Professor Jorge Rio Cardoso ensina-te como ter sucesso na escola
Hoje celebra-se o Dia Mundial do Professor. Falar sobre eles, é falar sobre ti e o teu sucesso escolar. Em conversa com a Mais Educativa, o Professor Jorge Rio Cardoso dá-te as dicas de que precisas para te tornares um melhor aluno ao longo do teu percurso escolar.
ME- O que é, afinal, ser bem-sucedido no âmbito escolar?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Ser bem sucedido no âmbito escolar é não apenas ter um bom desempenho a nível de aprendizagens, como, também, manter um relacionamento positivo com os pares, com professores, assistentes operacionais, etc.
Pretende-se que o aluno ganhe competências cognitivas, nomeadamente a nível de memorização, atenção, compreensão, motivação, raciocínio, planeamento, organização, criatividade, pensamento critico, entre outras.
Todavia, as competências relacionais são de igual forma muito importantes. Saber trabalhar em grupo, saber ouvir, gerir conflitos, por exemplo, fazem parte das aprendizagens essenciais.
De igual forma, ser bem-sucedido passar também pela participação na vida da escola, seja a nível de associativismos, seja ao nível de alguns clubes que a escola possa ter: clube de fotografia, radio escolar ou equipa de voluntariado.
ME- A pergunta que não quer calar: como nos tornamos melhores alunos?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Para sermos melhores alunos precisamos de trabalhar alguns atributos.
Um primeiro será uma boa motivação. E quando falo em motivação, não me refiro apenas à motivação em relação à escola, mas antes uma motivação para a vida. A vida deve ser equilibrada entre escola e outras atividades, sejam de desporto, música, dança ou artes, por exemplo. O aluno deve ver tudo com a necessária alegria. Ninguém consegue aprender se não perceber, com clareza, o propósito dessas aprendizagens.
Em segundo lugar, precisa de se saber organizar. Ter um planeamento entre o estudo e outras atividades. Saber definir prioridades. Neste particular, possuir uma agenda, um calendário de parede onde possa anotar os compromissos é relevante para o sucesso. Precisa também de ter um método de estudo em que a cada momento saiba as tarefas a executar. Este método de estudo dependerá do ciclo de estudo em que esteja, sendo certo que o mesmo evoluirá à medida que os ciclos sejam mais exigentes.
Aquilo a que se chama estudar tem várias valências que importa ter presente, nomeadamente: reforço da concentração e da atenção, da própria motivação, da já referida organização, mas também, saber esquematizar a matéria, saber fazer resumos, distinguir conceitos essenciais de outros secundários. Todos estes elementos podem ser trabalhados e melhorados.
ME- Qual é a importância dos novos ciclos no percurso dos estudantes?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Os novos ciclos de estudo são sempre momentos conturbados para os alunos. O receio do desconhecido impera, pois é sabido que as aprendizagens tornar-se-ão mais exigentes. Todavia, não há que dramatizar, pois faz parte da evolução e progresso do aluno. Os alunos devem, pois, encarar cada novo ciclo como um desafio a superar e para o qual devem concentrar as suas energias. Assim, informarem-se, antecipadamente, sobre o que vai mudar poderá aliviar os receios e levar a uma preparação atempada.
ME- Enquanto alunos, quais são os nossos maiores erros?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Dentro dos maiores erros destacaria os seguintes;
– Deixar tudo para a última hora, não fazendo um estudo contínuo;
– Arranjar desculpas para os maus resultados, nunca pondo as culpas em si próprio;
– Contentar-se apenas com a positiva, não dando o máximo, nem aprofundando a matéria;
– Improvisar, não possuindo um verdadeiro método de estudo;
– Não programar todas as atividades;
– Eliminar matérias, ou seja, não estuda toda a matéria, fazendo uma espécie de “aposta”, do tipo: isto não deve sair de certeza;
– Desanimar quando surgem as primeiras contrariedades; ou
– Memorizar, sem ter uma compreensão real do significado da matéria.
ME- Num mundo tão disperso, cheio de informação e coisas para fazer, como se prioriza e se identifica o que é mais importante?
Prof. Jorge Rio Cardoso- O objetivo é sempre transformar aquilo que designamos por “informação” em “conhecimento” e, sendo ainda mais exigente, transformar tudo isso em sabedoria. Talvez dando um exemplo de perceba melhor esta ideia. Se tivermos valores da humidade relativa do ar, isso é apenas informação. Todavia, se conseguirmos associar a cada um desses valores uma previsão de bom ou mau tempo, isso já representará conhecimento. No entanto, se em face dessas previsões, tivermos um comportamento preventivo, levando chapéu de chuva ou uma gabardina, por forma a evitarmos uma constipação, isso já será sabedoria.
Assim, na nossa vida, devemos sempre tentar aprofundar a informação que nos surge tentando sempre fazê-la chegar a conhecimentos úteis e, caso seja possível, almejar a sabedoria.
ME- De que forma se descobre um talento e se traça um perfil de aluno?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Para isto existem vários testes-tipo que podem detetar não apenas vocações, mas também determinadas apetências.
Neste campo, identifico-me bastante com os estudos de Harvard Gardner que assinalou 9 tipos de inteligências (ou, se quisermos, talentos), a saber:
1- Lógico-matemática: O jovem tem facilidade em lidar com números, gosta de resolver problemas matemáticos a partir da lógica e do raciocínio dedutivo;
2- Linguística: Tem sensibilidade para as línguas o que o leva a expressar-se bem de forma, quer verbal, quer escrita. Esta pode ser detetada em crianças que fazem muitas perguntas ou que gostam muito de ler;
3- Musical: Sensibilidade para a música em termos de discernir sons, o tom, entoação, ritmo ou o timbre. São crianças que estão invariavelmente envolvidas com tudo o que diga respeito à música;
4- Espacial: Facilidade em desenhar manifestando-se essa na sua habilidade de reconhecer e compreender o mundo visual com detalhe, podendo modifica-lo e recriar outras experiências. Este tipo de criança fixa muito bem imagens, formas e cores;
5- Físico-cinestética: Aqui a criança distingue-se pela sua destreza física, usando o seu próprio corpo na execução de movimentos. É a criança que adora correr, saltar ou jogar;
6- Interpessoal: É a capacidade que a criança tem de se aperceber e controlar as suas próprias emoções. Em geral, têm boas estratégias de estudo;
7- Intra-pessoal (o simpático): É a capacidade que a criança tem de criar empatia. São crianças muito extrovertidas, comunicam muito com os outros de forma eficaz;
8- Naturalista: Este tipo de criança gosta de lidar com animais ou plantas;
9- Existencial: Tem a habilidade de lidar com certos aspetos transcendentais da realidade. Capacidade de ser virtuoso e de se comportar como tal.
Todavia, de um modo geral, acredito muito numa educação integral, onde cada aluno possa aperfeiçoar-se em várias destas áreas, por oposição a uma especialização num destes talentos.
ME- Esta agora, para os pais: como podemos motivar os nossos filhos para estudar?
Prof. Jorge Rio Cardoso- É uma pergunta recorrente, mas à qual eu respondo sempre da mesma forma: a questão, a meu ver, está mal colocada. Um aluno deve estar motivado para a vida e não apenas para estudar. É o estudo que faz parte da vida e não o contrário. Quando um aluno está motivado para a vida, nesta está também o estudar. Não posso querer que um filho esteja apenas motivado para estudar e para mais nada, é utópico. Depois podemos discutir de onde poderá vir essa motivação para a vida. A meu ver poderá advir do desporto, da música, das artes, do teatro, enfim, de um sem número de atividades.
ME- Qual é o papel das atividades extra-curriculares no combate ao insucesso escolar?
Prof. Jorge Rio Cardoso- Como antes deixei implícito são fundamentais, não apenas pela motivação que criam, mas, também, pelas competências que trazem. Por vezes, desvaloriza-se este tipo de atividades, mas elas são essenciais na formação de um jovem. Por exemplo, jogar futebol, não é apenas a técnica que se exercita, mas também o respeito pelo adversário, o fair-play, as regras, tudo isto são aprendizagens essenciais.
ME- No seu livro “Uma nova escola para Portugal”, como define o sistema de Educação em Portugal e o que sugere fazer para o melhorar?
Prof. Jorge Rio Cardoso-
O sistema de educação em Portugal tem vindo a melhorar. Se compararmos com aquilo que tínhamos, por exemplo, há 10 anos os progressos são notórios. Todavia, como em tudo, é sempre possível melhorar.
Para melhorar considero que é essencial generalizar a todas as escolas a educação emocional. Sem concentração, foco, atenção, é muito difícil atingir os objetivos de aprendizagem. Os alunos precisam de ser “emocionalmente aptos” e, para isso, há instrumentos que as próprias escolas podem (e devem) promover. Aspetos como a meditação, o ioga ou um mindfulness são apenas alguns exemplos.
É necessário trazer a realidade para dentro da sala de aula. É claro que a tecnologia ajudará de sobremaneira este objetivo. Temos de ter pedagogia ativas e atraentes, na ótica de quem aprende. Mais do que “perseguir” o alunos com conhecimentos, interessa fazê-lo entusiasmar-se pelo conhecimento. Interessa-me um ensino que promova a criatividade e em que os alunos não tenham receio de errar, a autonomia, o saber trabalhar em grupo, o saber resolver problemas complexos de forma cooperativa são essenciais.
No processo pedagógico continuar a pôr o foco no aluno. Interessa, mais do que passar apenas conhecimentos, passar valores de cidadania, pois estes são intemporais. Não sabemos qual será o emprego de sonho daqui a 20 anos, mas sabemos que a honestidade, o respeito pelo outro ou o pugnar por uma sociedade mais justa certamente não perderão nunca atualidade.