Estudo internacional alerta para o impacto das alterações climáticas na reciclagem de detritos vegetais em ribeiros
As alterações climáticas, induzidas pelas atividades humanas, têm tido impacto no planeta e na vida de quem por cá passa. Um estudo internacional veio alertar que o desaparecimento de invertebrados terá um grande impacto na decomposição das folhadas, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono.
A investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Verónica Ferreira, participou neste estudo que foi publicado na Biological Review, foi composto por uma equipa de 13 investigadores de sete países, liderada por Kay Yue e Fuzhong Wu (Fujian Normal University, China).
A meta-análise, que permite a “integração de evidência científica publicada para abordar questões a larga escala e até mesmo novas questões que ainda não tenham sido abordadas empiricamente”, conforme explicou Verónica Ferreira, focou-se em avaliar os fatores que controlam o papel dos invertebrados no processo de decomposição de detritos vegetais em ribeiros, nomeadamente através de observações localizadas na América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia Oriental e Oceânia.
A investigadora da FCTUC realçou que os ribeiros, que constituem a maioria das linhas de água numa bacia hidrográfica, “recebem grande quantidade de detritos vegetais produzidos pela vegetação circundante e são estes detritos que vão sustentar em grande parte as cadeias alimentares nestes ecossistemas e também a jusante, incluindo grandes rios e zonas costeiras”.
Um processo fundamental em ribeiros porque sustenta as cadeias alimentares aquáticas e é parte integrante dos ciclos de nutrientes e de carbono a nível global. É especialmente importante compreender quem são os organismos intervenientes neste processo e como é que estes organismos reagem a alterações ambientais, porque alterações na decomposição de detritos vegetais têm implicações nas cadeias alimentares e nos ciclos de nutrientes e de carbono
O estudo concluiu que a presença de invertebrados estimula a decomposição de folhadas em média em 74%, sendo o efeito mais forte quanto maior a densidade, biomassa e diversidade de invertebrados. As alterações climáticas induzidas pelos seres humanos, podem fazer desaparecer estes pequenos animais, tendo um grande impacto na decomposição das folhadas, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono.
Foi possível também contrariar o que se pensava até agora, já que o papel dos invertebrados na decomposição de folhadas é maior na fase inicial do que nas fases intermédias ou avançadas do processo de decomposição. Verónica Ferreira revelou “isto é surpreendente porque tem sido demonstrado que os invertebrados trituradores preferem consumir folhada que já foi colonizada pelos decompositores microbianos que enriquecem a folhada em nutrientes e a tornam mais palatável. No entanto, o maior papel dos invertebrados durante a fase inicial do processo sugere que os invertebrados podem estar menos dependentes da pré-colonização microbiana da folhada do que se pensava”.
Caraterísticas ambientais, como acidez da água, concentração de oxigénio e temperatura, e caraterísticas da folha são igualmente importantes para regular o papel dos invertebrados na decomposição.
De modo a melhorar a descrever e a antecipar os fluxos de carbono, a nível global, após estas conclusões, os investigadores realçaram a importâncias dos invertebrados e sugeriram colocá-lo em modelos gerais de decomposição de detritos vegetais em ribeiros.