Depois de largos tempos de restrições impostas pela pandemia, a cultura está de volta – e o teatro, não é exceção. Durante o mês de março, estarão em exibição oito peças distintas no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
És daquel@s que não abdica de uma boa peça de teatro? Então, vê abaixo a programação.
Quem espera [até dia 5 de março]
Encenação Luís Godinho
“Ninguém gosta de esperar. É uma perda de tempo. As coisas são boas quando acontecem, não quando se espera por elas. E há tantas coisas divertidas à espera de acontecer. Se, ao menos, houvesse uma receita para encher o tempo e acabar com os aborrecimentos. Se não existe ainda, pode ser inventada: é só pesar, misturar, agitar, separar e esperar. Esperar?! Isso é que não!”
Maria Quéri [até dia 6 de março]
De Romeu Costa e Marta Carreiras
“A passagem do prazer à culpa é, muitas vezes, mais rápida do que se deseja. Mas há prazeres que não nos furtamos apenas porque censurados socialmente. Prazeres vividos em segredo. Prazeres não-aceites. E se esses prazeres virem a luz do dia? Em Maráia Quéri, o conflito interno instala-se quando paira sobre o gosto de um investigador em ciências sociais o receio da desonra ou do ridículo. Pode ele ter Mariah Carey como objeto de estudo? Pode ele gostar de Mariah Carey? Neste espetáculo, Romeu Costa e Marta Carreiras mergulham no universo musical da cantora norte-americana, que configurou uma mudança de paradigma no mundo da música dos anos 90, para investigar a liberdade com que nos permitimos gostar de algo. Através da confissão da sua vergonha, o investigador procurará “entendê-la” e entender-se, traçando, neste processo, um retrato de Portugal e da relação do país com o mundo. Numa conferência-performance que pisca o olho às famosas Ted Talks, o cientista fará acompanhar a sua comunicação pública por um conjunto de músicas que distam dos anos noventa até à atualidade, tendo sempre a vida de Mariah Carey como referente.”
Lisbon, my Lisbon [de 3 a 13 março]
Conceito e direção Faustin Linyekula
“Como as ondas que rebentam na costa, que recuam e voltam, múltiplos destinos encalharam em Lisboa, por escolha, acaso ou necessidade… Faustin Linyekula, bailarino e coreógrafo congolês, regressa à capital portuguesa, onde foi o “Artista na Cidade” de 2016, para uma nova criação produzida pelo D. Maria II. A estreia terá lugar no primeiro semestre de 2022, após um workshop/audição a ter lugar em outubro. Nesse momento, Linyekula irá ao encontro de artistas que um dia chegaram a Lisboa, vindos de outro local, para explorar a relação íntima que têm tecido, cada um à sua maneira, com esta cidade.”
Clube dos Poetas Vivos [18 de março]
Coordenação de Teresa Coutinho
“Desde 2016 que Teresa Coutinho recebe, no átrio do Teatro Nacional D. Maria II, poetas para conversas diante do público, pontuadas por leituras feitas por atores e atrizes da casa e artistas convidadas/os. Ainda este ano, o Clube voltou aos encontros presenciais, mas, desta feita, com ponto de encontro alternado: ora na Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, ora no Salão Nobre Ageas, no D. Maria II. Nesta nova temporada, mantém-se o formato itinerante.”
Cornucópia [de 17 a 20 março]
Direção de Jorge Andrade
“Nove artistas de diferentes disciplinas (dança, teatro, música, vídeo, etc.) e de diversas origens culturais respondem ao convite de Jorge Andrade para cruzarem os seus passados familiares ou genéticos, para descobrirem o que os une, tudo o que têm em comum e partilham: migrações, explorações coloniais, possivelmente guerras, mas também acordos de paz e histórias de amor. No contexto de uma festa popular, Cornucópia é uma performance musical e coreográfica global, uma “obra de arte total” feita de hibridismo, uma etnia inventada – uma cornucópia de abundância cultural.”
Esta é a minha história de amor [de 17 de março a 10 de abril]
De André Amálio e Tereza Havlíčková
“Este é um espetáculo de teatro documental em que pessoas reais contam as suas histórias de luta contra o fascismo e o colonialismo português. Esta é a minha história de amor olha para o passado recente de resistência, focando a atenção no amor e nas relações amorosas que nasceram no seio destas lutas. Como é que estas relações foram capazes de sobreviver à perseguição do Estado Novo? E como é que, ao mesmo tempo, estiveram na base da sustentabilidade de combates políticos e militares? Neste espetáculo, tanto o amor como a resistência serão observados de uma forma lata e abrangente. André Amálio e Tereza Havlíčková foram à procura de histórias entre casais, mas também entre pais e filhos, e entre camaradas de luta. Em relação ao combate contra a ditadura e o colonialismo português, investigam testemunhos de pessoas que estiveram na clandestinidade, no exílio, e também daqueles que fizeram parte dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas. A todos estes, somam-se os pequenos, mas preciosos, atos de resistência na vida quotidiana.”
Os Lusíadas como nunca os ouviu [26 de março]
Falação integral da obra de Luís de Camões por António Fonseca
“Os Lusíadas são uma súmula do saber que resistiu ao tempo e que continua a resistir: os factos são históricos ou poético/históricos, mas as suas profundas motivações são de todos os tempos. A precisão, a agudeza e, às vezes, a crueza com que Camões as formula podem deixar-nos o resto da vida a meditar. É também esse o papel da arte. Por isso, este ano, a celebração do Dia Mundial do Teatro, 27 de março, começa 14 horas antes. António Fonseca estará de regresso ao D. Maria II para uma incursão pelo clássico de Camões, que começará às 10h de dia 26 e terminará à meia-noite. O Dia Mundial do Teatro será assim celebrado desde o seu primeiro segundo.”
Orlando [de 31 de março a 9 de abril]
Direção de Albano Jerónimo
“Vivemos tempos bizarros. Numa época que devia ser dada à tolerância, passamos por um período de violência tantas vezes centrado na discriminação. Contudo, o pensamento que se opõe ao poder tem mostrado resiliência e força de combate. A partir do texto Orlando, de Virginia Woolf, Cláudia Lucas Chéu constrói uma narrativa que mistura a ficção da autora britânica com fragmentos da realidade contemporânea. Assim, criar uma nova ficção a partir da junção destes dois elementos é dar vida e também voz a um novo Orlando, numa tentativa de reflexão sobre a dignidade humana, as questões de género e orientação sexual, e sobre as ondas de violência que lhes estão associadas.”