Essa mudança que temos vivido também poderá dever-se ao apoio entre os artistas, com mais colaborações entre eles e algumas até improváveis pelo seu estilo musical…
Em Portugal há muito a tendência de estar sempre a competir, e esta competição virava os músicos uns contra os outros. Como se houvesse equipas e se gostássemos do artista X já estávamos contra o artista Y, sentia-se sempre uma rivalidade, mas a a génese da arte não é esta, e não é assim que deve ser encarada. A arte só cresce com a união, por exemplo, era-nos fisicamente impossível dar 1000 concertos num ano, portanto ainda bem que existem outras bandas, senão haveriam muito menos concertos e oferta cultural. A diversidade é ótima e esta união é muito enriquecedora para todos!
Para vocês é uma responsabilidade refletir a vossa experiência pessoal nas canções que criam e tocam para o público?
Tudo implica responsabilidade. Claro que quando compomos canções, e as apresentamos para o público, temos que ter noção de como as pessoas podem recebê-las e interpretá-las. Por exemplo, temos uma canção sobre o término de uma relação e tivemos pessoas que nos disseram “Esta música fala sobre a minha relação e isto é lindo!” obviamente que não é sobre a relação daquela pessoa, que fala a nossa canção, mas ela ouviu as partes que lhe interessavam, é natural, mas esta já não é uma responsabilidade nossa. A nossa responsabilidade enquanto artistas é garantir que as coisas saem do estúdio exatamente como nós queremos que elas saiam, o melhor possível sempre. Por outro lado, com outro exemplo, a música Diferença fala sobre depressão e problemas muito complexos e que infelizmente, nem sempre acabam da melhor forma. Nessa música em concreto, a nossa responsabilidade é garantir que a canção transmita a motivação e a força que para quem sofre destes problemas, necessita. Aqui a mensagem tem uma responsabilidade acrescida e as palavras devem ser bem calculadas e medidas. Por último, é sempre importante ter a noção do contexto de quem cantou aquela canção, que idade tinha… é importante ser feita esta triagem, antes de qualquer juízo de valor.
No ano passado, o primeiro ano da pandemia, lançaram três temas. Como foi o processo de criação e gravação das músicas em plena pandemia? O lançamento dos temas publicamente como geriram?
Foi um projeto que decidimos abraçar sem qualquer compromisso. Fomos passar umas férias a casa do João no Alentejo, montámos um estúdio na sala e compusemos e gravámos as três músicas. Convidámos alguns amigos para gravarmos o videoclipe e interpretarem uma das canções ao nível da dança e da Língua Gestual. Este é um projeto mais livre e mais simples na sua essência, queríamos que os temas espelhassem o contexto em que foram criados, e a verdade é que este é o projeto mais à toa de sempre.
Daqui a 100 anos como gostariam de ser recordados enquanto músicos e banda portuguesa? Que legado gostariam de deixar?
Gostávamos que a nossa música ainda andasse por aí nessa altura. O nosso objetivo enquanto compositores é que as nossas criações se tornem muito maiores do que nós. Enquanto seres humanos temos uma longevidade limitada, e por isso, pretendemos que as nossas músicas vivam sempre mais do que nós. Por outro lado, também gostava que aquela professora de português que me disse que eu não sabia escrever que fosse obrigada a estudar uma letra minha (risos) e também que os miúdos sejam obrigados a estudar, pelo menos, um dos nossos poemas na escola e que pensem “Isto é genial, é lindo, como é que eles se lembraram disto?” Esta é a nossa ambição máxima (risos)!