Os ÁTOA têm sete anos, mas continuam a ser uma banda orgulhosamente à toa! Lançaram recentemente o tema “Queres ouvir” com um videoclipe bem original. Em plena pandemia lançaram três temas, o projeto mais à toa de sempre.
A vossa banda foi criada em 2014, mas vocês conhecem-se há mais anos. Enquanto grupo e banda como é que se mantêm unidos e como é que mantêm a vossa individualidade?
Apesar de cada um sentir a música de forma individual, tivemos a oportunidade e a mais valia de termos crescido, enquanto músicos juntos e em grupo. Com os ÁTOA a nossa musicalidade foi ficando constantemente mais rica e por termos crescido juntos, não conseguimos imaginar fazer música de outra forma. Por vezes, quando compomos para outros artistas, acabamos por fazê-lo também os três, tal e qual como se tivéssemos a compor para nós próprios. Embora este seja um trabalho de equipa, inicialmente houve a necessidade de nos habituarmos a trabalhar em simultâneo.
Quanto dos ÁTOA que levavam a música como um hobby, está ainda presente no grupo?
Quando estamos a fazer o que gostamos, nunca deixamos de sentir o que fazemos como um hobby. Se encararmos o que fazemos como um trabalho, tudo adquire um sentido mais robótico, por isso, se continuarmos a ver o que fazemos como hobby não perde a sua essência, e o que fazemos não deixa de ser puro e verdadeiro. A verdade é que quando gostamos do que fazemos, nunca trabalhamos no sentido mais estereotipado da palavra, ou seja, associado a obrigações e coisas chatas que não gostamos de fazer. A brincar gostamos de dizer que este é um hobby que nos dá dinheiro. Contudo, não deixa de ser um trabalho que precisa de ser encarado com responsabilidade e que exige esforço, é preciso saber estar em entrevistas, estar nos concertos, lidar com o público, lidar com a pressão, estar em estúdio, conhecer o mercado da música que é muito instável, especialmente para nós que somos os nossos próprios produtores… Não perdemos a capacidade de nos divertir, mas há coisas que dão mais trabalho, não são só rosas.
Nesse sentido, qual é a pior parte do vosso trabalho?
Os pagamentos! (risos) É verdade! Quando se fala em dinheiro é muito chato… Isto é uma coisa cultural, os portugueses não gostam de falar em dinheiro, falamos muito bem e em voz alta, mas quando chegamos ao tema “dinheiro” falamos baixinho, é constrangedor. Não dá para ultrapassar isto. Quando nos tornámos ÁTOA independentes e tivemos de começar a preocupar-nos com burocracias e questões do office relacionadas com dinheiro e gestão, isto enriqueceu-nos enquanto grupo e uniu-nos.
Desde o início que afirmam que o vosso objetivo é cantar em português e fazer com que a vossa música chegue e toque as pessoas. Numa era em que as músicas em inglês já fazem parte do mainstream porquê esse desejo de querer cantar em português?
Foi inato! Quando nos sentámos inicialmente para perceber que tipo de música íamos fazer, tivemos de pensar que tipo de artistas queríamos ser, se íamos ser o artista que canta canções, ou se queríamos ser artistas que enriquecem a cultura do nosso país. Acho que este é o principal motivo para cantarmos em português. Já havia algumas pessoas em Portugal que afirmavam que era super natural e normal cantar em inglês, e eu entendo que é natural ouvir cantar e saber falar em inglês, mas nós somos portugueses e alentejanos, para nós normal é usar expressões alentejanas. É a língua com que nós crescemos e com a qual aprendemos a falar. A primeira música que fez mais sucesso foi a Distância e tinha lá a expressão “Só mudámos a gente” e foi um burburinho enorme, porque estávamos a “matar o português” porque “não é assim que se fala” … Na altura não percebemos o motivo deste burburinho. Quando escrevemos a música, tínhamos 17 anos não nos passava pela cabeça que as pessoas não falavam todas assim. É importante falarmos na nossa língua, é a nossa cultura, é a forma como nos expressamos mais naturalmente! Sem desmérito para os artistas que cantam em inglês e que têm projetos incríveis em inglês, acredito que se os artistas em Portugal, escrevessem mais vezes na língua que falam, iam enriquecer muito mais a nossa cultura, aliás basta analisar as músicas de há sensivelmente quatro anos, onde a aposta em músicas em português cresceu imenso.
Sentem que o paradigma da música em Portugal, aquilo que o público quer e procura ouvir, tem-se vindo a alterar nos últimos anos?
A língua portuguesa começou a ser muito mais escutada e procurada pelo nosso público. O setor pop e da música ligeira e não só, tiveram um investimento superior, o que demonstra esta mudança e ainda bem, é muito bom! Se recuarmos um pouco mais no tempo, ao escutarmos músicas de há 40 e 50 anos, vemos a utilização de frases complexas, palavras “pesadas” e menos “normais” de se ouvir e dizer no dia a dia, e quando novos grupos e artistas começaram a cantar mais em português, com a utilização de palavras do nosso quotidiano, soava-nos estranho. Hoje em dia é normal cantar-se na nossa língua tal como a falamos! As pessoas têm muito mais interesse em escutar e procurar música portuguesa, já não procuram exclusivamente música inglesa ou latina, por isso o apoio aos artistas portugueses é muito maior. Isto deixa-nos muito contentes!