2020 foi um ano diferente e, em particular, a educação foi uma das áreas que mais rapidamente se teve de adaptar aos novos tempos com a suspensão das aulas presenciais. Assim, a Mais Educativa entrevistou João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação, que elucidou sobre alguns temas acerca do novo ano letivo.
Como foi ter de lançar mecanismos, num curto espaço de tempo, para que o ano letivo terminasse?
Já é um chavão dizer que ninguém estava preparado. Estas adaptações foram muito abruptas e requereram uma capacidade de resposta extraordinária, de todos os setores do mundo da educação. Desde a produção de orientações, parcerias, criação de conteúdos digitais, sistemas de proteção para as crianças mais vulneráveis, fornecimento de refeições aos alunos mais carenciados, até à promoção de aulas e estratégias de ensino à distância, por cada professor e centralmente através do #EstudoEmCasa da RTP. O contributo das autarquias foi crucial, bem como a disponibilidade de muitas empresas e organizações que contribuíram para apoiar as escolas.
Apesar de surgir num contexto de pandemia, esta digitalização do ensino acelerou um processo que se esperaria mais demorado? Pretende-se continuar a apostar e adotar estas novas metodologias de ensino e aprendizagem?
Sim. A transição digital das escolas, prevista no programa eleitoral do Partido Socialista e incluída no Programa do Governo, estava em marcha, mas a sua necessidade foi tornada evidente para todos e, a urgência deste contexto fez-nos acelerar todo o processo.
Quais são as expectativas para o ano letivo que agora se inicia? Como acredita que vai ser esta retoma às escolas tendo por base as medidas apresentadas pela DGS?
Voltando a chavões, já sabemos que é o ano letivo mais difícil de que temos memória. A primeira semana já mostrou que é possível retomarmos o funcionamento presencial das escolas. Estar preparado significa saber como atuar e reagir e, na articulação com a DGS, as escolas receberam conjuntos de procedimentos a adotar. É fundamental percebermos que as desigualdades aumentaram muito com a pandemia. Este ano deve ser focado na mitigação destes efeitos e, na garantia de que a escola não encerra para os alunos que mais ficaram para trás.
Este contexto fará com que, obviamente, exista menos interação entre os jovens. Este pode vir a ser um problema no futuro?
O encerramento das escolas tornou mais evidente para todos, um dado em já estamos a trabalhar desde 2016: a importância fundamental do desenvolvimento de competências sociais e emocionais para um crescimento saudável. Tanto a Ordem dos Psicólogos como a Organização Mundial da Saúde têm alertado para a importância do trabalho sobre estas dimensões. Essa também é uma competência da escola.
Muitos foram os jovens que durante os últimos meses ficaram limitados de praticar exercício físico. O que é que se pode esperar da Educação Física e do Desporto Escolar para este ano letivo?
Realizar-se-ão com as adaptações devidas, tendo em conta as circunstâncias.
Também se tem falado muito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Quais foram os motivos que levaram o Ministério a colocá-la como obrigatória?
O cumprimento da Constituição da República e da Lei de Bases do Sistema Educativo, que convocam o Estado para o desenvolvimento de uma educação, que torne os jovens aptos para agir criticamente e em liberdade. Isso consegue-se com informação disponível para todos e, não com uma educação assente em tabus.
Por último, como pensa que deve estar a Educação em Portugal, em 2030?
Penso que os objetivos são partilhados por todos: uma escola que se transforma para, sem descurar um património comum, capacitar para os desafios principais do nosso Planeta e da nossa capacidade de agir informadamente. Uma escola que não serve uma elite, mas que é garantia de que o elevador social funciona. Uma escola que é promotora do bem-estar que só o conhecimento traz.