Com apenas 24 anos, Armando Vale é o atual selecionador da Seleção Portuguesa de Futebol Virtual. O jovem, natural de Seia, conjuga o trabalho com a função de treinador da Seleção Portuguesa de Futebol Virtual.
Apaixonado por futebol virtual desde criança, integrou o projeto do Sporting CP Esports, onde chegou a Team Manager/Treinador.
Deixou o Sporting CP Esports, no início do ano e, em abril, foi convidado pela FPF para orientar funções de selecionador nacional. A experiência foi positiva e, em outubro, recebeu um convite para assumir a equipa portuguesa por toda a temporada.
Armando Vale reconhece a qualidade dos gamers portugueses e promete lutar por títulos.
Mais Educativa (ME) – Quando recebeste o convite para treinar a seleção portuguesa, a terceira melhor do mundo, qual foi a tua reação?
Armando Vale (AV) – Confesso que não fiquei muito surpreso, inicialmente; no entanto, com o passar do tempo tenho vindo cada vez mais a perceber a responsabilidade e a exigência que estecargo traz.
Não tenho medo pela exigência, mas acho que ainda estou a assimilar tudo aquilo que está a acontecer.
É um sentimento único o de poder representar uma scene competitiva que tem muito valor que muitas vezes não consegue ter a oportunidade ou não consegue ser bem trabalho para se mostrar lá fora e acho que sinto uma satisfação ainda maior ao saber que estou a ajudar aquele que é o “meu nicho”.
ME – De que modo é que a FPF eSports apoia a Seleção Nacional de Futebol Virtual?
AV – A FPF Esports tem vindo cada vez mais a proporcionar as condições necessárias para prática de FIFA (e no futuro a PES) a um grande nível. Desde um espaço com todas as condições na cidade do futebol, ajuda em processos burocráticos para certas ausências de trabalho/estudos para alguns casos de jogadores (porque ainda nem todos conseguem ser profissionais), entre muitos outros.
ME – O que é que faz um treinador de futebol virtual? Como prepara os jogadores?
AV – Continuo a fazer algo que fazia antes, que era o de estar atento a todos os valores que existem em Portugal – neste caso, aos jogadores e as suas respetivas participações em competições.
Perceber sempre cada estilo de jogador em jogo e tentar tirar ilações do momento que atravessam para perceber se estão ao melhor nível para representarem a seleção.
Os jogadores são preparados através de estágios antes do momento das competições.
Com treinos e simulações de situações, com tentativas de adaptações entre jogadores e outros estilos de jogo diferentes de maneira a que consiga perceber e criar um perfil de jogador em situações de jogo de 2 contra 2.
Para além disso, conto também, para competições oficiais, trabalhar alguns dados estatísticos adversários de maneira a que se possa trabalhar mais pormenorizadamente todos os aspetos do jogo.
ME – Como são selecionados os jogadores que compõem a equipa portuguesa?
AV – À semelhança do que disse anteriormente, são selecionados mediante vários fatores.
Primeiro gostava de deixar claro que as escolhas, ainda que tenham que seguir algumas orientações, acho que não devem ser sempre só por resultados. Temos o caso concreto dos jogadores que participaram na enations CUP e que foram os únicos representantes portugueses na final do campeonato do mundo de FIFA. O RastaArtur e o Tuga810 venceram uma percentagem muito pequena dos torneios em que participaram em Portugal. Acho que isso mostra o valor que temos cá dentro, no entanto, são sem dúvida, talvez os melhores jogadores para actualmente representarem Portugal em competições internacionais.
A escolha vai ser sempre difícil e acima de tudo complicada para quem fica de fora, no entanto, não há lugar para todos e tento sempre ao máximo alinhar o momento de forma dos jogadores com alguns resultados que tenham obtido num passado recente. Porque o próprio jogo varia muito ao longo do ano e é muito complicado ser-se estável.
É ponto assente em Portugal que, realizandose o mesmo torneio 10 vezes, com os mesmo participantes, teríamos pelo menos 7 vencedores diferentes para cada um desses torneios.
Com isto também não quer dizer que vá ter que deixar sempre os mesmos jogadores de fora ou que a porta ficará fechada após algum jogador não estar presente nos convocados. Antes pelo contrário. Acho que irei ter várias dores de cabeça ao longo da época. Mas esta até é das boas.
“Gostava de conseguir arrecadar um título numa primeira época, sou sincero, no entanto, prefiro prometer trabalho a resultados.”
ME – Atualmente, quem são esses jogadores?
AV – Actualmente em Portugal existe um grande leque de jogadores a um nível muito bom. Os últimos convocados para a seleção de FIFA 20 foram o RastaArtur, o Tuga810, o BrunoRato e o JOliveira10. No entanto existem ainda nomes como os do SCPDiogo (jogador de XBOX), Gouvy, Troppez, Somosnos, RunRun, Tiago10slb, Hugoboss, Dani7sporting, Duarte que estão na calha e a qualquer momento podem representar Portugal. Assim como outros poderão surgir (ou até mesmo algum que me possa estar a escapar e deveria estar neste lote) para ocupar uma vaga das disponíveis para cada momento de competição.
Existem ainda outros jogadores como é o caso do Peixoto, cuja situação ainda não está totalmente resolvida, uma vez que tendo dupla nacionalidade e por ter sido chamado a uma pré-seleção francesa, temos que perceber se está apto ou não para jogar pela seleção portuguesa e se os regulamentos das competições assim o permitem. Mas seria óptimo poder contar com mais um jogador de nível mundial na nossa seleção.
Para além do FIFA, existem ainda vários nomes no PES que chamam à atenção, desde o Christopher, o Hugo Figueiredo, o Bruno Miguel, o Miguel Lopes, ao Barboza, entre muitos outros (e peço desculpa aqueles cujo nome me possa estar a falhar)-
ME – O que é necessário para se ser um bom jogador nesta modalidade?
VA – Acho que o fundamental é ter uma capacidade de concentração e resistência mental muito forte, alinhada a uma destreza e conhecimento de jogo que permita colocar em prática as mecânicas certas no momento certo.
Mas a destacar, destacaria sempre a resistência dado as paragens e durações de torneios que, muitas das vezes, não têm segundas oportunidades.
ME – Há qualidade no futebol virtual português?
VA – Há bastante!
No PES acho que (apesar de ter uma expressão um bocadinho menor) sempre tivemos nomes junto dos melhores, como os referidos anteriormente.
No FIFA, acho que estamos a crescer cada vez mais e estamos todos a remar juntos para o lado certo. Estão cada vez mais a ser quebradas barreiras e, muitas delas, apenas mentais.
Há dois anos era impossível alguém imaginar um português num circuito mundial de FIFA, por exemplo. Só na época transata conseguimos 6! Incluindo o Peixoto para além do Tuga810, RastaArtur, Bruno Rato, Gouvy e o SCPDiogo.
Acho que não existe melhor resposta que esta.
ME – Como avalias a prestação da equipa portuguesa no International Challenge, decorrido a 25 de outubro?
VA – Acho que conseguimos bons jogos. Há alguns aspetos a melhorar com alguns jogadores e momentos de jogo, no entanto, conseguir dois empates contra seleções como a França (campeã de seleções em título) e Alemanha (que conta nos seus jogadores o actual campeão do mundo) não deixa de ser satisfatório.
ME – A seleção portuguesa tem possibilidade de vencer a FIFA eNations Cup e a EUFA eEuro 2020?
VA – É difícil prometer títulos, o trabalho vai acontecer certamente, no entanto, uma seleção que surge num top3 numa primeira edição da FIFA Enations CUP e jogadores que, do lado do PES, conseguem das melhores classificações a nível mundial, acho que temos possibilidades de lutar por títulos.
ME – Até onde pode chegar a seleção portuguesa de futebol virtual?
VA – Espero que continue a crescer e que se mantenha na vanguarda do futebol virtual a nível mundial.
A nível de momentos, acredito que vamos ter grandes momentos.
Gostava de conseguir arrecadar um título numa primeira época, sou sincero, no entanto, prefiro prometer trabalho a resultados. Se ele for bem feito acredito que andaremos lá perto pelo menos.
[Imagem: FPF eSports/Cedidas pelo entrevistado]