Guilherme Alface, João Direitinho e Mário Monginho: estes três miúdos alentejanos são pano para mangas! Depois de correrem as salas e os palcos de norte a sul do país, os ÁTOA têm uma grande novidade – que está mesmo a sair do forno… Vem aí um novo álbum!
Tudo começou há quase 5 anos atrás.
Como surgem os ÁTOA?
Guilherme: Somos todos da mesma cidade – Évora – e nascemos no mesmo ano! Frequentámos as mesmas escolas e já somos amigos há bastante tempo.
João: Tinha 16 anos quando comecei a cantar em casas de fados. O Mário sempre teve projetos com mais pessoal e dava concertos em bares e cafés, o Gui gravava alguns covers. Eu tinha composto uma música (a Cinco, que faz parte do nosso primeiro álbum, A Idade dos Inquietos). Fomos gravá-la a estúdio e mostrámos outras, que já tínhamos também. Começamos a perceber que isto podia ter pernas para andar e decidimos partilhar com o pessoal. A malta gostou das músicas e começou a ouvir.
Mário: Na altura usávamos a Tradiio, uma espécie de YouTube. Os artistas independentes metiam lá as suas músicas e as pessoas ouviam e investiam, com moedas virtuais, naquelas que acreditavam mais. Foi uma forma de alguns artistas irem crescendo. Se eu apostasse numa música e ela subisse posições, além de receber esse investimento de volta podia dobrá-lo ou convertê-lo em prémios (como bilhetes para festivais, por exemplo).
Participámos num desafio chamado Semana Pop e foi através dele que a Universal nos encontrou. Eles faziam uma parceria com um artista que estivesse nos 50 artistas com mais sucesso na plataforma. Prometiam editar uma música de um deles. Não necessariamente do primeiro ou segundo, mas do artista que eles escolhessem. É importante ressalvar que não ganhámos um concurso: a editora ouviu-nos e quis conhecer-nos.
E o vosso interesse individual pela música, quando surgiu?
G: Desde os 6 anos que comecei a aprender piano. A minha mãe tem até ao quinta grau deste instrumento, mas nunca me influenciou. Só que tinha um piano em casa e ganhei aquela vontade de ir martelar um bocadinho. Estive no conservatório até aos 16.
J: Viajei por vários instrumentos. Apaixonei-me por algumas bandas e artistas. Fui para uma banda filarmónica onde toquei clarinete e saxofone – que se costuma dizer que são instrumentos de rapariga (risos). No conservatório foquei-me na guitarra.
M: O meu percurso é diferente. Havia uma guitarra lá por casa, toda desafinada… De vez em quando até pegava nela e tentava tocar umas coisas, mas sem grande interesse. Por volta dos meu 14 anos, havia uma rapariga na escola que tocava muito bem… Das melhores guitarristas que já ouvi! Eu já me vestia assim mais à rock e ela acreditava piamente que eu tocava muito bem… Então eu pensei “Não posso dar parte fraca agora” (Risos). Decidi aprender a tocar. Acabei por me apaixonar pela guitarra e rapidamente passei para a elétrica.
G: A tal formação do “quarto às escuras”…
M: Eu queria ser muito rápido a aprender e foi aí que surgiu o método”quarto às escuras”, em que apagava as luzes todas, metia as músicas a dar e tentava tocar, para decorar o braço da guitarra. Comigo funcionou, fica a dica!A minha mãe ficava muito zangada porque eu tocava fora de horas e muito tempo seguido! O João foi a primeira pessoa que me deu a ideia de tocar baixo, e isso nunca me saiu da cabeça. Acabei por comprar um, correu bem e fiquei como baixista dos ÁTOA.
“Se isto ao início era à toa,
cada vez vai sendo menos.”
João Direitinho
Quando começaram, quem eram as vossas influências musicais?
G: Ouvia Miguel Araújo, Azeitonas, Ornatos Violeta. Muita música portuguesa. Isso coincidiu com uma das decisões que tomámos, desde o início, para este projeto: entrar com originais e descartar a opção dos covers. “Se isto ao início era à toa, cada vez vai sendo menos.” João Direitinho
M: Pensámos que, se começassemos com originais, não íamos dar abertura a ser comparados. Já é algo dos ÁTOA, não estamos a cantar músicas de outras pessoas. De todas as línguas, o português é aquela na qual nos expressamos melhor.
J: Se nos passar um pensamento pela cabeça, ele passa em português.Pensamos naquelas frases, naquelas ideias, como “Mais vale tarde do que nunca” e depois percebemos que podiam dar uma boa música. Se fizermos algo que não seja na nossa língua, é porque temos um convidado internacional ou que se prefira expressar num outro idioma.
E fora do mundo da música, quem tinham como maior inspiração?
J: O Cristiano Ronaldo (risos). Fora de brincadeiras, comecei muito cedo a ler Harry Potter e a criatividade da J.K.Rowling, a sua aquela capacidade de imaginar… Influenciou-me não só a querer contar letras, mas a cantar histórias. Temos muitas histórias cantadas – como o Nerd da Faculdade, a Miúda do Terceiro Andar… Perguntam-nos muitas vezes se estas personagens existem mesmo, mas a verdade é que não: são histórias que criamos e desenvolvemos.
M: Tive duas inspirações muito grandes, ambos músicos. Uma delas é o Angus Young dos AC/DC. Muitos não sabem a sua história mas vale a pena conhecer, porque é muito engraçado. Ele veste-se para os concertos, ainda hoje, como se fosse um miúdo da escola. Isto tem uma explicação: no início, ele saía das aulas e ia para os concertos, não tinha tempo de mudar de roupa. Tocava em segredo, porque a mãe não concordava. Mas comprometeu-se a continuar a estudar e lutou pelo que queria, ao mesmo tempo.O vocalista dos Sum 41 marcou-me bastante, também. Passou por tantos problemas na vida, esteve internado e muito mal de saúde. Teve de começar do zero: voltar a aprender a cantar, a tocar guitarra, a tocar piano… Todo o reportório que ele próprio criou! É uma história de superação que me enche de motivação e vontade de ser melhor.
Se pudessem escolher um artista para participar numa música vossa, quem seria?
J: O Fernando Daniel. É um artista com quem temos uma grande ligação pessoal e profissional e que admiramos imenso.
G: Shawn Mendes, Charlie Puth…
M: Red Hot Chili Peppers!
G. Aí eu desmaiava, não conseguia. Sempre fui um grande fã.
M: Ou os Jonas Brothers, que agora voltaram! Fazíamos uma battle, três para três.
Andaram de norte a sul do país, em tour. Notam muita diferença entre os públicos das diferentes regiões?
M: Somos um país pequeno, mas tão rico em cultura. De 10 em 10 quilómetros, até menos, nota-se uma imensa diferença na maneira de falar, de estar, de reagir. É muito engraçado.
G: A malta do Porto é muito expressiva. Se o espetáculo for mau, rapidamente vão vaiar e desistir. Há outras regiões que são mais “braço trancado”, é difícil fazê-los descolar a mão. Há uns anos atrás, a malta só queria ouvir dj’s, house… A música ao vivo perdeu-se um pouco. Agora, esse panorama está a mudar e isso facilita na expressão das pessoas. A partir do momento em que têm interesse, vão com uma mentalidade mais aberta do que se fossem a pensar “São as festas da terrinha e vou ver a atuação porque pronto, não há mais nada para fazer.”
M: Somos alentejanos e, tocando para um público alentejano, sabemos como vão reagir aos concertos. Chegamos lá e as pessoas estão de cara fechada. Sabemos que damos um grande concerto quando, do meio para a frente, o público já mostra que está a gostar. É preciso ganhar a confiança deles.
“Pensar em grande é tão
melhor do que pensar pequeno.
Se pensares grande, vais
automaticamente alcançando
várias metas mais pequenas.”
Guilherme Alface
Sentem uma grande evolução desde o início da banda? O que mais mudou?
G: A minha barba! (risos)
J: A nossa maneira de estar e a nossa personalidade mudou, claro. Se isto ao início era à toa, cada vez vai sendo menos. Cada vez é tudo mais organizado e alinhado, a nossa maturidade profissional está completamente diferente. Assinámos contrato com 18 anos! Aliás tivemos que esperar que dois elementos da banda fizessem os 18 anos para podermos assinar!
Quando éramos só nós e marcávamos um ensaio, se não começasse às 16, começava às 18. Hoje já somos capazes de um dia antes, estar a preparar os ensaios.
G: Quando entrámos neste mundo, não tínhamos noção de nada. Logísticas de palco, entrevistas, era tudo muito novo… A primeira vez que fomos à televisão foi uma pilha de nervos! Agora já é super natural. Toda a evolução da banda deve-se muito à nossa própria evolução, a irmos percebendo como este mundo funciona e adaptarmo-nos.
J: Sempre tivemos boas equipas. Uma editora que nos ajuda, uma boa equipa de estrada, produtores com quem nos fomos cruzando. Todos nos deram apoio e nos aconselharam. Até outras bandas e músicos portugueses, o que é incrível. Se não tivéssemos essa ajuda, podíamos ter caído – porque subimos muito rapidamente no início.
Quando abriram o concerto da Jessie J, como foi?
G: Foi a maior maluqueira que fizemos. Tínhamos lançado o single “Falar a dois” em março. Tivemos uma proposta para, em junho, ir fazer a abertura do concerto da Jessie J, no MEO Arena. A Universal disse que ia ser incrível para nós, que íamos tocar para 8 mil pessoas. Nós nem sabíamos pisar um palco! Foi o nosso quarto ou quinto concerto. Ainda hoje há malta que nos diz que nos começou a ouvir por causa dessa abertura.
M: Quando penso nisso, bate-me um pouco a vergonha. Meu Deus, aquilo tem de ter corrido mal… (risos) Mas na altura fes sentido, atenção! Se fizéssemos aquilo hoje, a banda acabava amanhã. Mas, tendo em conta o contexto, foi bom!Há que relativizar: éramos putos. Nestes últimos cinco anos, são quase 300 concertos de experiência!
Estão ansiosos para que chegue o vosso álbum novo?
G: Sim, estávamos cerca de nove meses sem lançar nada.
J: Uma gravidez.
G: Uma espécie de gravidez de onde resulta, agora, um bonito bebé. Quisemos parar para perceber como funcionava a estrada, o público, nós mesmos. Os gostos vão mudando e decidimos juntar-nos em estúdio para perceber o que fazia sentido. A partir daí, pusemos mãos-à-obra. Foram muitos dias e noites de trabalho, que agora estão prestes a dar frutos. Estamos na fase final de preparação para o álbum sair.
M: Sempre composemos as nossas próprias músicas, mas tudo que era produção e vídeos não era tanto connosco – embora tivesse a nossa aprovação. Isso foi mudando: fomos ganhando autonomia, escrevendo os nossos próprios vídeos. Se antes já era muito nosso, agora é 100% nosso. Se não gostarem, é porque não gostam mesmo de nós!
Existe alguém mais pro em alguma área ou é um grande trabalho de equipa?
M: Já foi mais assim, embora o Guilherme continua a ser o mais pro nas melodias e a produzir e o João seja mais de escrever letras. O nosso trabalho acaba por ser como um bolo: o Guilherme faz a base, o João trata do recheio e eu da cobertura.
Como acham que os fãs vão receber este trabalho?
G: Estamos a ter um feedback muito positivo. Conseguimos com o
Hoje, um milhão de views no Youtube num mês. Isso foi uma incrível recompensa para nós.
J: O Pensa Positivo também está a ter bastantes visualizações. Tem uma malha mais rock, pop. Está nos vídeos mais populares do Youtube e é um presente que quisemos oferecer aos nossos fãs, não foi sequer feito para ser um single! É uma música com uma mensagem de motivação e persistência.
G: Gostávamos mesmo que as pessoas se interessassem pelo álbum e que o ouvissem, porque tudo o que ali está é nosso, somos nós.
Daqui a um ano, onde se vêm?
G: Eu quero estar no Coliseu!
M: Eu também, a ver um concerto! (risos)
G: Mas é verdade! Com 15 anos, também nunca sonhávamos vir a tocar para 12 mil pessoas. E a verdade é que já o fizemos. Pensar em grande é tão melhor do que pensar em pequeno. Se pensarmos grande, vais automaticamente alcançando várias metas mais pequenas.
J: A música tem esse lado bonito e assustador de ser imprevisível. Por isso sim, grandes palcos!
“O nosso trabalho acaba por ser como
um bolo: o Guilherme faz a base, o João
trata do recheio e eu da cobertura.“
Mário Monginho
[Foto: Cedida pelos entrevistados]