A pergunta do milhão: ‘Tás bem?
Sim, sim, estou bem! Eu e o Lhast estamos bem, a minha equipa está bem, está tudo a correr pelo melhor.
Foi um longo caminho até chegar ao “Meio”?
Foi. Um longo caminho que ainda não acabou. O meio pode ser sempre apurado. Já entrei na música há quase dez anos, lancei o meu primeiro som sem qualquer expectativa quando ainda estava na escola secundária. Foi um caminho longo, principalmente a nível interno, até atingir o mind state que tenho neste álbum. Foi trabalhoso, custou mas valeu a pena.
Foi uma estrada acidentada ou uma reta sem curvas?
Acidentada, principalmente a nível interno. A idade não diz muito, até porque num ano podes crescer mais do que em cinco anos. Foi um pouco isso que aconteceu.
Os acidentes que surgiram pelo caminho – situações que me aconteceram ou que fiz a outros – foram, todos eles, fatores que me fizeram atualizar a minha mentalidade perante a vida.
Seria mau que o meu primeiro som dissesse uma cena e agora, passado todo este tempo, os meus sons estarem a dizer o mesmo.
Pode nem se chamar crescimento: pode ser uma mudança de direção, para a esquerda ou para a direita. Desde que haja uma dinâmica, um reconhecimento de que eu era diferente – é isso que importa. Gosto que os meus trabalhos tenham esse reflexo e mostrem o que estou a passar.
Em que medida sentes que essa mudança aconteceu?
Cresci como artista. As minhas preocupações artísticas são, neste momento, mais vastas. Tenho uma preocupação maior a nível de som, de estética visual, de interação com o que está à volta da música. Sinto que estou, a nível artístico, mais completo. As minhas preocupações são mais abrangentes: a nível cénico, a nível do conceito do álbum, do seu físico, dos videoclipes.
No que diz respeito ao estúdio, estive em Londres a estudar e isso permitiu-me conhecer pessoas na indústria do som – que me fizeram elevar a minha música a uma qualidade mais fixe. O céu é o limite.
Além disso, estudar fora deu-te mais skills técnicos…
Estudar fora deu-me mais noções da parte técnica, claro. Antes, era só eu, o microfone e o computador. Agora já entendi que há muitos processos até ter aquele som que quero atingir. Consegui montar o meu estúdio, arranjei uma boa equipa técnica, sinto-me mais completo artisticamente.
Acima de tudo, valeu muito pela experiência de viver em Londres, uma das capitais da música. Estar junto a pessoas com backgrounds musicais muito diferentes. Aprendi muito. Estar fora da minha matriz fez-me crescer muito internamente, obrigou-me a sair da minha zona de conforto. É confortável estar aqui, junto de quem gosto, com as minhas rotinas que já faço automaticamente, mas também foi bom sair e poder trazer algo novo.
#FFFFFF: O nome do álbum tem algum significado especial?
Tenho, neste álbum, muita inspiração religiosa e divina. O branco relaciona-se com a batina, com os mantos. É a cor da pureza, do sagrado. É também a tela sem nada, que mostra que não vejo a preto e branco mas sim com todas as cores do espectro. O F também ganhou um significado importante para mim, porque é a inicial de vários valores importantes na minha vida – por exemplo, família e fé. E o nome da minha mãe, Fátima.
Tudo o que eu faço tem migalhas atrás, tipo Hansel e Gretel.
Quanto ao teu nome artístico: porquê ProfJam?
Quando era puto, via uma novela em que havia um personagem chamado Jamanta. O primeiro episódio começava com um atentado terrorista num centro comercial. A partir daí, esse personagem – que tinha problemas mentais – repetia sempre a mesma frase, durante a novela inteira! Só dizia “Jamanta não fez bum no shop”. Fosse o que fosse que lhe perguntassem, era sempre a mesma resposta.
No final da história, ele não tinha problemas mentais nenhuns: era louco, conseguiu enganar toda a gente durante imenso tempo e foi mesmo ele o responsável pelo atentado no shopping. Era um evil genius! Achei esta personagem fascinante. A partir daí, fiquei Jamanta. Era a minha alcunha na escola.
Quando comecei a fazer música, quis ter um nome fixe. Abreviei Jamanta para Jam, que lembra música e jam sessions. Depois precisava de um título, claro! Tal como o Dr Dre! Se ele pode ser Doutor, eu sou Professor. Assim uma espécie de hierarquia, para dar um ar autoritário. De Professor Jamanta para ProfJam, foi assim.
Este álbum tem algumas lições?
Sim, este álbum tem várias frases para pensar ou inspirar. Se a pessoa não estiver recetiva a pensar sobre determinado assunto, não vale a pena estarmos a falar sobre ele. Tem de haver um equilíbrio entre o belo, filosoficamente falando, e a razão.
Não digo, em momento algum “É assim, têm de pensar assim”. É mais uma espécie de “Olha, eu vi isto assim e estou a tentar mostrar, depois tu é que vês se pegas ou não!”.
A minha missão é mostrar que “A mensagem é que a mensagem és tu que a fazes”. Eu estou a dar a minha!
Sou o meu aluno e deixo o meu sumário para ti, é só uma parte do que estou a aprender na vida. Estou a dar um sumário nas minhas letras e a tentar inspirar quem ouve a ser o seu próprio professor. Estou a ensinar-te a ensinares-te.
Consideras-te uma pessoa crente?
SIm, considero. Porque crença é o contrário de certeza. Para teres fé, não podes ter certeza – ou não será uma fé. Tenho fé em que existe algo maior. Se há um design, há um designer: é a minha maneira de pensar. Se existe uma criação, a própria lógica pressupõe que exista um criador. Isto não deixa de ser uma fé. Sou crente, acredito, tenho fé.
Acreditas que há algo acima de nós. Tentas, nas tuas músicas, chegar a esse fundo e não ficar apenas pelo supérfluo?
Já houve uma fase em que batalhei muito contra o supérfluo, mas depois percebi que não é preciso lutar contra ele: há que abraçar que ele existe, mas mostrar que também há ali algo mais.
Por exemplo, se eu for dar uma aula ou assistir a uma missa, não vou mal vestido… Isto pode parecer supérfluo mas ter um significado mais profundo.
Cheguei a pensar que estar na rua todo maltrapilho significava mostrar que não era superficial. Mas não! Estar assim seria posicionar-me no oposto contrário e dar importância ao que é, supostamente, superficial!
Isto é uma questão que nos engole. Ou somos anti ou simplesmente aceitamos que o superficial existe e o casamos com algo interno, que o complemente e faça sentido.
Falas da humildade face ao conhecimento, mas também deves ter algumas certezas…
As certezas filosóficas, claro. O tal “Só sei que nada sei!”. Sei que estou a pensar agora, mas não tenho como ter certezas acerca do que se está a passar à minha volta. Pensar a fundo nisto é uma questão interessante. Radicalmente falando, não tenho a certeza de nada a não ser que esta ilusão de que estou aqui existe.
Falando de certezas “com c pequeno”, tenho algumas, claro. Não estou para aqui a navegar na maionese.
O que toca mais, neste momento, na tua playlist?
Muita música internacional. Estou sempre a par do que vai saindo. Não costumo aprofundar muito porque não quero, nem que seja inconscientemente, ter a mínima inclinação para me colar demasiado a elas. Ouço muito hip hop: Drake, J.Cole, Kendrick, Future… Um pouco de tudo, do mais ignorante ao mais consciente.
Como foi o teu processo criativo para este álbum?
Foi soft. Na altura até estava sem estúdio, andava só com o meu computador de um lado para o outro. Tinha alguns beats e ideias e, às tantas, vi que tinha algumas sugestões do Lhast e que tudo isto não cabia numa música toda. Eu e o Lhast fomos criando uma relação, tanto profissional como de amizade. O apreço pelo trabalho um do outro é recíproco. O álbum foi-se formando, aparecendo – e estamos ambos muito contentes com o resultado.
Quanto ao futuro, o que nos podes revelar?
O álbum vai sair a 8 de março. Nos planos tenho vários palcos e colaborações com outros artistas… Acima de tudo, é trabalhar para não sair do “meio”. Continuar com o pé no acelerador. Nunca forçar nada, porque não gosto. Prefiro ser paciente! Quem vai a sprintar tem mais hipóteses de tropeçar… Estou na corrida, mas parece um passeio. Slow but Steady!