Em 1945, Orwell escreveu uma fábula à qual chamou Animal Farm (A Quinta dos Animais). Esta história conta com protagonistas muito especiais e a ação tem lugar numa quinta onde são estes quem assume o comando. Embora aqui não existam só da quinta – já que o elefante, a girafa e o gorila nunca teriam condições ou estábulo à sua escala (para não falar da confusão que daí se ia originar!) – também são os animais as estrelas desta exposição. Animal Inside Out está na Cordoaria Nacional, até ao dia 23 setembro, para mostrar que – como já escrevia Orwell – “Os animais são todos iguais. Mas uns são mais iguais do que outros”
Tão diferentes, tão iguais: da minúscula rã ao enorme elefante
Mal entramos nesta Animal Inside Out, é impossível ficarmos indiferentes ao anfitrião que nos recebe e que até parece dar-nos as boas vindas: um cão em posição atlética. Tem um frisbee na boca e conseguimos imaginá-lo a correr, ganhar balanço e erguer as patas para executar este salto perfeito. É que este melhor amigo do Homem é igual a todos os outros (ao dos nossos vizinhos, ao que vemos a passear no parque, ao que está no canil, até à Lassie, que foi ao espaço!), mas tem uma diferença que salta à vista: está completamente despido de pele e é o seu interior, bem por debaixo da pele, que vemos.
A exposição está dividida por sistemas biológicos e conta com seis grandes áreas: uma dedicada ao sistema locomotivo; outra ao tão enigmático sistema nervoso; muitos pulmões de várias espécies na zona do aparelho respiratório; corações grandes e outros mais pequeninos na sala do sistema cardiovascular; muitos estômagos e quilómetros de intestino na área que põe a nu o aparelho digestivo… E curiosidade incríveis a aprender na zona do aparelho urinário/ reprodutor.
O que esconde a pele de uma girafa, de um urso, de um gorila ou de um tubarão? O frágil e bonito labirinto intrincado de vasos sanguíneos – que parecem linhas, daquelas que as nossas avós usam para coser à máquina -, os orgãos que tocam bem afinados e compõem os vários sistemas, os músculos de um tom vermelho inconfundível e que servem para muito mais do que ganhar ao braço de ferro, o esqueleto branquinho, os nervos (não confundir com o nervoso miudinho), as células cinzentas da nossa central de informação, o coração que pode ser pequeno ou gigantesco – como o do touro (que tem cinco vezes o tamanho do nosso, mas não entremos em debates tauromáquicos…).
No final de contas, a conclusão é simples: existem necessidades que todos temos em comum para sobreviver – e o oxigénio é só uma pequena amostra delas. Não quer isso dizer que, por mais diferentes que sejamos, temos grandes semelhanças na estrutura anatómica? Que é como quem diz, em palavras mais fáceis: Não são os animais como nós?
Curioso, muito curioso…
Depois de vermos o enorme urso pardo, com uns peitorais que assustam qualquer um, pensamos que nada nos vai conseguir espantar mais. No entanto, basta olharmos um pouco mais além: que pata enorme é aquela, na sala lá do fundo? As opiniões de quem ainda vê de longe dividem-se entre uma criatura mitológica ou um mamute, mas nenhuma delas está correta. É mesmo um elefante, e parece ainda maior quando o vemos de perto.
Estes momentos de surpresa ao longo do percurso não são raros: o nosso queixo ganha vontade própria e cai sozinho. Ficam abaixo alguns exemplos das questões frequentes que foram surgindo, seguidas das suas curiosas respostas:
“Mas o que é isto, uma alcatifa?” (Não, é um fígado gordo de um tubarão e ajuda-o a flutuar!)
“Este coração é humano? Tenho a certeza absoluta!” (Não, é de uma rena.)
“De que animal é este cérebro gigante?” (É de um elefante! E nem é assim tão grande, se o compararmos com o resto do seu corpo.)
“Olha, um feto de um cão! Este não engana, não se vê logo pelas orelhas?” (Boa tentativa, mas é uma rena.)
Afinal, onde está a magia por detrás destes espécimes?
A técnica que permite que que os animais permaneçam perfeitamente conservados chama-se plastinação e foi inventada por Gunther von Hagens, em 1977. Consiste num processo de aspiração que troca a água dos tecidos por um polímero, como borracha de silicone ou epóxi. Isto faz com que cada célula que contenha água fique preenchida com o polímero. Assim, o animal fica completamente seco e sem maus cheiros. Ah! E dura para sempre.
O legado de Animals Inside Out
Esta exposição é uma espécie de safari educativo e anatómico – que, embora não nos leve à selva nem ao fundo do mar, nos faz embarcar numa viagem incrível de descoberta pelo que está escondido sob a pele, pelos, penas ou escamas dos animais.
Um autêntico hino à preservação e conservação da vida selvagem, Animal Inside Out permite-nos adquirir mais consciência da importância do bem estar animal e compreender as verdadeiras capacidades que um corpo concentra em si! Somos mesmo muito mais do que aparentamos! Seja para os mais novos ou para os mais velhos, esta exposição é uma grande de lição de vida – e sobre ela!
[Fotos: Inês Pereira e Ricardo Galvão]